Brizola recebe homenagem na ABI


24/01/2012


Centenas de pessoas prestigiaram o lançamento do livro “Leonel Brizola – A Legalidade e Outros Pensamentos Conclusivos”(Nitpress), em comemoração aos 90 anos de nascimento do político, aplaudido como um dos maiores nomes da História do Brasil. O evento, realizado na noite desta segunda-feira, 23, na ABI, reuniu parentes, amigos, colaboradores e admiradores do líder trabalhista.
 
Organizado pelo jornalista Osvaldo Maneschy, Apio Gomes, Paulo Becker e Madalena Sapucaia, com prefácio do jornalista Paulo Henrique Amorim, o livro reúne o pensamento político e social de Leonel Brizola. Os textos foram transcritos na íntegra a partir de entrevistas, palestras e discursos do político entre 1991 e 2004, totalizando mais de 300 horas de gravação.
 
A primeira parte da obra é dedicada ao movimento Cadeia da Legalidade. Um CD acompanha o livro com a narração de Brizola sobre o assunto. A segunda parte apresenta a reedição do livro “Com a palavra, Leonel Brizola” originalmente publicado em 1994, no qual Brizola fala sobre política, economia, sociedade, mídia, violência e miséria, entre outros temas.
 
Presente ao lançamento, Maria Prestes, viúva do revolucionário Luiz Carlos Prestes, destacou o papel de Brizola na construção da democracia brasileira:
-Este livro representa um resgate histórico do Brasil em suas diversas fases, desde a ditadura até a Anistia, pela qual Brizola tanto lutou. Sua figura emblemática precisa ser divulgada para que o povo conheça a luta pela democracia. Se os projetos dele, como os CIEPs(Centros Integrados de Educação Pública), tivessem tido continuidade, nós não estaríamos vivenciando este atual quadro deplorável. Eu e o Velho tivemos uma convivência muito próxima com Brizola, que constantemente visitava a nossa casa na Gávea para debater as importantes questões nacionais.
nbsp;
O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, aplaudiu o resgate da memória do líder trabalhista:
-Este livro permite às próximas gerações entrar em contato com a efervescência da vida pública deste homem extraordinário, que ao lado de Getúlio Vargas e de Luiz Carlos Prestes é uma das três maiores figuras do século 21. Através deste livro é possível reavivar e mostrar a atualidade de suas idéias.
 
Autor da obra “50 anos desta noite”(Nitpress), lançada em 2011, dentro das comemorações pelo cinqüentenário da Campanha da Legalidade, o médico Eduardo de Azeredo Costa, Secretário de Saúde do Governo Brizola entre 1983 e 1986, e Secretário de Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia, entre os anos 1991 e 1994, destacou a Cadeia da Legalidade como um dos episódios mais importantes da História do País:
-Em “50 anos desta noite” reuni as memórias do meu tempo de estudante de Medicina em Porto Alegre. Entrei na universidade em 1961, justamente quando a Campanha pela Legalidade ganhava os estudantes nas ruas, sob a liderança do então Governador Leonel Brizola, além da posse de Jango. Na segunda parte falo sobre a luta pelas reformas de base propostas pelo Governo João Goulart entre 1962 e 1964. A última parte do livro cobre o período 1964-1966, o golpe de estado articulado pelo governo norte-americano, as perseguições políticas, a barbárie que começa a se instalar na ditadura militar. Estou escrevendo um segundo livro sobre o tema e tenho um projeto para o terceiro, que vai abordar o período entre 1979, quando Brizola retornou ao Brasil, até 1982. Precisamos registrar a história do Trabalhismo no Brasil com Getúlio Vargas e depois Brizola. 

Novas gerações
Subprocurador geral da República, aposentado, ex-Procurador-chefe da Procuradoria Regional da República do Estado do Rio de Janeiro, o advogado e professor de Direito Carlos Roberto Siqueira Castro ocupou a Chefia da Casa Civil no Governo Brizola no Rio de Janeiro. Para ele, a influência de Brizola deve ser estendida às novas gerações:
-Todo livro sobre a vida e a obra de Brizola é altamente oportuno. Os jovens poderão conhecer a coragem, o espírito público e o patriotismo que tanto o caracterizaram.Tive a honra de ser seu colaborador e amigo durante muitos anos. Esta lembrança enriquece a minha alma, especialmente por ter tido a oportunidade de testemunhar seus grandes momentos na vida pública.
 
