A imprensa marrom na tela do Cine ABI


05/09/2008


Clássico do cinema norte-americano, indicado ao Oscar de melhor roteiro, “A montanha dos sete abutres” (“Ace in the hole”), dirigido por Billy Wilder, foi o cartaz da mostra A Imprensa no Cinema desta quinta-feira, 4. Na trama, Charles Tatum (Kirk Douglas) é um jornalista que, após perder diversos empregos em veículos importantes, arranja vaga em um pequeno jornal, numa cidade do interior dos EUA. Inconformado, ele aguarda ansiosamente um furo de reportagem que o reponha na grande imprensa. Inescrupuloso e manipulador, o jornalista está disposto a tudo para conseguir a matéria que o levará de volta à antiga posição.

A contragosto, Tatum é destacado para cobrir uma caça às cascavéis numa cidade vizinha. Lá, fica sabendo que Leo Minosa está preso em uma gruta. A todo custo, Tatum tenta retardar o resgate, passa a manipular não só a mulher de Minosa e o fotógrafo, mas também o xerife da cidade, para ter acesso exclusivo às ruínas, e transforma o episódio em matéria nacional.

Pulitzer

O cineasta Billy Wilder buscou inspiração na história real do camponês Floyd Collins, que, em 30 de janeiro de 1925, ficou preso na gruta Sand Cave, em Kentucky, Estados Unidos, após um desmoronamento. Como a instabilidade da caverna dificultou o resgate, muitos curiosos começaram a chegar ao local, entre eles o jornalista Skeets Miller, do Courier Journal. O então Presidente norte-americano Calvin Coolidge acompanhou com atenção o caso, cuja cobertura reuniu mais de 1,2 mil veículos, com destaque para o New York Times, que dedicou ao fato três colunas na primeira página.

Skeets Miller ganhou o prêmio Pulitzer pelo registro da tragédia do camponês, cujo corpo foi resgatado após 18 dias.

Atualidade

O jornalista Paulo Valério de Almeida Torres, que vem acompanhando a mostra A Imprensa no Cinema, elogiou a temática atual do filme, lançado em 1951:
— É uma excelente história, que retrata a imprensa marrom. Já tinha assistido há alguns anos e fiz questão de revê-lo no Cine ABI. O jornalista, na pele de Kirk Douglas, utiliza o acidente na mina para se promover a qualquer custo. Este tipo de comportamento é visto ainda hoje em jornais de todo o mundo.

A falta de ética do personagem é lembrado por Paulo Torres como um dos pontos altos do drama:
— Em meio a reviravoltas, o repórter consegue manipular a todos, levando a situação ao extremo e a um desfecho trágico.
É uma obra genial de Billy Wilder.