Ato pró-JB ganha adesão da sociedade


21/07/2010


Dezenas de pessoas entre jornalistas, parlamentares, sindicalistas e estudantes e representantes de entidades da sociedade civil organizada participaram na manhã desta quarta-feira, 21 de julho, da manifestação contra o fim do Jornal do Brasil, em frente à sede do veículo, no bairro do Rio Comprido, encabeçada pelo Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro.
 
O ato foi liderado pela Presidenta do Sindicato, Suzana Blass, e teve também a presença dos Deputados Fernando Gabeira (PV) — candidato ao Governo do estado do Rio —, Chico Alencar (PSOL) e Alessandro Moulon (PT); da Vereadora Aspásia Camargo (PV), representantes do Deputado Paulo Ramos (PDT) e a jornalista Paula Mairan, representando o Deputado Marcelo Freixo (PSOL).
 
Também aderiram à manifestação o Presidente da CUT-RJ, Dardy Iguayara, e os jornalistas Beth Costa e Mário Augusto Jacobskind, representantes das Chapas 2 e Muda Fenaj!, respectivamente, que concorrem às eleições da entidade.
 
Fernando Gabeira lembrou os nove anos em que trabalhou na Redação do JB e destacou o papel da imprensa e que o jornal desempenhou no período da ditadura. O candidato ao Governo do Rio disse ser solidário à causa em prol do jornal ressaltando “a grande revolução gráfica, editorial e visual do Jornal do Brasil nos anos 50, que foi um feito cultural excepcional”.
 
Gabeira disse ainda que não tem de imediato uma alternativa para o caso, mas que está atento ao processo. A sua preocupação é que este fato venha se igualar ao que aconteceu com a extinta TV Manchete, que prejudicou mais de 3 mil funcionários:
— Com o fechamento do JB o Rio e a democracia sofrem uma grande perda, morre um pedaço de mim e da cultura do País, declarou Fernando Gabeira.
 
Unidade
 
Já o Deputado Alexandre Moulon disse que está muito preocupado com as questões trabalhistas que poderão vir a afetar negativamente os funcionários do Jornal do Brasil. Em seguida, o parlamentar demonstrou preocupação também com a representatividade do jornal para a sociedade brasileira. Segundo ele, “o JB não é apenas uma marca, é uma instituição que contribuiu decisivamente para a pluralidade de opiniões” no Brasil.
 
Chico Alencar fez questão de destacar a unidade do ato contra a paralisação da circulação do Jornal do Brasil impresso, que reuniu diferentes correntes de opiniões. Alencar acha que o fechamento do JB é um golpe da pluralidade de idéias. Ele disse que isso vai favorecer o monopólio da mídia por um único grupo empresarial, em um processo que ele chamou de “editorialização do pensamento único”.
 
O Deputado do PSOL lembrou “a fase criativa” do Jornal do Brasil, que se estabeleceu no período mais obscurantista da ditadura militar, em que o diário se destacou com primeiras páginas históricas como a que noticiou a decretação do AI-5, em dezembro de 1968; e a que falava do golpe militar no Chile, em 11 de setembro de 1973:
— O Rio de Janeiro sofre com um monopólio editorial, com a morte do JB isso se acentua e reflete em todo o País, quanto menos jornais estiverem em circulação mais obscurantista ele fica (o Brasil), afirmou Chico Alencar.
 
Patrimônio
 
A Vereadora Aspásia Camargo levantou uma questão interessante. Segundo ela o Jornal do Brasil deve ser encarado como um patrimônio cultural do País, e por isso, por meio de uma medida governamental deveria inclusive ser tombado pelo Patrimônio Histórico.
 
Ela apontou a possibilidade de modificações na Lei de Falências, que possibilita que o JB possa ser tombado como Patrimônio Cultural. Aspásia lembrou que se o Governo se empenha para “salvar bancos e frigoríficos falidos em manobras que a população não fica sabendo direito por que”, pode muito bem discutir com os trabalhadores questões que preservem o JB como símbolo da cultura nacional.
 
O Presidente da CUT-RJ, Dardy Iguayara, disse que a união em torno do Jornal do Brasil era muito importante para que seja feito um contraponto dos projetos editoriais vigentes e monopolizantes.  Ele demonstrou sua preocupação também com a situação dos funcionários do jornal, lembrando o episódio da Manchete.
 
Em clara referência a Nelson Tanure — dono a holding que controla o JB e que também foi responsável pelo fechamento da Gazeta Mercantil, de São Paulo —, Beth Costa criticou os empresários da mídia:
— O Rio de Janeiro ficou esvaziado, sem representação em termos de veículos de comunicação, por causa de decisões arbitrárias de empresários que não souberam resolver questões importantes relativas à gestão dos jornais. Os donos dos jornais são empresários retrógrados e que agem sem transparência.
 
Endossando as palavras de Beth Costa, o jornalista Mário Augusto Jacobskind lembrou que nos últimos dez anos vários veículos foram fechados por má administração. Ele defendeu a intervenção do Estado no mercado editorial, por meio de incentivos para a criação de uma imprensa alternativa que possa fazer frente ao que ele classifica como “jornalismo de mercado”.
 
Preocupação
 
Suzana Blass foi enfática na sua crítica ao modelo editorial único praticado na imprensa carioca ultimamente, que poderá ficar mais acentuado com o fechamento do Jornal do Brasil. A Presidenta do Sindicato fez um relato historiográfico da luta do veículo no período da ditadura, e se referiu também à “revolução gráfica e editorial do Jornal do Brasil”, que influenciou toda a imprensa nacional.
 
Suzana Blass garantiu que o Sindicato vai se manter atento aos próximos acontecimentos relativos ao JB, com muita preocupação com o futuro dos funcionários:
— Essa justificativa da versão on-line não deve ser encarada como uma coisa boa. Não existe a prova de que esse jornalismo vai sustentar-se economicamente e pagar os salários dos trabalhadores. É um risco muito grande.
 
Na opinião de Suzana Blass, o fim da versão impressa do Jornal do Brasil não é uma boa medida como justificativa financeira, pois o jornal “tem nome e a facilidade de se consolidar no mercado”.