Carlos Alberto Oliveira dos Santos, Caó, jornalista, deputado constituinte, membro da ABI, ocupou a Secretaria de Trabalho e Habitação nos dois mandatos de Brizola no Governo do Rio. Ele assinalou o perfil conciliatório de Brizola nos momentos de decisão:
– Durante os oito anos do Governo Brizola, ao contrário de que se percebia de sua personalidade, ele costumava ouvir muito e sempre voltava atrás de suas decisões nossas observações. Ele era um homem de compromisso e de ponto de vista sempre aberto às conversas.
 
Luiz Tenório, ex-presidente do Sindicato dos Médicos (SinMed-RJ) e ex-Secretário de Saúde de Niterói, também aplaudiu o legado de Brizola na luta pelas liberdades:
-O livro que está sendo lançado hoje aqui conta a história de um grande brasileiro, que precisa ser relembrada para que as pessoas conheçam o caminho daqueles que defenderam a democracia neste País, e Brizola foi um dos grandes.
 
Legalidade

Com a renúncia do Presidente Jânio Quadros em 1961, ministros militares em Brasília ameaçaram não permitir a posse do vice-presidente João Goulart. O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, iniciou um movimento civil-militar para defender a legalidade constitucional da posse do vice-presidente eleito. 
Em dia 27 de agosto de 1961, Brizola requisitou os transmissores da rádio Guaíba de Porto Alegre para conclamar a nação a defender a legalidade e a posse. Juntamente com as demais emissoras de Porto Alegre e do interior do Estado estava formada a Rede da Legalidade, com transmissão 24h a partir do Palácio Piratini, Sede do Governo Estadual. Dezenas de técnicos, jornalistas, radialistas e políticos participaram da luta.
 
A Cadeia da Legalidade chegou a alcançar 100% da audiência em diversos momentos,  reunindo 104 emissoras em cadeia nacional, atingindo países vizinhos, com transmissão de boletins noticiosos em inglês, espanhol e alemão. 
 
O jornal Última Hora, de Samuel Weiner, historicamente vinculado ao trabalhismo, publicou edição extra no final do dia 25 com uma foto de Jango sob o título “Imposição da Legalidade” e a reprodução do artigo da Constituição que garantia a posse do vice-presidente. No rodapé, o seguinte texto: “Segundo se informa, o Sr. João Goulart, novo Presidente da República, regressará amanhã ao País, procedente de Hong Kong, onde se encontrava em missão oficial, para assumir a Suprema Magistratura da Nação. A chegada do novo Presidente da República está prevista para as 13horas”. A mensagem traduzia o anseio de toda a nação.
 
 
Em entrevista à jornalista Cláudia Souza, Oswaldo Maneschy, organizador do livro, e Luiz Erthal, editor da obra, detalharam aspectos importantes sobre a trajetória de Brizola e os projetos de preservação e resgate da memória do ilustre brasileiro.
 
1-Como surgiu a ideia de escrever sobre Brizola?B>
Osvaldo Maneschy -Brizola foi um político singular na vida brasileira. Trabalhista histórico, fundador e dirigente do PTB de Getúlio Vargas, cunhado do presidente João Goulart, Leonel Brizola – quando governador do Rio Grande do Sul, ainda na década de 50 – teve a coragem de expropriar duas empresas multinacionais que atravancavam o desenvolvimento dos gaúchos. Uma empresa de telecomunicações norte-americana subsidiária da poderosa ITT, a mesma que derrubaria Salvador Allende do governo do Chile em 1973; e outra no setor de produção de energia. Dois setores básicos: energia e telecomunicações. Isto lhe valeu o ódio permanente dos defensores dos interesses dos Estados Unidos no Brasil. Mas ele não ficou nisto. Em 1961 quando os militares golpistas que tentaram derrubar Vargas em 54 obrigando-o a dar um tiro no coração para defender sua honra; que tentaram impedir a posse de Juscelino Kubitschek em 1955; pois esses mesmos militares tentaram impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros. Mas fracassaram porque Brizola, com a sua Rede da Legalidade (que juntou mais de 100 emissoras de rádio espalhadas por todo o Pai s) mobilizou a opinião publica nacional contra os golpistas, dividiu o Exercito e os derrotou politicamente. Mas por tudo isto Brizola teve que pagar um preço altíssimo: tornou-se o inimigo numero um da elite e dos meios de comunicação controlados por ela. O livro surgiu como uma reação ao cerco midiático ao qual Brizola foi submetido depois que passou 15 anos no exílio e recomeçou a sua vida política no Brasil. Uma tentativa de furar o cerco da mídia mostrando aos brasileiros o verdadeiro Leonel Brizola. O livro foi lançado em 1994, quando Brizola disputou pela segunda e ultima vez a presidência da República, mostrar o Brizola que a grande midia, hoje chamada de PIG (partido da imprensa golpista), escondia e atacava. Isso nos motivou a escrever o livro e neste seu relançamento, ampliamos para incluir nele o episódio da Legalidade. Brizola falando sobre o que aconteceu em 1961.
 
