ABI lembra os 15 anos da morte de Tim Lopes


02/06/2017


Na mesa debatedora André Luiz Azevedo, Bruno Quintella, Domingos Meirelles e Beth Costa

Com a exibição do filme documentário ‘Tim Lopes – Histórias de Arcanjo’, a Associação Brasileira de Imprensa lembrou, nessa sexta-feira, dia 2, os 15 anos da morte do jornalista Tim Lopes, assassinado no Complexo da Penha no dia 2 de junho de 2002, quando cobria denúncia de prostituição de menores em um baile funk, na comunidade da Vila Cruzeiro. A cerimônia contou com a presença de parentes e amigos do jornalista e foi marcada por muita emoção.

Dirigido por Guilherme Azevedo e Bruno Quintella, filho de Tim Lopes, o filme revela o olhar social do jornalista. Bruno revisita os locais e as fontes de Tim Lopes para reconstruir a trajetória de Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento. “Se a morte do Tim trouxe muito receio por parte da imprensa, ela deixa espaço para uma reflexão sobre o papel do jornalista e da responsabilidade da sociedade na questão da violência. Ele deixou um legado para os jovens e moradores das comunidades menos favorecidas”, disse Bruno durante abertura da solenidade.

O jornalista e documentarista Bruno Quintella

Bruno é o fio condutor do filme, enredado através de uma carta escrita pelo pai em 1999, quando alertava o filho sobre os perigos da vida adulta. Dez anos depois, ao encontrar a carta no fundo de uma gaveta, ele decide procurar pelo pai através de relatos de amigos e descobre que, além de repórter, Tim também era maratonista, fundador de bloco de carnaval, exímio pé-de-valsa das gafieiras cariocas. O longa-metragem revela também o brilhante repórter da mídia impressa que poucos conhecem.

Após a exibição, houve uma mesa-redonda com profissionais que trabalharam com o jornalista. Na mesa de debates estiveram presentes os jornalistas André Luiz Azevedo da Rede Globo, de Beth Costa, secretária-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e do documentarista Bruno Quintella. O debate foi mediado pelo presidente da ABI Domingos Meirelles.

Em seu discurso, Domingos Meirelles abriu o encontro lembrando que teve o privilégio de trabalhar com o repórter. Domingos conta que após a morte de Tim Lopes, em que a imprensa foi proibida de entrar nas comunidades por questão de segurança dos profissionais, a reportagem nunca mais foi a mesma.

“Um detalhe me chamou atenção desde que tive o primeiro contato com o Tim. Ele tinha a capacidade de enxergar os “invisíveis”. Ele respirava reportagem. O fato de ele andar de transporte público e de transitar entre a população nas ruas desenvolveu esse olhar diferenciado. Como dizia o companheiro Ricardo Kotscho, “lugar de repórter é na rua”. Os melhores personagens dele estavam nas ruas. Mas com o assassinato de Tim, passou-se a discutir sobre ética profissional. A partir daí as equipes de reportagem jamais poderia negociar com os traficantes nas comunidades e os repórteres foram se isolando nas redações”.

Em seguida, Beth Costa recordou que a imprensa carioca se uniu com o assassinato de Tim Lopes, que foi um divisor de águas na questão da segurança dos jornalistas. “Começou um debate muito grande sobre a questão da segurança da categoria. Toda a imprensa, dos jornais impressos e da TV, se reuniu para investigar o crime. O monitoramento dos profissionais mudou muito após seu falecimento, levando ao isolamento das equipes. A morte do mensageiro provocou a reação da categoria, temos que reagir. O jornalismo é atividade essencial para desenvolver a democracia.  Esse ano já morreram 30 profissionais de imprensa no mundo, a maior parte no México”.

O jornalista André Luiz destacou a criatividade e o olhar diferenciado do contemporâneo e companheiro de profissão que se “colocava no lugar do outro”. “Ele fazia um jornalismo investigativo mais voltado para o social. Esse tipo de reportagem faz muita falta. Tim foi o grande responsável por dar voz às comunidades de poder de falar por si própria sem depender de terceiros. Impressionante como ele conseguia, através do olhar dele nas ruas, perceber que ali estavam as grandes matérias, as pautas diferenciadas, menos burocráticas. Ele deu voz a quem não tinha”.

O jornalista e produtor do filme Bruno Quintella finalizou o encontro falando sobre a mudança da relação da imprensa com as comunidades após o assassinato de Tim Lopes. “Não existia a expressão “área de risco”. Com a sua morte a capacidade que o repórter tinha de circular acabou. Eu fiz questão de mostrar no filme o relacionamento que ele mantinha com as fontes. Eu quis mostrar um Tim do jornalismo impresso que poucas pessoas conheciam. O texto dele, com uma linguagem coloquial. Ele não santificava nem demonizava ninguém. Apenas retratava. Quis mostrar um Tim Lopes transformado em Arcanjo. O homem. Eu não só tenho saudades do Tim, sinto muita falta de meu pai”.

Concurso Viva Tim Lopes – Documentários Universitários

Durante a solenidade, o jornalista Emílio Galo, presidente do Canal Universitário Unisuam, anunciou  o lançamento nacional do concurso UTV/Canal Brasil ‘Viva Tim Lopes’, destinado a estudantes universitários. Os interessados devem consultar o edital facevvok.com/canalutv e enviar seu filme até o dia 15 de outubro deste ano.