18/01/2020
Na primeira reunião após o Ato em Defesa da Soberania Nacional, realizado em 12 de dezembro passado, noticiado aqui em ABI reúne centenas de pessoas pela soberania, representantes das entidades que compõem a Frente Estadual em Defesa da Petrobrás, da Soberania Nacional e do Desenvolvimento discutiram, na quarta-feira (15/01), na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como dar prosseguimento à mobilização nacional em defesa da soberania e das empresas estatais.
Organizado pela ABI, Ordem dos Advogados do Brasil, Clube de Engenharia, Sindicatos dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro, centrais sindicais e movimentos da sociedade civil, o ato foi a primeira de uma série de iniciativas de mobilização da sociedade contra a privatização da Petrobrás e de demais empresas estatais.
Presidida por Olímpio Alves dos Santos, presidente do Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro, a reunião de quarta-feira, no auditório Oscar Guanabarino, teve como foco a divulgação das propostas que mobilizaram essa Frente para a opinião pública.
Para o jornalista José Augusto Ribeiro, que abriu o debate, a questão dos preços abusivos do combustível e do gás de cozinha e demais bens de consumo devem ser o gancho para atingir o grande público.
“A causa da Petrobrás, por si só, como patrimônio do Brasil, não é suficiente para atingir a dona de casa, que paga 80 reais em um botijão de gás, ou para o motorista de taxi e aplicativos, que veem o preço do combustível aumentar e acham que a responsabilidade é da Petrobrás. A população deve ser nossa aliada. No atual mundo das redes sociais e das celebridades, sugiro que alguém de peso, como a atriz Fernanda Montenegro, por exemplo, ou outra atriz, como Patrícia Pilar, falando nas suas redes sociais e na TV Comunitária: “Por que defender a Petrobrás?”.
O presidente da ABI Paulo Jeronimo lembrou que o atual contexto socioeconômico é muito desfavorável e o jornalismo é muito diferente dos tempos em que a maioria dos jornalistas ali presentes viveu. Com um a taxa de desemprego muito grande, retrocessos sociais e grande violência urbana gerada pelas disparidades sociais, ele vê parte da juventude defender ideais de extrema direita nas redes sociais.
“Precisamos pensar em como furar o bloqueio das redações. As formas de atingir a população mudaram. Não é mais através de passeatas, comícios sindicais e bandeiras de partidos estendidas, temos as redes sociais, novas formas de articulações. Conseguir espaço é muito difícil já que o desmonte é apoiado pela grande mídia”, disse o presidente da ABI.
Para o presidente do Clube de Engenharia Pedro Celestino a questão da democracia é central por estar ligada com o projeto de desmonte do patrimônio público.
“Temos que buscar a luta contra o autoritarismo, que vem fazendo regredir os avanços sociais dos últimos oito anos no País. Conquistas que estão sendo desmontadas sob a nossa complacência. A sociedade quer saúde, educação e empregos, venha de onde vier”.
Clóvis Nascimento, da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), defende a união das empresas públicas e ressaltou o sucateamento da Cedae, feito “deliberadamente para justificar a sua privatização” e defende a adesão das empresas públicas na Frente.
“Cada estatal deve discutir o que fazer; precisamos ter esses aliados e temos que enfrentar o bolsonarismo, que, afinal de contas, surgiu aqui no Rio. A cada mês uma empresa conveniada à Petrobrás é vendida para o exterior, acabam os empregos. Os metalúrgicos estão vendendo laranjas em bancas nas ruas. A Petrobrás é fundamental na geração de empregos. Mas o cenário de calamidade é geral, também na saúde e na educação”.
Olímpio Alves dos Santos defendeu a criação de braços operacionais, que envolvem a convocação de várias lideranças em outros setores da sociedade. Júlio Villas Boas, representante do Conselho Regional de engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), acredita que o apoio de outras empresas públicas ameaçadas, como a Casa da Moeda e a Cedae, seja fundamental nesse momento da crise hídrica no Estado do Rio de Janeiro.
Charles Ferreira, representante da União Nacional dos Estudantes, falou sobre o sucateamento da saúde, educação, do desmantelamento da Petrobras e outras empresas, que geram cada vez mais desemprego, também no setor têxtil, agrícola, não só na cidade do Rio, mas em outros municípios como Macaé, São Gonçalo e Angra dos Reis. “Temos que realizar atos e ações em todo o Estado para dialogar com a população, que sente na pele, no dia-a-dia, as consequências desse desmonte que estamos discutindo aqui”.
O sindicalista Mário Porto, da Central dos Trabalhadores do Brasil do Rio, também acredita que o movimento deva focar na questão da privatização da Cedae e mobilizar os funcionários.
O jornalista Beto Almeida complementou as ideias de José Augusto: “No meio dessa avalanche de notícias ruins, precisamos de um foco. Buscar a sensibilização dos petroleiros e da nacionalidade. A nação está ameaçada e precisamos criar capacidade e persuasão. Temos que ter programa e rotina. Sensibilizar por meio da TV Comunitária, “A ABI na TV” ou “A TV na ABI”, ou outros veículos.
Rafael Crespo, do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindiPetro NF). lembrou o fechamento da fábrica de fertilizantes em Araucária, no Paraná, que atinge mais de mil trabalhadores da Petrobrás e afirmou que o maior desafio hoje é o de “furar a nossa bolha”:
“Precisamos chegar aos ouvidos das donas de casa e dos motoristas de Uber. A privatização é silenciosa e já está ocorrendo. Uma plataforma é vendida para o exterior a cada mês. Carro de som e panfletos não funcionam mais. Precisamos usar as novas ferramentas”.
O jornalista e presidente do Conselho Fiscal da ABI Osvaldo Manescky, secretário das reuniões da Frente, sugeriu que se crie um banco de dados na ABI para centralizar as informações de todas as entidades militantes.
“Eu só vejo um caminho, falando pelo lado jornalístico, o de levar a informação à opinião pública. Vamos centralizar as informações aqui na ABI e colocar à disposição para fazer um programa sobre a ABI e sobre a Frente. São muitas empresas sendo privatizadas e plataformas sendo vendidas, mas temos que manter o foco na Petrobrás. Vi a campanha da anistia nascer nesta sala aqui em que estamos. E não temos partido. Como dizia Barbosa Lima, nosso partido é o de Tiradentes”.
O representante do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), Jorge Follena, ressalta a importância de lutar contra as políticas do atual governo. “São trabalhadores, jornalistas, engenheiros, metalúrgicos, professores, profissionais da saúde, juristas, todos atingidos por essa política neoliberal e ditatorial que está aí. A gente não pode abaixar a cabeça. Somos muitos, temos que resistir”.
Para o vice-presidente da ABI Cid Benjamin, o maior desafio do movimento é “romper a bolha” e falar para o público. “O tema não tem espaço na grande imprensa, já que o projeto de privatização tem apoio da mídia. O investimento em programas na TV Comunitária e em canais de rádio e redes sociais deve ser profissional e pesado. As entidades podem bancar esses espaços que não são muito caros. Caso contrário, não vamos sair da bolha”.