Carlos Marighella recebe anistia política post mortem


10/07/2013


Senador João Capiberibe (PSB-AP);  Carlos Augusto Marighela, filho do homenageado; e Paulo Abrão Pires Júnior, presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, apresentam o certificado de anistiado político de Carlos Marighella, durante a solenidade. (Crédito: Pedro França/Agência Senado)

Senador João Capiberibe (PSB-AP); Carlos Augusto Marighela, filho do homenageado; e Paulo Abrão Pires Júnior,
presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, apresentam o certificado de anistiado político de Carlos
Marighella, durante a solenidade. (Crédito: Pedro França/Agência Senado)

Durante sessão solene, realizada na última segunda-feira, 8 de julho, no Plenário do Senado Federal, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça concedeu o certificado de anistiado político a Carlos Marighella. A solenidade, que também comemorou o centenário de nascimento de um dos principais nomes da resistência à ditadura militar no Brasil após 1964, também foi marcada pelo lançamento do livro “Rádio Libertadora, a palavra de Carlos Marighella”. O livro foi organizado por Iara Xavier Pereira, em parceria com o Ministério da Justiça.

O filho do ex-guerrilheiro, Carlos Marighella Filho, destacou o atual reconhecimento público e político da luta empreendida pelo pai. “Passei minha vida esperando para que momentos como este fossem acontecendo. Sempre tive certeza de que era minha obrigação lutar para que a dignidade do meu pai fosse restabelecida e vejo sempre com gratidão as instituições, os movimentos e as personalidades de nossa vida política reconhecerem”, afirmou emocionado.

Já a senadora Lídice da Mata (PSB-BA), em discurso durante a sessão, afirmou que Marighella inspirou os mais jovens, ofereceu sua própria vida como exemplo de integridade e amor ao povo. “Nesses dias em que a nossa juventude, e nosso povo em geral, parecem ter descoberto a força da ação coletiva nas ruas de nossas cidades, contestando a política institucional, os partidos e seus líderes, é extremamente oportuno lembrar um homem que acreditava na política como um instrumento indispensável para a transformação das sociedades, que acreditava na necessidade de partidos como instrumentos coletivos de ação política e que acreditava como poucos na Justiça e na liberdade”, disse a senadora.

Vida e luta

Filho de um migrante italiano, o operário Augusto Marighella, e de uma negra e filha de escravos Maria Rita do Nascimento, Carlos Marighella nasceu no ano de 1911, em Salvador-BA. Teve sete irmãos e irmãs. Começou a militância política no Partido Comunista Brasileiro (PCB) na década de 1932. Esteve preso por várias ocasiões, todas elas relacionadas à militância política.

Iniciou os estudos no Ginásio da Bahia, hoje Colégio Central. Em 1929 ingressa no curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Bahia. Eleito deputado federal em 1945, teve o mandato caçado em 1948. No ano de 1967 funda a Ação Libertadora Nacional (ANL), organização clandestina que defendia a luta armada em defesa da liberdade e dos direitos civis cerceados pelos governos militares. A decisão de fundar a ANL foi tomada após o ex-guerrilheiro ter saído do PCB no ano anterior, em 1966.

Em 1968 a ANL realiza ações armadas e assaltos a bancos com o objetivo de conseguir dinheiro para sustentar a própria luta armada e construir um partido dissidente da linha política praticada pelo PCB. Nesse período a ANL, com o apoio do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) realizou o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, cuja libertação foi posteriormente negociada pela soltura de outros quinze presos políticos.

Considerado inimigo público número um do governo militar, com o rosto impressão em cartazes de “procurados”, Marighella chegou a redigir o Mini-manual do Guerrilheiro Urbano. Apesar de estar bem preparado para este tipo de guerrilha, foi morto numa emboscada montada por agentes do Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS) em São Paulo, às oito horas da noite, em 4 de novembro de 1969.

*Com informações da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.