Busca intuitiva de harmonia e beleza


26/12/2006


José Reinaldo Marques 
28/12/2006 

Editor-executivo de uma revista — Os Caminhos da Terra — desde 1992 e editor de Fotografia de outra — Próxima Viagem — há sete anos, Valdemir Cunha está com 40 anos, tem 20 de carreira e há cinco é também o responsável pelo Departamento de Fotografia da Editora Peixes.

Nos seis anos em que foi editor de Fotografia de Terra e Viagem & Turismo, percorreu vários países e produziu um rico material fotográfico, que ilustrou também outros títulos da Editora Abril. Há muitos anos na área de turismo e natureza, ele acha que não basta ao profissional ter apenas bom domínio técnico — é preciso ter sensibilidade:
— Na verdade, nunca me preocupei com a técnica. Para falar a verdade, sou bem ruizinho nessa área, comparado a alguns companheiros de profissão. Minha foto é intuitiva. Busco harmonia e beleza em tudo que fotografo, de um buraco de rua a ilhas da Polinésia Francesa. Claro que, para isso, tive que descobrir alguns caminhos técnicos que me permitissem chegar à imagem desejada, mas a essência do meu trabalho está na intuição e no improviso.

Valdemir conquistou quatro prêmios Abril de Fotografia, participou de quatro exposições individuais e seis coletivas e, antes de se especializar em fotos de viagem, fez de tudo, de coberturas policiais a casamentos:
— Quem acabou me colocando no turismo foi o Jayme Monjardim, um dos melhores fotógrafos e editores de imagem que conheci em toda minha vida profissional. Quando fomos apresentados, ele já tinha dirigido a novela “Pantanal”. Levei algumas fotos para ele dar uma olhada e acabei sendo convidado para fazer uma viagem àquela região do Mato Grosso do Sul. Foi então que descobri que queria me especializar em fotografar a natureza.

Viagem

Para ele, a maior dificuldade do fotógrafo que cobre turismo é a viagem em si:
— Já vi pessoas procurarem feijoada em Paris, churrascaria em Nova York, caipirinha em Báli… Não faz o menor sentido cruzar o mundo para procurar o Brasil. Como também não se pode chegar no Nordeste brasileiro e ficar querendo ir a shopping center. O bom viajante é aquele que deixa o lugar de destino se apresentar, por meio da gastronomia, dos costumes populares etc. E, se o fotógrafo é um bom viajante, não terá dificuldade, porque vai perceber a geografia e a cultura locais e encontrar as imagens certas para contar uma boa história.

Por outro lado, diz ele, atualmente há muitos colegas que estão mais preocupados em produzir imagens isoladas do que abordar grandes temas:
— Existe, no mercado, uma carência de gente capaz de contar histórias com imagens. Os fotógrafos viajam sem as devidas referências locais, como livros, obras de arte, música. Isso torna quase impossível compor uma história realmente consistente de um lugar.

Programar-se e pesquisar é fundamental:
— Isso facilita o trabalho do fotojornalista contratado por uma revista de turismo, que geralmente tem no máximo dez dias para produzir uma reportagem de oito a 20 páginas. Sem pesquisa, corre-se o risco de cair no lugar-comum.

Fotografia é observação, diz Valdemir, que aprendeu que sentar e ficar atento a um lugar às vezes é tudo:
— É preciso parar, prestar atenção à luz, aos movimentos, ao que está em volta, para encontrar com mais facilidade a essência dos lugares e das pessoas, papel principal da fotografia.

Retratos do Brasil

A facilidade de Valdemir para extrair a essência das pautas e das pessoas pode ser vista no trabalho “Retratos do Brasil”, caixa com 50 postcards que mostra um País desconhecido para a maioria dos brasileiros. As fotos foram feitas ao longo de 15 anos e os textos são do jornalista Xavier Bartaburu:
— Estamos cercados de informações visuais que atrapalham a percepção das coisas importantes que passam diante de nossos olhos o tempo todo. A fotografia permite que qualquer pessoa treine o olhar e passe a ver o que realmente importa — diz Valdemir. — Outro dia fiquei chocado ao ver as imagens de pessoas andando ao lado de um corpo, feitas por um repórter-fotográfico do Rio. Elas não expressavam a emoção esperada. Talvez se passassem a fotografar com os olhos, percebessem a cena e reagissem de outra forma.

Já a foto de natureza pode ser um instrumento para sensibilizar as pessoas quanto à importância de se pensar no meio ambiente de forma séria e responsável:
— Tento buscar em minhas imagens o máximo de beleza, para fazer com que as pessoas queiram mostrar os lugares para seus filhos, netos etc. Quem sabe essa vontade de conhecer os lugares que aparecem nas fotos não desperte um questionamento do tipo: “Será que daqui a dez anos isto aqui ainda vai existir dessa forma?” Não à toa, digo sempre que a fotografia pode trazer benefícios para qualquer um que esteja disposto a olhar ao seu redor e ver o que realmente está acontecendo. 

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