Arte e persistência para poder comunicar


25/07/2007


José Reinaldo Marques
27/07/2007

Falta de equipamentos para cobrir excesso de pautas era uma constante no fotojornalismo do Amazonas, segundo Alberto César Araújo. Era preciso muita sorte para se conseguir realizar um trabalho de qualidade, diz ele:
— Essa é a nossa história: resistência e persistência. Falo da realidade de Manaus, não conheço profundamente outras localidades do Norte do País. Mas sou da época em que o repórter-fotográfico, com pouco material ou quase nada disponível, tinha que produzir e apresentar um trabalho decente. Lembro que, em 2001, quando fui ser editor de Fotografia no Diário do Amazonas, o fotógrafo carregava um filme colorido da Fuji cortado pela metade, o que dava para fazer cerca de 17 fotogramas, dependendo da sorte do profissional, para cobrir até cinco pautas por dia. Não dava para errar. Isto sem contar “os equipamentos sucateados e outras irregularidades”.

Para piorar, há dez anos o Jornal do Norte fechou e, recentemente, deixaram de circular o Correio Amazonense e o Estado do Amazonas. A boa notícia é que o mercado para não parou totalmente:
— Talvez a grande perda tenha sido o projeto do Correio, que tinha um departamento fotográfico. Sou suspeito para falar, pois era subeditor de Fotografia do jornal. Com a saída do Célio Jr., o editor, fiquei para apagar a luz. Formávamos uma equipe excelente, com uma filosofia de trabalho própria.

Aprendizado

Alberto César despertou para a profissão quando descobriu na casa de um amigo, cujo pai era fotógrafo, toda a coleção das revistas Íris Foto e Time Life:
— Minha fase de brincadeiras acabou ali e eu comecei a me interessar mais por imagens do que pelas letras. Devorava enciclopédias e a coleção da antiga O Cruzeiro, lia todos os jornais da cidade para o meu pai… As fotos me tocavam profundamente Quando fiz 15 anos, já sabia que ia ser fotógrafo. Aquilo era vital para mim.

Para completar, no último ano do colégio que estudava, em Fortaleza, havia uma cooperativa de professores, chamada Geo Studio, que nos intervalos das aulas promovia eventos que ficaram conhecidos como Varais de Fotografia. Deles participavam Vidal Cavalcante, José Albano, Ed Vigianni, Celso Fonseca, Jarbas Vasconcelos e Tiago Santana:
— Eu era o caçula dessa turma. Ver aquela produção só confirmou que era aquilo que queria fazer para o resto da vida. Não deu para ficar íntimo de nenhum deles, mas a obra de cada um me influencia até hoje.

Alberto diz que teve muita sorte no início de sua profissionalização:
— Não sabia nada, não tinha grana, nem alguém para me dar um rumo. Mas consegui participar de uma oficina de fotografia em Curitiba.

Largou a faculdade de Turismo, em Fortaleza, e pôs o pé na estrada:
— Queria sair da ilha em que vivia levando minhas companheiras: uma câmera Canon semiprofissional, duas lentes e muita cara-de-pau. Quando cheguei em Curitiba, a primeira oficina foi com o Zeca Linhares, que sorte a minha! Ele decodificou tudo aquilo para mim. Acabei ficando amigo do organizador da Semana de Fotografia que acontecia por lá, meu xará Alberto Viana, o Baiano. Os grandes nomes da fotografia brasileira estavam ali. Participei de quase todas as edições da Semana, que depois virou Bienal.

Decisão

Também em Curitiba, conheceu Valêncio Xavier — que considera um gênio — e a cinemateca local:
— Até pensei em fazer cinema e participei de um concurso para estudar em Cuba, mas não fui aprovado. Isto foi em 1992. Logo depois, voltei para Manaus e escrevi algumas críticas cinematográficas para O Amazonas em Tempo, primeiro jornal em que trabalhei quando voltei à cidade. Mas percebi que esta não era a minha praia. A fotografia foi tomando conta de mim.

A decisão definitiva pelo fotojornalismo aconteceu num dia 14 de agosto, data de seu aniversário e do registro de repórter-fotográfico, com direito a carteira da Arfoc. Começou a carreira fotografando peças teatrais de amigos e musicais:
— Mas meu interesse era fotografar as pessoas e seus costumes. E tinha aquela sensação de que a fotografia poderia transformar as coisas erradas. Nas redações quase não há mais espaço para este tipo de coisa. Onde estão os grandes ensaios? Uma alternativa está sendo a internet, os sites de agência de fotógrafos, como a Arcapress ou a Brasil Imagem, do Carlos Carvalho, e as iniciativas coletivas que a cada dia vêm crescendo em todo o País.

Hoje, Alberto divide seu tempo entre trabalhos para ONGs como o Greenpeace, a documentação da construção do gasoduto Coari—Manaus (da Petrobras), frilas para as agências Estado e Folha Press e a reestruturação do jornal Novo Amazonas Em Tempo, que passa por reformulação gráfica e editorial.

Em 2000, ganhou um concurso da Associação Brasileira de Magistrados, realizado com o apoio da ABI. No ano seguinte, venceu o Prêmio Esso de Fotojornalismo, com a foto “Horas de tensão” — de um homem que, transtornado com a separação, fez a família refém:
— A polícia já tinha isolado todo o quarteirão quando cheguei. A imprensa toda estava presente. Ao ver o pai com um dos filhos no colo sob ameaça de uma faca, prendi um pouco a respiração e, graças a uma tele 300mm, com duplicador, consegui o enquadramento e registrei. Essa foto representa muito para a minha carreira. Foi a primeira vez que um fotógrafo ganhou um Esso em Manaus.

O prêmio, segundo ele, representa a meta de toda uma geração de fotojornalistas que o precedeu, que inclui Márcio Silva, Euzivaldo Queirós, Clóvis Miranda, Hudson Fonseca e Franciney Mendes, que desistiu da carreira:
— Muitos deles tiveram trabalhos selecionados para finais de prêmios nacionais. Eu consegui ganhar alguns outros: fui finalista do Ayrton Senna e fiquei em segundo lugar no Salão de Mato Grosso. Prêmio é bom para ter seu trabalho reconhecido, mas não se deve viver em função deles. É apenas uma conseqüência, não o meio. 
 

 

                                          Clique nas imagens para ampliá-las: