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Ana Cláudia Costa – Adrenalina na cobertura policial


22/10/2007


Marcia Martins
26/10/2007

 Ana Cláudia e Domingos Peixoto

Ela começa o dia bem cedo na editoria Rio do Globo. Quando não está na escuta, pode contar que está cobrindo reportagens policiais. Quem vê Ana Cláudia Costa atuando no “front” (como gosta de dizer) não imagina que, com apenas 1,55m de altura, ela guarda disposição e determinação ímpares para subir morros e entrar em favelas durante operações policiais. Ela gosta da agitação do dia-a-dia; estar dentro da redação lhe causa impaciência. Quer logo pegar uma boa pauta de polícia e partir para uma cobertura na rua. Prova disso é que antes mesmo de dar “bom-dia” aos colegas de outras redações, por e-mail, faz a mesma pergunta todas as manhãs: “Algo para correr agora?”

Formada há 17 anos, mas trabalhando há 19 na área, Ana Cláudia Costa já passou pela Rádio Jornal do Brasil AM, a revista Manchete, o Jornal do Commercio, a Gazeta de Notícias (já extinto) e o Jornal do Brasil. Também fez frilas para o Estadão e a Folha de S.Paulo e passou por assessorias de imprensa, antes de chegar ao Globo, há sete anos.

A meta de Ana Cláudia é sempre estar na frente da notícia. Conhece vários policiais pelo nome e tem o privilégio de ter telefones pessoais de muitos deles:
— Tenho muitas fontes na polícia, que foram conquistadas com muito respeito e honestidade, sabendo diferenciar o que é “on” e o que é “off”. Para cobrir polícia, isso é primordial. Mas explico que, mesmo tendo-os como fontes, sou acima de tudo jornalista, e que o meu papel é informar, investigar e denunciar.

Entrevista

Se especializar em polícia aconteceu naturalmente, com o passar do tempo. A primeira matéria ocorreu quando ainda era estagiária, mas nem por isso teve menos importância. Foi convocada para fazer uma entrevista com o triunvirato do pó da Rocinha, formado por Naldo, Buzunga e Cassiano. Também entrevistou Flávio Augusto da Conceição no final da década de 80. Brasileirinho, como Flávio era conhecido, tinha apenas 13 anos quando se tornou popular por sua atuação na quadrilha de traficantes da favela da Zona Sul do Rio:
— Depois dessas matérias, já era, né? Fiz muita coisa desta época para cá, mas a cobertura de polícia acabou marcando e, para falar a verdade, gosto muito. Não tem rotina e é excitante.

Ana Cláudia deu furo de reportagem quando denunciou o uso de rádio amador pelos detentos dos presídios cariocas. Na ocasião, foi elogiada pelo então Secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos. Também já passou por muitas situações de risco, sendo a mais comum ficar no meio da favela sob tiroteio intenso. Uma das mais marcantes foi quando a Polícia Militar ocupou durante mais de dois meses o conjunto de favelas do Complexo do Alemão, no subúrbio, deixando dezenas de mortos:
— Depois de tanto tempo indo para o Alemão, passei a brincar com os colegas de profissão, dizendo que iria morar logo por lá. Passei a conhecer os donos de bares, o comerciante da malharia, o dono da barraca de frutas…

Enfrentou ainda momentos de tensão na ocupação do Morro da Mineira, no Centro, em que 13 bandidos foram mortos:
— Todo conflito dá medo, mas tem uma adrenalina que nos move e pede para irmos adiante com a matéria. Medo, adrenalina e tesão pelo trabalho são ingredientes necessários para fazer uma cobertura de conflito com responsabilidade, sem pôr a vida em risco e, claro, sem esquecer também da segurança, como colete à prova de balas, carro blindado etc. 

Coletivas

Se antes era mais fácil fazer matérias nas favelas e havia até coletivas com os bandidos, após a morte do jornalista Tim Lopes a realidade mudou:
— Hoje, nós somos os inimigos, os “X-9”, os “ratos”, como eles mesmo dizem, até porque, na maioria das vezes, entramos nas comunidades com a polícia. Mas a gente precisa continuar o trabalho do Tim. Temos que mostrar para a sociedade esse mundo paralelo e denunciar. Somos a ponta social que liga ou, pelo menos, tenta ligar essa cidade partida.

As matérias de polícia do currículo de Ana Cláudia não se restringem a tiroteios. Há poucos meses, fez uma reportagem no morro Tavares Bastos, na Zona Sul do Rio, onde o Batalhão de Operações Especiais (Bope) está instalado:
— Lá não tem milícia, nem tráfico de drogas. Gostaria de fazer muitas matérias iguais a esta.

Apesar de gostar muito da reportagem policial, quando perguntada se gostaria de cobrir outra área Ana Cláudia diz que queria experimentar a editoria de Política. E acha que o tipo de matérias que faria não seria muito diferente do que já faz hoje:
— Gostaria muito de Investigar a podridão da política, a corrupção. Sempre denunciando. Adoro isso.