ONG Vladimir Herzog aplaude matéria da Folha


07/02/2012


O Instituto Vladmir Herzog divulgou nota nesta terça-feira, dia 7, posicionando-se sobre a matéria publicada no jornal Folha de S. Paulo, no último dia 5, na qual Sivaldo Leug Vieira, à época fotógrafo da Polícia Civil de São Paulo, admite ser o autor da foto do corpo do jornalista Vladimir Herzog registrada em outubro de 1975, na cela do DOI-Codi, numa simulação de suicídio por enforcamento. 

O Instituto Vladimir Herzog, entidade sem fins lucrativos e com neutralidade político-partidária, foi fundado em 25 de junho de 2009, com o objetivo de contribuir para a reflexão e produção de informação garantindo o direito à vida e o direito à justiça através de três pilares: Preservar, Construir e Compartilhar. A nota assinada pela organização tem o seguinte teor:
 
“O Instituto Vladimir Herzog congratula-se com a Folha de S.Paulo pela reportagem O Instante Decisivo, de autoria do repórter Lucas Ferraz, publicada no dia 5 de Fevereiro último, em que o sr. Silvaldo Leung Vieira admite ter sido quem fotografou o corpo do jornalista Vladimir Herzog, com os joelhos dobrados e apoiados sobre o solo, tendo uma corda envolvendo seu pescoço e presa a uma janela. A foto foi feita em 25 de Outubro de 1975, numa cela do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna), notório órgão de repressão política da ditadura que dominava o Brasil na época.
 
Essa documentação fotográfica da farsa montada nos porões do totalitarismo se destinava claramente a coonestar a versão formalizada em nota oficial pela ditadura, no sentido de que Vlado – como era conhecido pelos amigos – se suicidara. Em conseqüência de processo movido pela viúva Clarice Herzog, tal versão foi posteriormente desmentida pela Justiça e pelo governo brasileiros, que reconheceram ter o jornalista sido torturado e assassinado pelos esbirros que povoavam os cárceres da ditadura. Vlado foi o 38º preso político cuja morte foi oficialmente classificada como suicídio – forma usual de disfarce para o que não passava de assassinato.
 
Mas a publicação, agora, dessa reportagem se torna extremamente oportuna logo após a sanção, pela Presidência da República, da Lei de Acesso a Informações Públicas e dá renovada urgência à necessidade de implantação e ativação da Comissão da Verdade, com a nomeação de seus membros pela presidenta Dilma Rousseff.
 
Dedicado à luta pelos direitos humanos à vida e à justiça, o Instituto Vladimir Herzog acredita que uma das primeiras missões dessa Comissão deveria ser a de inquirir o sr. Silvaldo Leung Vieira, com total transparência e isenção, para que ele esclareça pormenorizadamente as circunstâncias em que realizou a foto em questão, de forma a permitir o aprofundamento e ampliação da investigação.
 
Segundo ele, na condição de fotógrafo da Polícia Civil de São Paulo, recebeu ordem para fazer esse trabalho por requisição do DOPS-Departamento de Ordem Política e Social. Mas quem lhe teria dado essa ordem? Em outras palavras, quem era seu chefe? E quem eram os outros 23 fotógrafos que, segundo ele, foram aprovados no concurso que selecionou esses profissionais para trabalhar na Polícia Civil? O que eles fotografavam, por ordens de quem e o que mais faziam? Por que agora, 36 anos mais tarde, ele resolve se expor publicamente e contar sua história? Que outras pessoas o conheceram na época em que aqueles fatos ocorreram? E muitas outras perguntas.
 
Tudo isso e mais, acreditamos, deve ser investigado, de forma sábia, objetiva e desapaixonada – mas esclarecedora – pela Comissão da Verdade.   
 
São Paulo, 7 de Fevereiro, 2012″
 
 
 
*Com Instituto Vladimir Herzog.