2-Como foi a sua convivência com Brizola?
Osvaldo Maneschy -Fui subsecretário de imprensa no segundo governo de Brizola no Rio de Janeiro, trabalhando com Fernando Brito – secretário de imprensa do Palácio Guanabara. E no primeiro governo de Brizola, a partir de sua eleição de 1982, trabalhei na Secretaria de Justiça e também na equipe do Diário Oficial Notícias, criado naquela ocasião. Em 2000, quando Brizola disputou a prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, fui o seu assessor de imprensa. Tenho muito orgulho de ter trabalhado com Brizola, aprendi muito com ele, que tinha orgulho de ser sócio da ABI e da Associação dos Jornalistas do Rio Grande do Sul.
 
3-Qual foi o critério utilizado para definir o tema do livro?
Osvaldo Maneschy -Nós gravamos mais de 300 horas de fitas do Brizola. Falando para jornalistas, em palestras, em conferências, em reuniões. O livro é todo na primeira pessoa – nós não falamos, quem fala através dos trechos que selecionamos para formatar o livro, é Leonel Brizola. As pessoas gostam muito exatamente por isto. A nossa interferência, como organizadores do livro, foi colher a palavra de Brizola e colocá-la no livro. Brizola tinha uma característica muito pessoal: ele raciocinava falando. Sua lógica e raciocínio encantaram milhares e milhares de pessoas através do rádio e depois, da televisão. Brizola sabia, como poucos, prender a atenção das pessoas. Não tenho dúvida de que os debates eleitorais nos meios de comunicação -fundamentais na campanha eleitoral de 1982, quando ele se elegeu governador do Rio de Janeiro, sem material de campanha, sem dinheiro, sem nada, e com um PDT recém fundado e praticamente cartorial- foram praticamente banidos dos meios de comunicação porque a elite, e os militares recém saídos do poder, sabiam do poder de persuasão de Brizola. Um homem imbatível praticamente na discussão de idéias. Voltando ao livro, nele abordamos vários temas, através das palavras de Brizola, procurando mostrar o que ele pensava das coisas. Inclusive nele vem em anexo um CD, de quase uma hora de duração, onde Brizola, de viva voz, relata o episódio da Legalidade em três ou quadro trechos de gravação. Além do texto transcrito, achamos importante acrescentar o CD com o próprio Brizola falando. Ao final de cada um dos trechos gravados e incluídos no livro, há a data em que a fala aconteceu – e temos todas as gravações que foram transcritas no livro.
 
4-Quando você começou a escrever o livro?
Osvaldo Maneschy -A primeira parte do livro, reedição do livro “Com a Palavra, Leonel Brizola” foi escrito em 1993; já a segunda parte, onde Brizola relata os acontecimentos relacionados ao movimento da Legalidade, foi escrito ano passado, quando se completaram 50 anos da rebelião da Legalidade que garantiu a posse na presidência da Republica do vice-presidente constitucional João Marques Belchior Goulart que estava na China, em visita oficial aquele país, e teve sua posse vetada pelos três ministros militares – comandantes do Exercito, Marinha e Aeronáutica que, manietaram o Congresso Nacional e começaram a dar ordens a partir de Brasília, aboletados no poder. 
 
