Cientista social por trás das câmeras


18/09/2006


Claudio Carneiro
22/09/2006

O primeiro emprego de Aguinaldo Araújo Ramos foi como supervisor de Compras de uma multinacional de pequeno porte. Até então, não conhecia a fotografia. A intuição de que ela faria parte de sua vida, no entanto, veio desde cedo, quando a relação entre imagem e texto tornou-se natural para ele.  

Repórter-fotográfico desde 1976, ele começou na Bloch Editores — “fazia todas as revistas”. Nos anos 80, trabalhou no Jornal do Brasil e, mais tarde, optou pelo trabalho de freelancer, tanto na imprensa quanto prestando serviços a empresas. Aos 56 anos, soma 30 de carreira:
— Eu nunca tinha, sequer, pegado em uma câmera fotográfica. Um dia me perguntei o que gostaria mesmo de fazer. O que me veio mais forte foi: “Fotografia.” Busquei então o Serviço Nacional de Aprendizado Comercial (Senac), onde havia três cursos básicos que duravam um ano: Fotografia, Laboratório PB (preto e branco) e Grandes Ampliações. Fiz os dois primeiros. Quando, finalmente, me despediram da multinacional, em março de 1977, comecei umas parcerias fotográficas com colegas.

A fotografia não interrompeu os estudos de Aguinaldo. Pelo contrário. Ele formou-se em Ciências Sociais, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs) da UFRJ; fez pós-graduação em Fotografia como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais, na Universidade Candido Mendes; e, atualmente, faz mestrado em História Comparada novamente no Ifcs.

Aguinaldo tem desenvolvido projetos autorais com fotos e textos, além de outros investimentos literários. Foi finalista do Prêmio Serviço Social do Comércio (Sesc) de Literatura 2005, na categoria Romance, e é um dos vencedores do concurso Contos do Rio 2006, do caderno Prosa & Verso, do Globo, com “Grã decisão: viradas”:

Segundo ele, a Bloch Editores foi uma grande escola:
— Fiz muitas fotonovelas para Amiga e Sétimo Céu. Acabei mais constante na Manchete e em Fatos & Fotos, minha favorita, pelo uso do preto e branco e por ser mais parecida com um jornal, que era o meu grande interesse. O chefe era o Gervásio Batista. Entre os colegas, havia os mais novos, como o Carlos Humberto, e a velha guarda, que tinha Antonio Rudge e Gil Pinheiro e outros.

No entanto, Aguinaldo confessa que o JB, onde trabalhou de junho de 80 até agosto de 86, foi sua melhor experiência:
— Eu me entendia como “um representante do leitor diante dos fatos”, uma testemunha privilegiada com a responsabilidade de levar os fatos aos leitores.

Com o tempo, começou a achar o serviço repetitivo e maçante. E resolveu atuar como freelancer. De 86 a 90, atuou nas sucursais cariocas da Folha, do Estadão, da Veja e da Visão.
— O registro do povo nas ruas era seu tema preferido. Produz-se melhor esse tipo de foto estando ancorado em uma estrutura profissional, como a de um jornal. Em seguida, investi no visual do Rio de Janeiro, especialmente o Pão de Açúcar, em projetos de livros que não deram resultado. 

Aventuras

O fotógrafo passou por algumas aventuras perigosas na carreira:
— Tenho escrito sobre elas, já com o projeto de publicar um livro. O momento mais dramático pode ter sido a viagem a Rondônia, quando estive, entre outras tribos, com os cintas-largas e onde recuperamos in loco a história de um sertanista (ex-jornalista) morto por eles dez anos antes. Outra história interessante foi o caso da guerra que não cobri. Estava no Chile, com o repórter Bruno Cartier-Bresson, quando estourou, em 2 de abril de 1982, a guerra das Malvinas — ou das Falklands, como preferem os ingleses. Estávamos no escritório da agência UPI, quando a notícia chegou. Chegamos a negociar a passagem de avião para o arquipélago, quando veio a ordem de desistir de aventura tão insensata quanto perigosa. Voltando a pé para o hotel, a ficha foi caindo.

Sobre os avanços tecnológicos que podem facilitar o trabalho do fotógrafo, Aguinaldo acha que não há o que contestar, tanto no sentido técnico quanto no econômico:
— Se o próprio jornal tem sido profundamente afetado pelos meios eletrônicos, não há por que discutir a adoção da fotografia digital, na medida em que esta atinge nível suficiente de qualidade. A necessidade de redução de custos reforça o processo. É da dinâmica do capitalismo, que sabe ser cruel…

Aguinaldo usa alguns avanços para fazer investidas literárias, boa parte delas relacionando fotos e textos, algumas publicadas na internet, no endereço www.livri.blogspot.com. Ele ressalta, no entanto, o quanto as mudanças podem implicar em prejuízo para os fotógrafos mais antigos, que têm dificuldade de dominar as novas tecnologias:
— Talvez o maior golpe contra o atual repórter-fotográfico venha a ser a evolução das câmeras nos celulares. E, depois, nas canetas, nos relógios e sabe-se mais lá onde.

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Em Santa Teresa,
a batalha…”

“Em ato político no conjunto…”

“Uma foto repentina, mas não…”

“Uma
matéria
típica da…”

“Para 
fazer este amanhecer…”

“Consegui fazer este nascer do…”

“Antiga 
ponte da ferrovia…”

“Aqui 
vemos um detalhe da…”

“Chegando ao Largo dos Guimarães…”