A culpa é da imprensa! Quero mais notícias sobre o esporte olímpico brasileiro


21/07/2022


Por José Trajano, no UOL


Alison dos Santos, o Piu, campeão mundial de atletismo: a imprensa precisa dar espaço a esses atletas
Steph Chambers/Getty Images

A culpa é da imprensa! E é mesmo.

Quando iremos saber mais notícias do Piu, da Vitória Rosa, do Danielzinho, do Caio Bonfim, do Darlan Romani, do Thiago Braz? Só quando eles participarem de algum grande evento, como a Diamond League, ou de um outro Mundial?

Agora, tudo são flores ou quase. Eles são exaltados, dão entrevistas após as competições, tem uma outra reportagem sobre eles publicada em site ou mostrada em algum canal de esportes.

Quando iremos saber mais sobre as meninas dos esportes aquáticos — Jhennifer Conceição, Viviane Jungblut, as dos revezamentos 4×100 m e 4×200 m —, do Cachorrão Guilherme Costa, do interminável Nicholas Santos, da turma dos saltos (Ingrid Oliveira, Rafael Fogaça), do polo aquático e da maratona, além da campeoníssima Ana Marcela?

Quando iremos saber mais sobre as nossas seleções de basquete e de vôlei? Quem são na intimidade a Kisy, a Carol, a Macris, o que o maravilhoso Zé Roberto projeta para essa nova geração? E, no masculino, o que está acontecendo?

E no basquete, como são feitos os treinamentos das seleções? O feminino terá novamente um lugar ao sol, vai conseguir se classificar para Paris? E o masculino, chegará aos Jogos Olímpicos depois de ficar de fora de Tóquio?

A pauta é extensa. Tem judô feminino da Mayra Aguiar, Ketleyn, da Rafaela Silva; boxe da Bia, do Abner, do Keno Marley; skate da Fadinha e da Pâmela; o handebol que tem atletas espalhadas pelo mundo afora. E vai por aí: tênis de mesa, tiro com arco (Marcus D’Almeida vai muito bem), taekwondo, levantamento de peso, o permanente sucesso da dupla Martine Grael e Kahena Kunze na vela, a vitoriosa ginástica da Rebeca e da Flávia, e muito mais.

Louvo o esforço do colunista Demétrio Vecchioli no UOL, o sensacional trabalho de Fernando Gavini e sua turma no Olimpíada Todo Dia, os programas da BandSports — o semanal Maratona, com o abnegado Álvaro José, e o mensal Olímpicos, com Thiago Kansler —, o excelente Ça Va Paris, no Sportv, sob o comando do grande Marcelo Barreto, com participação da extraordinária Fabi Alvim (a exemplo do que fizeram na Olimpíada passada, com o Ohayo Tóquio); e a presença de um atleta ou outro no Bola da Vez, da ESPN.

Louvo as transmissões de Mundiais e das competições de esportes aquáticos, judô, atletismo, ginástica, basquete, skate, vôlei, tênis de mesa, boxe e tantos outros, além dos grandes torneios de tênis, é claro.

Quero mais, muito mais. Não basta transmitir e depois não acompanhar a batalha, o dia a dia, a perseverança, o suor dos nossos atletas. Falamos deles um tempinho e depois os trocamos pelas cansativas mesas redondas de futebol, uma atrás da outra, em sequência mesmo. Futebol dá audiência, é o esporte dos brasileiros, quem não sabe disso? Mas o excesso é desanimador, até irritante às vezes.

Falta jornalismo. Faltam programas com os repórteres junto aos atletas, como faziam Roberto Salim, Ronaldo Kotscho, Marcelo Gomes e Helvídio Mattos em programas saudosos da ESPN.

A imprensa pode ajudar e muito. Mas não ajuda o suficiente.

A TV Cultura, por exemplo, teria obrigação de cobrir para valer, com reportagens, jornal diário e transmissões das finais de alguns esportes, os históricos Jogos Abertos do Interior. A competição é berço de grandes atletas e está abandonada pelo descaso. Afinal, a tevê é da Fundação mantida pelo Estado de São Paulo. E essa obrigatoriedade deveria constar no estatuto da Padre Anchieta.

O mesmo poderia se dar na renovação da concessão dadas pelo Governo Federal às redes de televisão. Ano que vem terminam as concessões da Record, SBT e, não tenho certeza, da Rede TV. Deveria constar a obrigatoriedade de dedicar x horas semanais aos esportes olímpicos, com transmissões e reportagens especiais.

Qual programa de tevê que se ocupou, fez matérias ou dedicou alguns minutos para noticiar a luta dos atletas pela continuidade da Lei de Incentivo ao Esporte, que passou pelo Congresso, além dos que citei acima? É um mero exemplo.

Fiquemos por aqui. O desabafo foi dado. Desabafo de um velho batalhador pelo esporte de inclusão, que sempre esteve na luta por um esporte transformador.

O esporte olímpico brasileiro irá nos encantar e emocionar como aconteceu agora com a exceção Alison quando as tevês abrirem mais espaços para nossos bravos atletas, que precisam de visibilidade para arranjar patrocínios, de estímulo para continuar nos fortes treinamentos.

Caso contrário, continuaremos a ouvir o lenga-lenga de sempre das intermináveis mesas redonda sobre futebol…