6-Outros jornalistas participaram do trabalho?
Osvaldo Maneschy -No primeiro momento, na primeira edição, o único jornalista fui eu. Paulo Becker e Madalena Sapucaia, que me ajudaram na tarefa, não são jornalista. Becker e médico e psicanalista, Madalena é psicóloga e psicanalista. Nós três trabalhamos em cima das degravações selecionando trechos das falas de Brizola. Um trabalho que Becker uma vez descreveu como o parecido com o do garimpeiro que seleciona pepitas na sua batéia. Fizemos várias reuniões, discutimos o que iriaamos incluir no livro, etc. etc. Um trabalho que nos tomou quase um ano. Uma coisa interessante: Brizola só conheceu esse livro impresso. Nós não perguntamos a ele se poderiamos fazer ou não. Fizemos. E o livro chegou às mãos dele, impresso, através de Neiva Moreira. Ele gostou do livro, pretendia republicá-lo e usá-lo na campanha presidencial de 1994 – mas a ideia não vingou, a campanha não teve verba, foi tudo muito difícil para ele naquela jornada. Mas no lançamento do “Com a Palavra, Leonel Brizola”, feita na Casa de Cultura Lauro Alvim, em 1994, ele fez questão de mandar Darcy Ribeiro ao lançamento para representá-lo porque, naquele dia, um compromisso de campanha o obrigou a viajar para fora do Rio de Janeiro. Tenho muito orgulho disso. Ele gostou mesmo do livro.
 
7-Entre os fatos narrados por Brizola no livro, qual teria mais destaque?
Osvaldo Maneschy -Acho tudo importante. Para nós, é um pouco do pensamento político de Brizola que expressamos nesse livro. Sobre o episódio da Legalidade, com certeza, tem fatos narrados que só as pessoas que realmente viveram aquilo com ele têm conhecimento. Brizola não gostava de falar sobre o desfecho da crise de 61, a posse de João Goulart e a derrota dos militares golpistas, porque ele queria que Jango fechasse o Congresso em 61, prendesse os golpistas e convocasse uma Assembleia Nacional Constituinte. Jango conciliou naquele episódio, não quis o confronto armado e os militares golpistas de 61 – que eram os mesmos que tentaram derrubar Getúlio e impedir a posse de Juscelino – conseguiram, em 1964, finalmente chegar no poder. Brizola ficou mais de 10 anos rompido com Jango e só poucos anos antes da morte de Jango, no exílio, fizeram as pazes.
 
8-Crítico feroz da chamada pseudo-imprensa, que reflexões importantes Brizola trouxe para o jornalismo brasileiro?
Osvaldo Maneschy -Brizola foi vítima da grande imprensa brasileira. Ele tinha uma visão absolutamente singular da mídia – que ele chamava de partido único. Aliás, Raul Ryff, grande secretário de imprensa do presidente João Goulart, grande amigo com quem convivi no inicio de minha vida profissional no Jornal do Brasil, depois do Ryff já ter passado pelo exílio; pois Ryff costumava dizer a respeito da mídia, com a experiência de ter vivido o governo Vargas, com Jango ministro do Trabalho e, depois, o governo João Goulart – Ryff dizia que quando as famílias que controlam a mídia brasileira se reúnem e decidem atacar, juntos, determinado governo ou determinado político – é um efeito arrasador, praticamente incontrolável. Brizola, na minha opinião de jornalista, foi vítima desse sistema. E Brizola, como nenhum outro político brasileiro, teve coragem de enfrentar a grande mídia recorrendo, inclusive, aos famosos tijolões – artigos que o PDT mandava publicar, como anuncio, onde ele expressava a sua opinião – totalmente isolada e só – sobre os grandes assuntos nacionais. Ryff dizia que conhecia a dimensão de um homem pelo tamanho de seus adversários. Brizola nunca temeu os adversários – por isso era o desafeto número um do todo poderoso jornalista Roberto Marinho, dono e controlador das Organizações Globo  que não hesitaram, em determinada ocasião, de botar a Neuzinha Brizola visivelmente drogada no ar no Jornal Nacional, só para atacar não só o governador que era seu desafeto, como também o pai Leonel Brizola. Há coisas que não dão para esquecer. Esta é uma delas.
 
