ABI lamenta o fim da Coleção Jorge Amado


18/11/2008


A ABI manifestou nesta segunda-feira, dia 17, seu protesto indignado contra a omissão do Ministério da Cultura diante do retalhamento da Coleção Jorge Amado, constituída por telas, gravuras, objetos de arte e outros bens que o escritor e sua esposa, a escritora Zélia Gattai, reuniram durante mais de 60 anos. O acervo, com um total de 576 peças e conjuntos de peças, será oferecido em leilão que começa na noite desta terça-feira no Atlântica Business Center (Avenida Atlântica, 1.130, 4º andar — Copacabana — Rio de Janeiro-RJ) e será encerrado na noite de sexta-feira, 21, no mesmo local.

Na declaração em que condenou o que qualificou de “crime contra a cultura nacional”, a ABI lamenta que o Ministério da Cultura, embora dirigido durante seis anos por um conterrâneo de Jorge Amado, o compositor e cantor Gilberto Gil, não tenha se sensibilizado com os apelos que os herdeiros de Jorge Amado e Zélia Gattai fizeram durante quatro anos para garantir a preservação e integridade do acervo. As peças de mais alta avaliação são uma gigantesca tela de Djanira mostrando um culto de candomblé, uma imagem de São Francisco em tela de Alfredo Volpi e um retrato de Oswald de Andrade por Anita Malfatti, oferecidos pelos preços iniciais de R$ 800 mil, R$ 760 mil e R$ 740 mil, respectivamente.

A ABI censura igualmente a omissão do Governo do Estado da Bahia em relação não apenas ao acervo que será agora retalhado, mas também diante das dificuldades enfrentadas pela Fundação Casa de Jorge Amado, sediada no Pelourinho, em Salvador, que constitui um importante centro de preservação e divulgação da obra de Jorge e é uma das mais procuradas atrações turísticas de Salvador.

A declaração da ABI, cujo texto será encaminhado ao Ministro da Cultura, Juca Ferreira, e ao Governador da Bahia, Jaques Wagner, em expediente formal da Casa, está assim redigida:

“A Associação Brasileira de Imprensa lamenta que o Ministério da Cultura e o Governo Federal tenham permitido o retalhamento da Coleção Jorge Amado, integrada por nada menos de 576 telas, gravuras, objeto de arte e outros bens que o grande escritor baiano e sua esposa, a escritora Zélia Gattai, reuniram durante mais de 60 anos e que estão sendo vendidos no Rio de Janeiro em leilão programado para os dias 18 e 21 de novembro corrente.

Essa grave omissão dos organismos responsáveis pela gestão cultural no País constitui imperdoável ofensa à memória de Jorge Amado, priva o povo brasileiro do acesso a um conjunto artístico que retrata o prestígio do escritor junto a criadores de arte do Brasil e do exterior e promove um intolerável corte num dos momentos mais importantes da nossa vida cultural, já que o acervo de Jorge e Zélia reúne a criação dos mais destacados artistas do Brasil e da Bahia num dos períodos mais fecundos da nossa vida artística e intelectual. Tal indiferença apresenta outra conseqüência intolerável: desmancha a presença estelar que Jorge Amado alcançou entre os maiores artistas do Brasil e o carinho que deles recebeu.

É pena que o Ministério da Cultura, mesmo tendo à frente durante seis anos um conterrâneo de Jorge Amado, o compositor e cantor Gilberto Gil, não se tenha sensibilizado com os apelos que durante quatro anos foram feitos pelos herdeiros do escritor para impedir o desfazimento de acervo tão importante e a apropriação particular das peças que o integram, as quais deveriam formar o Museu Jorge Amado ou constituír uma seção importante de alguma das instituições culturais do País. Nesse ponto, aliaram-se em pernicioso alheamento o Ministério da Cultura e o Governo do Estado da Bahia.

É igualmente lamentável que a memória e o legado cultural de Jorge Amado sejam tão menosprezados pelos que, como agentes do Poder Público, têm o indeclinável dever de salvaguardar e preservar bens significativos da cultura nacional. Pelo mesmo abandono e pelo mesmo desinteresse está sendo sacrificada a Fundação Casa de Jorge Amado, sediada no Pelourinho, em Salvador, que se arrasta em dificuldades por não contar com a indispensável assistência do Ministério da Cultura e do Governo do Estado da Bahia e depende para sua manutenção de desembolso financeiro permanente que excede a capacidade econômica dos herdeiros do escritor.

A Associação Brasileira de Imprensa faz este registro com tristeza e com um protesto indignado diante do crime que se está a perpetrar, com a cumplicidade do Poder Público, contra a memória de Jorge Amado e Zélia Gattai e contra a cultura nacional.

A ABI conclama as instituições culturais e entidades representativas da sociedade civil a dirigirem mensagens de protesto ao Presidente da República, ao Ministro da Cultura e ao Governador do Estado da Bahia, para que esse clamor deixe claro que esta agressão à cultura do País encontra o repúdio da consciência nacional. 

(a) Maurício Azêdo, Presidente.”