A política e Luiz Pinto, o repórter-fotográfico


15/09/2021


Publicado na revista da ARFOC

Luiz Pinto era o repórter-fotográfico por excelência, um “pau pra toda obra” como dizem, mas se destacou pelas fotografias sobre política, tendo sofrido influência principalmente do jornalista Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa, onde trabalhou no início de sua trajetória e onde encerrou sua nobre  missão de informar no início do século XXI. Pinto se destacou na equipe do Correio da Manhã, principalmente durante o período em que Erno Schneider foi o editor de fotografia. (Leia mais depois das fotos).

Presidente Castelo Branco

Garrincha e Presidente Médici

 Geisel e as medalhas

 Castelo Branco com Costa e Silva   

Fotos acima de Luiz Pinto, acervo ARFOC.

Abaixo, o fotógrafo, na lente de Everaldo DÁlverga

O prazer pela imagem veio em seu DNA,  nasceu em uma casa em que todos respiravam fotografia. Filho de Brito Pinto, que chefiava o setor de fotografia do jornal O Liberal, de Belém do Pará, começou a trabalhar como assistente do pai ainda menino e no ano de 1949 entrou para o jornal na função de repórter fotográfico. O velho Brito, como era conhecido, chegou a chefiar os quatro filhos, Luis, José, Carlos e Pedro.

“Somos nove irmãos. Os nove irmãos nasceram numa casa de fotografia. Cinco homens, todos cinco repórteres fotográficos e quatro mulheres. As quatro mulheres eram também fotógrafas, mas de estúdio. Quer dizer… Nós nascemos em uma casa de fotografia.”

Em 1950 vai trabalhar nos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. No ano de 1955 vem para O Rio de Janeiro. Trabalha dois anos na revista Manchete. Volta para Belém em 1958 para se juntar à família que é toda de repórteres fotográficos. Em 1961 passa a morar definitivamente no Rio de Janeiro. Consegue trabalhar, ao mesmo tempo, em três jornais importantes, o Correio da Manhã, de Paulo Bittencourt, o Última Hora, de Samuel Wainer e o Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda.  Quando trabalhou no jornal O Globo era um dos quatro chamados fotógrafos especiais, que Erno Schneider tinha criado, Sebastião Marinho, ele, Anibal Philot e o  Eurico Dantas. 

Nesse fio da navalha de trabalhar para os dois maiores rivais da história do jornalismo brasileiro, Samuel Wainer e Carlos Lacerda, aprendeu muito. Segundo Alcyr Cavalcanti também apanhou bastante ao procurar o melhor ângulo para fotografar os abusos dos militares durante o período de trevas que assolou o Brasil, após o primeiro de abril de 1964. Para Alcyr “Luiz Pinto era um repórter fotográfico por excelência porque ele tinha muita agilidade e muita noção do que era notícia. Em função disso sempre se destacou pela cobertura fotográfica nos “anos de chumbo”… O Luiz Pinto, por temperamento, era um fotógrafo muito acirrado, muito brigão e já era sabido em grandes coberturas que ele se expunha muito. Ele entrava no meio do conflito e geralmente apanhava muito da polícia. Isso já era famoso. Na época do golpe militar ele foi espancado várias vezes. Era uma característica dele, onde o Luiz Pinto estava tinha pancadaria. Realmente sobrava pra ele porque ele se expunha muito”.

Em 1996, em entrevista para o PAPARAZZI, nº 54, jornal mensal da Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro – ARFOC, Pinto reclama que agora já não é mais como nos velhos tempos. “A garotada tem mais sorte  porque o nível de exigência profissional é muito menor. Hoje, quando alguém diz que não pode, não dá, até eu volto sem foto. A maioria não sabe trabalhar. Usam a grande angular em tudo, com medo de perderem o emprego. Por isso é aquele tumulto na hora de fazer a foto. Não sabem dar espaço para todos poderem fazer o melhor. Só usam a teleobjetiva em jogo de futebol”.

Luiz Pinto encerou a carreira em 2002 no velho prédio da  Tribuna da Imprensa, de Hélio Fernandes, na Rua do Lavradio e com esse histórico todo continuava a declarar, em 2003, que fotografar hoje para jornal é mais fácil. “Hoje em dia não tem problema não, porque quando você sai do jornal você já tem uma orientação para não arrumar problema. Hoje em dia é assim. Contigo, comigo, com qualquer um. Com isso é ruim para o fotojornalismo”.

Apesar das dificuldades que enfrentou, Luiz Pinto não se arrependeu de ter escolhido o fotojornalismo como profissão. “Eu fui durante muitos anos repórter fotográfico de imprensa, acabei a minha vida profissional como retratista de empresa. Essa é uma das coisas que me afastou do jornal. Não estava sentindo mais motivação para continuar na profissão e acabei na profissão assim… Mas realizado! Faria tudo de novo se fosse possível”.

 Trechos da Entrevista a Everaldo d”Alverga e PAPARAZZI número 54.