9-Em que aspecto a trajetória de Brizola pode contribuir para as novas gerações de políticos e de jornalistas?
Osvaldo Maneschy -A coragem de dizer a verdade. Dizer o que realmente pensa, sem subterfúgios ou jeitinhos. Brizola foi um homem absolutamente reto e íntegro, como governante. A Educação foi sua bandeira de vida, ele sempre acreditou no Brasil e além de raciocinar falando, ele como político foi um grande e imenso professor de Brasil. Ele sempre lutou – como Vargas – por um Brasil autônomo, independente, voltado para os seus filhos. Priorizando as crianças, a educação e o desenvolvimento. Numa luta constante contra a pobreza, o analfabetismo e a subserviência do Brasil a quem quer que fosse. Aos Estados Unidos, a União Soviética – a quem quer que fosse. Brizola sempre acreditou no Brasil e no seu destino de grande potência.
 
10-Carisma, força, determinação, coragem são características da personalidade de Brizola. Como você explicaria o fascínio e o respeito que ele exercia sobre as pessoas?/DIV>

Osvaldo Maneschy -Até pelo seu exemplo pessoal. O acusavam de caudilho, mas ele sempre ouvia as pessoas antes de tomar suas decisões. Eu me aproximei muito dele na fase final de sua vida por conta do trabalho que desenvolvi e desenvolvo junto aos professores, doutores e especialistas em informática que participam do Fórum do Voto Eletrônico (www.votoseguro.org), uma página de internet que está no ar desde 1998, criada pelo engenheiro Amilcar Brunazo Filho, que questiona a segurança das urnas eletrônicas que usamos em nossas eleições. São máquinas inauditáveis que não produzem contra-prova em papel, que não garantem um princípio básico para qualquer democracia – a verdade eleitoral. Só Brizola teve coragem de investir contra essas máquinas que ele comparava a argola que se coloca no nariz do touro, para levá-lo para onde quiser. O touro que ele se referia, é claro, era o Brasil. Brizola sempre foi um político e um homem comprometido com o Brasil. E que tinha o dom da palavra por ser extremamente didático em seu raciocínio.
 
11-Qual o legado de Leonel Brizola para a História do Brasil? 
 Osvaldo Maneschy- Sua coragem política, sua luta permanente pela Educação e por condições melhores de vida para os brasileiros. 
 
 
Entrevista com Luiz Erthal:
 
1-Como surgiu a oportunidade de editar um livro sobre Brizola?
Luis Erthal -Como jornalista, colaborei com Brizola, seja em governos do PDT ou
em campanhas eleitorais e no partido, de 1984 a 2000. Trabalhei diretamente com  Osvaldo Maneschy e Apio Gomes, dois dos principais organizadores deste livro.
 
2-Polêmico e combativo, Brizola sempre observou uma postura crítica em relação à grande mídia. De que maneira o comportamento dele influenciou o jornalismo?
Luis Erthal -Creio que o ensinamento de Brizola para o jornalismo segue os seus
princípios e ideário para a sociedade brasileira: independência, coragem, patriotismo e defesa intransigente dos direitos do povo brasileiro.
 
3-Marcado pela defesa dos interesses nacionais, o discurso de Brizola alcançou várias gerações de brasileiros. De que maneira este livro pode contribuir para o fortalecimento do papel de Brizola na História do Brasil?
Luis Erthal -Há nesse livro uma das mais belas imagens de Leonel Brizola,
nascida da sabedoria simples e conclusiva que ele extraía da vida comum do brasileiro: a do “pau guarda-fogo” – aquela tora que permanece em brasa, quase adormecida, na fogueira deixada à noite pelo gaúcho no campo. De manhã, basta assoprar para levantar a chama. Brizola dizia que o Trabalhismo é assim. Por vezes parece até amortecido, mas o processo social se encarrega de reacender no momento certo as verdadeiras causas do povo brasileiro. Felizmente essa e tantas outras imagens certeiras do líder trabalhista, morto em 2004, permanecerão graças ao trabalho desenvolvido por Osvaldo Maneschy,
Apio Gomes e os demais organizadores do livro para preservar e difundir o pensamento brizolista. Sobre a Cadeia da Legalidade Brizola cultivou grande frustração a ponto de dizer, em 2001, na fase conclusiva de sua vida: “Na Legalidade, perdemos uma chance que a História nos deu de bandeja”. A obra é parte de um projeto maior voltado à preservação das palavras e idéias de Brizola que desdobrará em novo livro, em futuro próximo, mais extenso e detalhado – cujo título ainda provisório é “Leonel Brizola, outras reflexões”.
 
