11/01/2017
A BBC publicou que Clare Hollingworth, a ex-correspondente de guerra britânica que noticiou primeiro o início da Segunda Guerra Mundial, morreu aos 105 anos em Hong Kong. Nascida em Leicester, a cerca de 150 km de Londres em 1911, Hollingworth foi a primeira a informar a invasão alemã à Polônia em agosto de 1939, episódio que marcou o começo do conflito na Europa.
A jornalista passou boa parte de sua carreira nas frentes de batalha de conflitos em países como Vietnã, Argélia, Oriente Médio, Índia e Paquistão, além de ter coberto a Revolução Cultural na China.
Mas ela é mais lembrada pelo furo de reportagem ao anunciar o início da Segunda Guerra, em 1939, quando era apenas uma repórter iniciante, aos 27 anos. Ela noticiou a invasão alemã à Polônia durante sua primeira semana trabalhando como jornalista do “Daily Telegraph”. Nos últimos dias de agosto daquele ano, a fronteira entre os dois países estava fechada exceto para veículos diplomáticos.
Em sua autobiografia, a jornalista conta ter emprestado o carro de um funcionário do consulado britânico para ir até o lado alemão da fronteira, onde noticiou ter visto os tanques e armamentos das tropas nazistas, que se preparavam para atacar a Polônia.
Três dias depois, em 1º se setembro, Hollingworth noticiou o primeiro ataque alemão contra a Polônia, ao norte da cidade de Katowice. Ela conta que sua primeira ligação foi para a Embaixada britânica em Varsóvia e que o funcionário com quem conversou não acreditava na notícia.
“‘Ouça!’ Eu segurei o telefone para fora da janela do meu quarto. O ruído crescente de tanques cercando Katowice podia ser ouvido claramente”, diz a repórter em sua autobiografia. “‘Você não consegue ouvir?'”
Depois, ela telefonou para o correspondente do “Telegraph” em Varsóvia, que reportou a notícia para a redação do jornal, em Londres.
Refugiados
O site acrescenta que Hollingworth tinha um segredo que só foi divulgado muitos anos depois da Segunda Guerra: ela ajudou milhares de refugiados a fugir do nazismo.
Recentemente, ela recebeu um presente especial: uma mensagem de agradecimento de uma das refugiadas que ajudou a salvar.
Margo Stanyer tinha 4 anos de idade quando deixou a Polônia. Ela e sua mãe eram de uma família de comunistas da Hungria. Durante sua tentativa de fuga do nazismo na Europa, as duas foram presas na Polônia. Elas passaram fome por cinco dias na cadeia até que a mãe de Stanyer a segurou nas barras da cela e pediu que ela chorasse.
O choro chamou a atenção de uma integrante da resistência polonesa e as duas acabaram sendo resgatadas e levadas a um apartamento – onde foram entrevistadas por uma britânica.
Margo Stanyer, hoje com 81 anos, conta que guardou os documentos que lhe permitiram entrar na Grã-Bretanha – eles haviam sido autorizados por Hollingworth. Antes de ser jornalista, ela era uma ativista política que trabalhava para o Comitê Britânico de Refugiados.
Em Katowice, na Polônia, ela selecionava refugiados para enviar à Grã-Bretanha. Acredita-se que ela tenha negociado a emissão de vistos para entre 2 mil e 3 mil pessoas. Muitos vistos requisitados por Hollingworth acabavam, porém, eram negados pelo governo britânico. Talvez por causa disso – sentindo-se triste pelas pessoas que não conseguiu salvar – ela decidiu não revelar nada sobre essa atividade durante muitos anos.
Sua ação com os refugiados foi finalizada de forma abrupta após ela enviar pessoas “não desejáveis” pelo governo britânico. Logo em seguida, a jornalista iniciou sua atividade como correspondente do Daily Telegraph.
Hong Kong
No fim de sua vida, Hollingworth costumava frequentar o Clube dos Correspondentes Estrangeiros em Hong Kong. Tara Joseph, presidente do clube, disse que Hollingworth foi “uma grande inspiração” e “membro precioso” do clube. Uma declaração publicada na página de Hollingworth no Facebook diz: “Com tristeza anunciamos que, após uma carreira ilustre que abrangeu um século de notícias, Clare Hollingworth morreu nesta noite”.
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