Enem: luta de escolas ou luta de classes entre escolas?


27/05/2009


Os últimos resultados do Enem têm suscitado várias interpretações e análises de natureza quantitativa (números). A abordagem qualitativa (pessoas/classes sociais) não é realizada de modo a confirmar os conteúdos de ordem econômico-social dos tipos de alunos / instituição educacional, binômio fundamental para a melhor compreensão do que se passa nas escolas privadas laicas e religiosas, nas escolas privadas de áreas mais pobres e nas escolas públicas. 

A questão cultural das classes sociais de onde se originam os corpos docentes e discentes não é abordada em momento algum. Não basta afirmar-se que o corpo docente das escolas privadas mais dispendiosas para os pais apresentam melhores salários em relação aos colegas professores das escolas públicas; não basta constatar-se a decadência do ensino das escolas públicas, mesmo as mais tradicionais como o Pedro II, escolas militares e Institutos de Educação; não basta constatar-se que a rede privada religiosa de ensino leva a melhor nesta contenda mercadológica do ensino. 

Também não se abordou a metodologia pratica nas escolas, apesar de apresentarem grades curriculares pouco divergentes, como por exemplo o objetivo-alvo (questão de futuro) que impulsiona cada tipo de escola, em função da cultura e dos interesses dos responsáveis pelos alunos matriculados em tal ou qual instituição de ensino. Para qual tipo de futuro se encaminham os filhos das classes mais abastadas, visando à perpetuação e reprodução de suas próprias classes e camadas sociais? Para qual tipo de futuro se encaminham os filhos das classes trabalhadoras? Qual classe social terá futuro mais promissor e garantido para seus filhos? Melhor formulando: têm futuro, mercado de trabalho e salários condignos os filhos dos trabalhadores? Têm futuro, mercado de trabalho e salários condignos os filhos da alta e média burguesia? Filhos de quais classes, tendencialmente, farão pós-doutorados no exterior? 

Quanto aos colegas professores, quais os melhores capacitados e mais bem remunerados? Quais, em tese, suas origens sociais? Quem pôde cursar as melhores faculdades públicas e privadas e adquirir os melhores livros e autores? Quem teve e/ou tem maior tempo disponível para a pesquisa nas melhores bibliotecas públicas e privadas? As próprias origens de classe dos professores, sempre com as devidas e brilhantes exceções, demonstram tais diferenças curriculares entre aqueles mais bem pagos e aqueles mais mal pagos. 

No entanto, falta nessas análises acadêmicas a compreensão de que colégios, alunos e professores fazem parte de um todo, de um coletivo social, de uma formação econômico-social que, por sua vez, pertence a certo modo de produção que determina por sua vez o tipo de Estado. 

Se em países desenvolvidos, capitalistas, centrais a educação e o ensino andam de mal a pior (últimos resultados da PISA-OCDE, uma espécie de Enem internacional, nos campos das Ciências, Matemática e leitura), imagine-se o que não estará ocorrendo nas entranhas de sociedades de capitalismo “emergente”, “assimétricos” ou em “eterno em desenvolvimento? Parafraseando o velho Marx: “Até aqui os experts em educação a interpretaram de diversos modos; agora trata-se de transformá-la…” Então, o que fazer? 

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Emir Amed é professor aposentado do Estado do Rio de Janeiro. Foi Vereador à Câmara Municipal do Rio de Janeiro (1983-1988) e Secretário Municipal (1986) no Governo Marcello Alencar.