24/08/2017
O repórter de um jornal regional no México, que estava sob proteção do governo, tornou-se na terça-feira (22) o décimo comunicador morto só este ano, uma trágica cifra que coloca o país como um dos mais perigosos do mundo para exercer o Jornalismo.
A nova vítima é Cándido Ríos, veterano repórter policial do Diario de Acayucan, no violento estado de Veracruz, considerado o mais perigoso para a imprensa no México, de acordo com organismos de defesa dos direitos humanos.
Ríos, de 55 anos, foi atacado na tarde de terça-feira juntamente com um ex-chefe de polícia e outra pessoa não identificada quando estavam do lado de fora de uma loja no povoado de Covarrubias, a 200 quilômetros a sudeste do porto de Veracruz.
O repórter, conhecido entre seus colegas como “Pavuche”, faleceu enquanto era levado ao hospital por conta dos tiros de alto calibre, disseram à AFP fontes conhecedoras do caso.
Segundo a Comissão Estatal para a Atenção e Proteção dos Jornalistas (CEAPP, em espanhol) de Veracruz, Ríos fazia parte de um mecanismo do governo federal mexicano dedicado à proteção de jornalistas em risco.
“O jornalista estava incorporado aos esquemas de segurança do Mecanismo para a Proteção de Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas da Secretaria de Governo”, indicou a CEAPP em comunicado.
Estes mecanismos de proteção se mostraram ineficazes e insuficientes diante das crescentes agressões contra o sindicato no México, inclusive depois que, em maio, o presidente Enrique Peña Nieto se comprometeu a fornecer mais recursos e equipes.
A delegação da União Europeia (UE) no México e as embaixadas de Noruega e Suíça lamentaram “profundamente” o assassinato de Ríos e pediram às autoridades mexicanas que resolvam o caso e garantam a segurança dos repórteres “diante da alarmante reincidência de assassinatos”.
Ríos eram reconhecido por sua longa trajetória cobrindo temas relacionados à criminalidade e por ter tido conflitos com alguns ex-prefeitos da região devido ao trabalho jornalístico.
O seu afã em denunciar injustiças lhe valeu uma grande popularidade entre os leitores, mas também inimigos como o ex-prefeito de Hueyapan, sua terra natal, que o ameaçou de morte em diversas ocasiões, segundo lembra o seu colega e diretor do Diario de Acayucan, Cecilio Pérez.
“Esse prefeito mandava prendê-lo, baterem nele e a todo momento o ameaçava de morte. Houve um período que deixou o Jornalismo pelas ameaças de Gaspar Gómez, mas retornou”, relatou o jornalista à AFP.
Impunidade estimula agressões
A CEAPP afirmou em comunicado que dava assessoria jurídica a Ríos sobre uma denúncia apresentada em 2012 ante a Procuradoria de Veracruz, embora não tenha dado detalhes sobre o motivo da ação legal.
Desde 2000, mais de 100 jornalistas foram assassinados no México, 11 deles em 2016, um número recorde. A organização Repórteres Sem Fronteiras informa que pelo menos 20 dessas mortes ocorreram em Veracruz.
Ana Cristina Ruelas, diretora da ONG em defesa dos jornalistas Artículo 19, disse à AFP que a falta de esclarecimento e impunidade das agressões estimulam para que a violência contra o coletivo continue.
“Enquanto não houver justiça, enquanto não houver verdade sobre as agressões a jornalistas no passado, as agressões contra a imprensa no estado de Veracruz não vão diminuir”, advertiu.
“Nos crivam […] sabendo que nossas armas não disparam balas, disparam verdades”, disse Ríos em vídeo gravado por ele mesmo antes de sua morte e que foi divulgado pela Artículo 19.
Ao longo do ano, foram assassinados outros oito jornalistas mexicanos, assim como um cinegrafista hondurenho que pedia refúgio no México após o homicídio de um colega em seu país.
Os nove jornalistas mortos são Cecilio Pineda, Ricardo Monlui, Miroslava Breach, Maximino Rodríguez, Javier Valdez, Salvador Adame, Jonathan Rodríguez, Luciano Rivera e o hondurenho Edwin Rivera.
A violência crescente se soma ao agravante de que 90% destes crimes continuam impunes.
Esta tendência aumentou após a ofensiva militar lançada pelo governo mexicano em 2006 contra o narcotráfico e que atiçou a violência em várias regiões do país.
Um relatório recente da Artículo 19 denunciou que as agressões cresceram 23% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período de 2016, enquanto o governo apresentou somente paliativos ineficazes e burocráticos.