Um artista que adorava o poder das palavras


25/05/2010


Entre os anos 80 e 90 o jornalista, poeta e pintor Pedro Macário Ferreira (1935-2010) foi colaborador do Jornal da ABI escrevendo sobre a história da caricatura brasileira e também artigos literários sobre as obras de poetas e escritores nacionais. Assim como Álvarus, foi um dos grandes colaboradores das publicações da Casa, contribuindo com uma série de textos (disponíveis na coleção do Jornal da ABI na Biblioteca Bastos Tigres) que abordavam de modo peculiar a criação de alguns dos mais importantes artistas do Brasil, do texto e do desenho, a exemplo de J. Carlos.

Pedro Macário estreou como colunista no Jornal da ABI, em 1986, no exemplar nº 11, de setembro/outubro daquele ano, com o artigo “O jornalista Humberto de Campos, humor e sofrimento”. No texto, ele comenta a obra do poeta, jornalista e escritor Humberto de Campos (1886-1934) — eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1919 —, que reúne 32 volumes, entre contos, poesias, crônicas e críticas.

Muitos foram os autores nacionais importantes que tiveram as suas obras esmiuçadas por Pedro Macário, entre os quais Carlos Drummond de Andrade, saudado no artigo “Drummond: prosa, poesia e caricatura”, publicado no Jornal da ABI de setembro/outubro de 1987. O texto traz uma série de curiosidades sobre o poeta mineiro, entre os quais os seus pendores artísticos para o desenho.

Nássara

Nássara (1910-1995) e K. Lixto figuram na lista de caricaturistas, cujas obras foram abordadas por Pedro Macário na sua série de artigos para o Jornal da ABI. Sobre o primeiro — que também era compositor e teve uma carreira de êxito no jornal carioca O Globo, onde ingressou em 1927 — Macário escreveu classificando-o como um “carioca genial” que desenhava com estilo moderno: “Sem exagero, no modo de ser, na carioquice, na música popular e, principalmente como desenhista é um gênio… Assim como Picasso na pintura, Nássara é dono de um estilo próprio. Ele é também um artista moderno”.

Já o desenhista, caricaturista, pintor e capista niteroiense Calixto Cordeiro (1877-1956) — que se assinava K. Lixto — atraiu a atenção de Pedro Macário por causa do seu estilo de desenhar bem brasileiro. No artigo que escreveu sobre ele, Macário o descreve como um dos grandes artistas gráficos brasileiros do final do século XX, “criador da caricatura brasileira moderna, livre dos padrões europeus”.

Heranças

Humberto de Campos

Pedro Macário nasceu em 5 de abril de 1935, na pequena e agradável cidade de Mangaratiba (RJ) que serviu de cenário para o filme “Limite” considerado por ele a obra prima de Mário Peixoto. Devido à sua grande contribuição ao campo das artes, Pedro Macário tem seu perfil citado em importantes publicações artísticas do País, como a “Enciclopédia de literatura brasileira”, “Dicionário de poetas contemporâneos” e “Dicionário de pintores brasileiros”. Macário ajudou a produzir várias antologias, como a “Abertura poética”. Além disso, por causa dos contos e crônicas que escreveu ganhou alguns prêmios em concursos literários.

A família sempre foi um referencial na vida de Pedro Macário. Costumava dizer que o gosto pela leitura foi um costume herdado do pai. Considerava-se um leitor incansável, para quem a leitura era mais que um prazer: “Sou um leitor incansável. O poder da palavra escrita é um desafio e um prazer. Gosto de livros, uma tecnologia imortal. E a força da poesia, e o mistério do homem da Terra”. Entre as boas lembranças que tinha da mãe citava “a bela macarronada de domingo e forte fé católica”.

Pedro Macário foi professor de Relações Públicas da Faculdade Hélio Alonso, assessor de imprensa da White Martins por mais de 20 anos, além de diretor responsável pela revista Paz e Bem, órgão oficial da Ordem Franciscana Secular do Brasil. Foi secretário da Fraternidade São Sebastião, por dois triênios, em cujo ambiente costumava dar palestras. Ancorado na doutrina franciscana, escreveu várias peças de teatro, entre as quais uma sobre a vida de Santa Isabel da Hungria, por conta das comemorações dos 800 anos do seu nascimento.

Obras

K. Lixto

Pedro Macário foi um homem de muitas realizações, seja no campo jornalístico ou literário, onde publicou bons livros, entre os quais o de poemas “Vida substantiva” (Edições Porta de Livraria, Rio de Janeiro, 1980) e os infantis “A árvore da alegria” (1988) e “A revolta da natureza contra o rei do fogo” (1989), ambos editados pela Memórias Futuras Edições, do Rio de Janeiro.

Em 2007, participou e foi vencedor de um concurso literário promovido pelo Jornal do Brasil, com o conto “Bolero”, cuja premiação foi a publicação no caderno literário “Idéias & Livros”. Estudou pintura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde foi aluno de Ivan Serpa, tendo ainda participado de diversas exposições coletivas e individuais.

Na ABI, onde ingressou na categoria de sócio efetivo em 26 de setembro de 1978, Pedro Macário foi eleito por mérito em várias ocasiões como membro do antigo Conselho do Centro de Memória, a primeira em 29 de maio de 1991.