Jornalista cubano fala sobre o racismo na ilha


15/06/2009


 Raimundo Gomez Navia

Em viagem ao Brasil para participar de um congresso da Associação de Estudos Latino-Americanos (LASA, na sigla em inglês), realizado na PUC-RJ, no qual fez uma palestra sobre o racismo em seu País, o jornalista e cientista social cubano Raimundo Gomez Navia visitou a sede da Associação Brasileira de Imprensa, onde foi recebido por membros da Diretoria e pelo Presidente da Casa, Maurício Azêdo.

O visitante aproveitou para assistir à exibição do filme ¡Salud!, na sessão de lançamento da “Mostra de filmes cubanos”, promovida pelo Cine ABI em parceria com a Casa da América Latina, Associação dos Cubanos Residentes no Brasil e a ONG Medical Education Cooperation with Cuba.

Raimundo Gomez Navia graduou-se em jornalismo em 1972, pela Universidade de Havana, mas exerce a profissão desde 1966, tendo atuado nas funções de redator, correspondente e editor-chefe. Atualmente trabalha para o jornal Juventud Rebelde (o segundo de maior circulação em Cuba) e dirige as redações das revistas Juventud Tecnica e FEEM, esta última dirigida a estudantes secundaristas. Raimundo também é o chefe da equipe de jornalistas que trabalham na Rádio Havana.

Entre os anos de 1987 e 1989, Raimundo Gomez foi Vice-presidente para a América Latina do Programa Internacional para o Desenvolvimento das Comunicações (PIDC) da Unesco:
— Naquela época a minha função era atender a projetos para a formação e capacitação de jornalistas de rádio, TV, cinema, revistas e jornais, que iriam atuar sobretudo nos meios comunitários. Agora, estamos na luta contra os grandes meios que se opõem à nova ordem internacional da informação e da comunicação. É um combate ideológico em todos os sentidos, afirmou. 

Racismo

Como cientista social e jornalista, Raimundo trabalha em duas linhas de pesquisa: uma sobre os meios de comunicação; e a outra sobre o tema cidadania e discriminação racial. Este foi o tema da sua palestra no evento da LASA na PUC do Rio, onde falou sobre a “Dimensão da desigualdade do haitiano e seus descendentes em Cuba”:
— Este tema é fruto de uma pesquisa à qual eu me dedico há 17 anos, e resultou inclusive em um capítulo do livro “De dónde son los cubanos”, que escrevi em parceria com outros dois autores. Na obra, explicamos que na formação da sociedade cubana estão jamaicanos, haitianos, judeus e chineses.

Segundo Raimundo, os haitianos têm sofrido com o racismo em Cuba, desde antes da Revolução, em 1959, período em que os negros eram discriminados de todas as formas:
— O haitiano que chegava a Cuba para trabalhar nas lavouras de cana de açúcar sofria mais ainda. Era discriminado pelos brancos, mas também pelos negros cubanos. Um cubano negro preferia ver sua filha morta a vê-la casada com um haitiano. Esta situação mudou com a Revolução.

O pesquisador informou também que a legislação do país proíbe toda manifestação de racismo e discriminação:
— A Revolução eliminou a discriminação racial em Cuba. Durante 400 anos a sociedade cubana viveu com os fenômenos das desigualdades sociais e raciais. Mas passados 50 anos da Revolução, o racismo ainda persiste na mente e nas atitudes do povo. Vemos isso inclusive nas piadas racistas, quando se diz que os negros não são inteligentes, e nas manifestações sutis de intolerância religiosa. 

Bloqueio

Com mais de 5 mil sócios, 25% dos quais residindo fora dos Estados Unidos, a LASA é uma associação que reúne especialistas de todas as disciplinas e profissões, que dedicam-se à promoção do debate intelectual, estudo e ensino sobre a América Latina e Caribe em todo o mundo. Esta é a segunda vez que Raimundo Gomez participa do Congresso da organização. A primeira, foi em 2007, em Montreaux, no Canadá, do qual participaram 100 cubanos.

Segundo Raimundo, os cientistas cubanos tiveram dificuldades de participar desse congresso por causa de uma suposta determinação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos de que os cubanos não podem receber ajuda de custo:
— Nenhum dólar pode ser repassado aos especialistas de Cuba. Diferentemente de outros pesquisadores, se quisermos participar dos congressos da LASA temos que arcar com recursos próprios ou contar com a ajuda de universidades ou entidades de pesquisa.

Raimundo acha que isso é um reflexo do bloqueio norte-americano a Cuba:
— Sem querer polemizar a questão política, o fato é que o Governo dos Estados Unidos proíbe que haja intercâmbio cultural e acadêmico entre os seus cientistas e os especialistas cubanos. Isso tem dificultado a nossa participação. O bloqueio, que eles (Estados Unidos) chamam de embargo não é neutro é uma realidade.

Por causa dessa questão, segundo o cientista cubano, a direção da LASA tem procurado realizar os encontros fora do território norte-americano.