Aldeia Maracanã em debate no Dia do Índio


22/04/2013


MesaDiadoÍndioA luta em defesa da Aldeia Maracanã não morreu com a desocupação violenta do prédio do antigo Museu do Índio, levada a cabo pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro no último dia 22 de fevereiro. Foi o que afirmaram líderes indígenas reunidos em uma audiência pública na sede da ABI, na última sexta-feira, 19 de abril, Dia do Índio.

José Guajajara, conhecido pelo nome indígena Urutau Tenetehara, lembrou os acontecimentos ocorridos no dia da invasão. Para ele, a ação do Governo do Estado reflete a forma como a questão indígena tem sido tratada e discutida em todo o País, reduzida à questão fundiária. Gujajara, uma das principais lideranças históricas da Aldeia Maracanã, lembrou que aquele era um espaço único, que congregava representantes das mais de 300 etnias indígenas do País.

Já Daniel Puri, professor de História da Universidade de São Paulo (USP) e também líder da Aldeia, demonstrou sua preocupação com o pouco que tem sido feito desde a remoção.

— Minha preocupação maior é que saiamos daqui sem alguma ideia do que fazer, com a consciência de o que aconteceu foi errado, mas sem saber o que fazer quanto a isso. O desafio é não deixar aquela cena se apagar, pois o Governo age como se estivesse assistindo os indígenas. Não se coloca com muita clareza na imprensa de que um grupo permaneceu no prédio até o fim e outro grupo saiu antes do prazo por um acordo com o governo. E há duas inverdades relacionadas a isso. A primeira, de que todos os indígenas que estavam na Aldeia Maracanã estão sendo assistidos. Outra questão é saber de que forma essa minoria que fez acordo com o Estado está sendo tratada. Porque ainda que eu não tenha feito acordo e não concorde com a atitude, eu não gosto de saber que há índios sendo enganados pelo Governo.

José Humberto Costa Nascimento, ativista dos direitos indígenas, conhecido também pelo nome indígena Tiuré Potiguara, manifestou sua intenção de iniciar uma greve de fome contra a política do Governo Brasileiro para os povos nativos. Tiuré, sobrevivente da Ditadura Militar e considerado Refugiado Político pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados, também luta pelo reconhecimento pelo Governo da sua condição de refugiado.

— A minha greve é também contra a política terrorista do Estado do Rio de Janeiro, usada contra os índios que lutam neste momento para recriar no antigo Museu do Índio um espaço de Universalidade Indígena, conhecida como Aldeia Maracanã. De plena e sã consciência realizo este ritual indígena de passagem como única forma de ação política, pacífica e de muita paz espiritual, diante do labirinto judicial, legislativo e executivo em que as questões indígenas se encontram hoje neste País. Levarei minha greve de fome até as últimas consequências caso o Estado Brasileiro não se pronuncie sobre as responsabilidades pelas violências causadas pela tropa de choque para desalojar recentemente  as famílias da Aldeia Maracanã.

André de Paula, anistiado político e advogado da Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) aproveitou a ocasião para oferecer uma das ocupações do movimento para que Tiuré possa usar como sede da sua empreitada. O advogado criticou ainda a demora do Estado em reconhecer o líder indígena como anistiado político.

— Os índios estão entre as maiores vítimas da Ditadura Militar. Mais de 3 mil deles foram mortos apenas por se oporem à construção da Transamazônica.

Apoio à causa

Estiveram presentes também em solidariedade à causa da Aldeia Maracanã Mércio Gomes, professor de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e ex-presidente da Funai (2003-2007); Carlos Walter Porto Gonçalves, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Geografia e do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais Milton Santos-LEMTO da UFF; Chico Alencar, Deputado Federal (PSOL-RJ) pelo terceiro mandato consecutivo; a atriz Tereza Seiblitz; e o cartunista Carlos Latuff.

Latuff disse estar orgulhoso de colocar seu trabalho a serviço da causa indígena. Para ele, a tomada do prédio é mais um retrato do processo de especulação imobiliária que vem em curso na cidade.

— Eu fui testemunha do momento em que os direitos humanos dos indígenas foram jogados no lixo. Isso está acontecendo, pois os indígenas estão no caminho da especulação imobiliária. É uma questão semelhante aos dos favelados. No caso dos indígenas, ainda há uma dívida reconhecida pelo Estado com essas populações, mas no casos das comunidades de favelas e quilombolas, o que se vê é a invasão do caveirões, agressão a moradores, remoções forçadas sem a menor justificativa. Isto que está acontecendo é só o começo. Com a Copa e Olimpíadas, vem o argumento do terrorismo. Caso seja aprovada uma legislação antiterror, será fato que os indígenas serão considerados terroristas, como já acontece no Chile com os maputi.

 

Texto: Igor Waltz