4-As novas mídias podem oferecer um cenário mais amplo para o debate sobre as ideias de Brizola, sempre tão censurado por alguns setores da imprensa?
Luis Erthal -Quando nos vejo publicando – seja em livro, como temos feito na Nitpress, seja nos blogs da Internet – o conteúdo impublicável, para a grande mídia, desse pensamento lúcido e honesto, penso que estamos vivendo um desses momentos em que a velha brasa, atiçada pela brisa, começa a reavivar toda a fogueira. Tais realizações seriam impraticáveis até algum tempo atrás para gente pronta como nós – pobres jornalistas desapossados dos meios de produção da imprensa tradicional. No entanto, graças às novas mídias e à democratização das ferramentas de comunicação proporcionada pela revolução tecnológica, estamos nos tornando cada vez mais aptos a cumprir aquela que, na visão de Brizola, seria hoje a grande missão política: reatar a história e os verdadeiros valores do povo brasileiro, que um dia quiseram cortar com
uma tesoura. Essa é também a grande contribuição desse livro.
 
5- Que outras obras você publicou sobre a trajetória de Leonel Brizola?
Luis Erthal -A Nitpress lançou recentemente “50 anos desta noite”, livro de memórias de Eduardo Costa, ex-secretário de saúde de Brizola no Governo do Rio, que narra principalmente os acontecimentos da Campanha da Legalidade, cujo cinquentenário foi comemorado no ano passado.Também em 2011 publicamos o livro A Rede da Democracia – O Globo, O Jornal e o Jornal do Brasil na queda do Governo Goulart, do professor Aloysio Castelo de Carvalho, da UFF, com prefácio de Maurício Azêdo. Do mesmo autor, está no prelo O caso Última Hora e o cerco da imprensa ao Governo Vargas, a ser lançado brevemente, com prefácio do Alberto Dines. Esses dois últimos livros tratam do tema da imprensa e dos governos trabalhistas, onde Brizola está inserido. Também estamos publicando a série de Cartilhas Trabalhistas, com textos do jornalista José Augusto Ribeiro, produzidas pelo MAPI – Movimento de Aposentados
e Pensionistas do PDT. Já saíram os volumes relativos da Jango e Brizola.
 
Biografia Leonel Brizola
 
Leonel de Moura Brizola nasceu no dia 22 de janeiro de 1922, no povoado de Cruzinha, Passo Fundo (RS), filho de José de Oliveira Brizola e de Onívia de Moura Brizola.
 
Diplomado como técnico rural em 1939, no ano seguinte foi nomeado funcionário do Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de Porto Alegre. Entre 1945 e 1949 cursou a Escola de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul. Paralelamente, ingressou na vida política, filiando-se em agosto de 1945, ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), por cuja legenda elegeu-se deputado estadual em janeiro de 1947.
 
Em março de 1950, casou-se com Neusa Goulart, irmã de João Goulart, então deputado petebista na Assembléia Legislativa gaúcha. Teria com ela três filhos.
Reeleito em outubro, Brizola exerceu seu mandato por um ano, sendo nomeado em 1952 secretário estadual de Obras.

Em outubro de 1954, foi eleito deputado federal e no ano seguinte prefeito de Porto Alegre. Seu bom desempenho à frente da prefeitura da capital gaúcha o credenciou para disputar com êxito o governo estadual em outubro de 1958. Conferindo prioridade ao desenvolvimento industrial, baseado em investimentos do capital privado nacional e do governo estadual, em maio de 1959 encampou a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense, filial da American and Foreign Power Company (Amforp).
 
Por ocasião da renúncia do presidente Jânio Quadros (25/08/1961) e o veto imposto pelos ministros militares à posse do vice-presidente João Goulart, Brizola – que já se destacava nacionalmente como um dos líderes da esquerda nacionalista – ocupou a Rádio Guaíba e a Rádio Farroupilha, formando a chamada “cadeia da legalidade”, cujo objetivo era organizar a população em defesa da posse de Jango. As mobilizações populares e as divisões nas forças armadas levaram a um impasse que só foi superado com a aprovação, pelo Congresso, de emenda constitucional que implantou o parlamentarismo no país. Goulart foi empossado em 7 de setembro.
 
Em outubro de 1962, Brizola foi eleito deputado federal pela Guanabara, sempre na legenda petebista, recebendo 269 mil votos, a maior votação até então obtida em todo o país. Deixando o governo gaúcho em 31 de janeiro de 1963, Brizola iniciou em seguida seu mandato na Câmara. Um dos líderes da Frente de Mobilização Popular, exerceu firme pressão para que Goulart implementasse as chamadas “reformas de base”, que incluíam as reformas agrária, tributária e bancária.
 
Crítico implacável da política de austeridade econômica defendida pelo ministro da Fazenda San Tiago Dantas, em dezembro Brizola foi protagonista de mais uma crise, ao afirmar ter sido convidado pelo próprio Goulart a assumir a pasta da Fazenda. O então titular da pasta, Carvalho Pinto, acabou se demitindo do cargo. No entanto, após a sua saída, Goulart nomeou Nei Galvão.
 
A partir de janeiro de 1964 a polarização que marcava a política nacional intensificou-se, chegando ao clímax em 13 de março, quando Goulart promoveu um grande comício no Rio de Janeiro, com a finalidade pressionar os parlamentares a aprovar as reformas de base. Durante o comício, Brizola fez um discurso inflamado, acusando o Congresso de criar obstáculos às aspirações populares. Em 20 de março, memorando do general Castelo Branco chamava a atenção para a agitação que tomava conta do país.
 
A articulação do esquema golpista por políticos conservadores e por setores militares se consumou em 31 de março, com a saída de tropas de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio de Janeiro para depor o presidente.
 
Em 1º de abril Goulart deixou o Rio, dirigindo-se a Brasília, onde foi informado da adesão do I e do IV Exércitos. Nesse mesmo dia seguiu para Porto Alegre, onde o aguardava Brizola, que, com o general Ladário Teles, comandante do III Exército, procurava resistir ao golpe. Recusando-se a aprovar essas iniciativas, Goulart refugiou-se numa fazenda de sua propriedade, de onde partiu para o exílio no Uruguai.
 
Brizola permaneceu no interior gaúcho até maio, quando também se fixou no Uruguai. Em 9 de abril foi publicado o Ato Institucional nº 1, que estabelecia a cassação de mandatos de parlamentares e a suspensão de direitos políticos por dez anos. O nome de Brizola constava da primeira lista de cassados, publicada no dia 10. No dia 11, Castelo Branco foi eleito presidente pelo Congresso.
 
Em fevereiro de 1965, cedendo a pressões do governo Castelo Branco, as autoridades uruguaias confinaram Brizola no balneário de Atlântida, onde permaneceu sob controle policial até maio de 1971.
 
Expulso do Uruguai em setembro de 1977, por suposta violação das normas de asilo, se fixou em Lisboa em janeiro de 1978, após breve estada nos Estados Unidos. Em abril de 1979, estando em curso no Brasil a chamada abertura política que incluía a reorganização partidária, os trabalhistas ligados a Brizola entraram em confronto com os vinculados à ex-deputada Ivete Vargas pelo uso da legenda do PTB no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
 
Brizola retornou ao Brasil após a decretação da anistia política (30/08/1979), fixando residência no Rio de Janeiro.
 
Confirmada a extinção do bipartidarismo (29/11/1979), foi escolhido presidente nacional do novo PTB. Contudo, como o TSE concedeu a legenda petebista ao grupo de Ivete Vargas, Brizola e seus partidários criaram, em maio de 1980, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), por cuja legenda ele se candidatou ao governo do Rio de Janeiro, em novembro de 1982. Contrariando as expectativas, Brizola sagrou-se vencedor, tendo sido empossado em março de 1983.
 
O ano de 1984 foi marcado pela campanha em defesa do restabelecimento das eleições diretas para a presidência da República. Brizola engajou-se na campanha, e em 10 de abril, promoveu um grande comício em favor das diretas, que levou um milhão de pessoas às ruas do Rio. Em 25 de abril, contudo, a emenda Dante de Oliveira, que pretendia restabelecer a eleição direta, não foi aprovada na Câmara. Após a não-aprovação da emenda, Brizola acabou apoiando as candidaturas vitoriosas de Tancredo Neves e José Sarney no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, que selou o fim da ditadura militar. Tancredo não chegou a tomar posse, porque morreu em 21 de abril. Nesse dia, Sarney assumiu definitivamente a presidência, que ocupava desde 15 de março.
 
Brizola foi um dos mais destacados adversários do Plano Cruzado, plano de reforma econômica anunciado pelo presidente Sarney em fevereiro de 1986, destinado, entre outros pontos, a conter a inflação, mediante o congelamento de preços e de salários. O sucesso inicial do plano garantiu ao partido governista, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, uma vitória avassaladora em novembro de 1986, elegendo 22 governadores.
 
No Rio, o candidato de Brizola, Darcy Ribeiro, foi amplamente superado pelo candidato pemedebista, Wellington Moreira Franco. Brizola concluiu o mandato de governador em março de 1987, deixando como marco principal de sua gestão a construção dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), escolas em horário integral com assistência médico-odontológica, e do Sambódromo, a nova passarela do Carnaval, ambos projetos do arquiteto Oscar Niemeyer.
 
Brizola foi lançado candidato à presidência da República pelo PDT em março de 1989. O primeiro turno das primeiras eleições diretas para presidente, desde 1960, estava marcado para novembro de 1989. Embora Brizola tenha saído na frente na pesquisa de intenção de votos, em abril, o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de Melo, Collor já aparecia em primeiro lugar e em outubro o líder operário Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT) assumia a segunda colocação.
 
No primeiro turno, Collor obteve cerca de 20,6 milhões de votos; Brizola, superado por Lula em cerca de 450.000 votos, ficou em terceiro lugar. No segundo turno, em dezembro, Brizola transferiu maciçamente sua votação para Lula, mas isso não foi suficiente para dar a vitória ao candidato petista. Collor ganhou o pleito, recebendo 49,9% dos votos.
 
Nas eleições gerais de novembro de 1990, os candidatos anti-Collor venceram na maioria dos estados. No Rio, Brizola reelegeu-se governador sendo empossado em 1º de janeiro de 1991. Em junho, Collor e Brizola se aproximaram tendo por base a construção de 635 Centros Integrados de Apoio à Criança, escolas de tempo integral criadas pelo governo federal inspiradas nos CIEPs.
 
A aproximação com Collor rendeu verbas para o Rio – que viabilizaram, entre outras obras, a construção da Linha Vermelha, via expressa alternativa à avenida Brasil – e um grande desgaste político para Brizola. Ao longo de 1992, Collor foi acusado de envolvimento em esquema de corrupção e tráfico de influência organizado pelo tesoureiro de sua campanha eleitoral, Paulo César Farias (o PC).
 
Afirmando que a comissão parlamentar de inquérito que apurava as denúncias estava extrapolando suas funções, Brizola só pediu a saída de Collor praticamente às vésperas da aprovação, pela Câmara, do pedido de impeachment do presidente (29/09/1992). Em 29 de dezembro, pouco antes de o impeachment ser confirmado pelo Senado, Collor renunciou ao mandato. Seu vice, Itamar Franco, no exercício da presidência desde 2 de outubro, foi então efetivado no cargo.
 
Em abril de 1994, passou a chefia do governo estadual a seu vice, Nilo Batista, para poder concorrer, pela segunda vez, à presidência da República. O pleito, realizado em outubro, foi vencido, ainda no primeiro turno, pelo candidato do Partido da Social Democracia Brasileira, Fernando Henrique Cardoso. Brizola chegou em quinto lugar, numa derrota sem paralelo em sua carreira. Em outubro de 1998, candidatou-se a vice-presidente, em chapa encabeçada por Lula, mas o pleito foi vencido por Fernando Henrique Cardoso.
 
Em 2000, Brizola disputou sem sucesso a prefeitura do Rio de Janeiro pelo PDT. Morreu no Rio de Janeiro no dia 21 de junho de 2004.
 
Fonte: Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001