Paixão e arte em imagens que correm o mundo


13/11/2008


Cláudia Souza
14/11/2008

Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, Roberto Soares-Gomes, de 61 anos, vem colecionando uma centena de premiações no Brasil e no exterior, entre elas os títulos de Photographer of the Year e The Best Shootter on the Planet, concedidos em 2006 pela revista norte-americana Popular Photography & Imaging. Vencedor no mesmo ano do concurso Leica-Consigo Fotografe e um dos cinco brasileiros a ter seu trabalho publicado na capa da francesa Photo, Roberto iniciou a consagrada trajetória ainda na adolescência, em Juiz de Fora-MG, sua cidade natal:
— Aos 17 anos, fiz uma foto totalmente fora dos padrões: enfiei um gatinho dentro do casco de uma tartaruga e botei a cabeça e as patinhas dele para fora.

O “tartarugato” ficou famoso e rendeu ao jovem o primeiro lugar em um concurso de fotografia.
— Fiquei muito incentivado com o prêmio, mas naquela época só existiam dois fotógrafos na minha cidade. Por sorte, meu pai conhecia um deles e resolvi procurá-lo, avisando que não sairia do estúdio enquanto ele não me ensinasse tudo sobre os processos de revelação, fixação de filmes e de cópias em papel fotográfico. A contragosto, ele decidiu me ajudar. E meu pai também me ensinou algumas coisas.

Roberto passou a registrar a vizinhança e os amigos, que não tinham recursos para cultivar o hobby:
— Até hoje eles agradecem por eu ter viabilizado a montagem dos álbuns de família. Como a gente não tinha dinheiro para comprar filmes nem tirar fotos, ninguém tinha imagens da juventude.

Em 1969, um colega que trabalhava na sucursal da Manchete em Belo Horizonte encaminhou algumas fotos de Roberto para um dos chefes da revista, que lhe ofereceu uma oportunidade de estágio:
— Eu tinha ido para a capital estudar Engenharia. Vivia sozinho, com a mesada dada por meu pai, e passei a complementar a renda com os serviços de fotografia para a revista e alguns clientes particulares. Fazia muitos pôsteres e álbuns para mocinhas, um modismo na época. Como o meu laboratório estava montado na casa de meus pais em Juiz de Fora, passava lá os finais de semana, revelando e ampliando. Aliei dedicação e qualidade a este trabalho e consegui até comprar um carro.

A grande oportunidade surgiu em 1970, quando a Manchete decidiu lançar uma edição integralmente dedicada a BH:
— Nomes importantes da fotografia chegaram lá para retratar a cidade. Eu investi nos melhores enquadramento, ângulo e luz, visando a conseguir um espaço ao lado daqueles ícones. No período em que os fotógrafos permaneceram na cidade, o tempo ficou fechado e comprometeu o resultado das imagens. Como eu morava na região, tinha feito os registros com antecedência.

As fotos de Roberto foram o destaque da publicação e resultaram num convite para trabalhar na sede da revista, no Rio de Janeiro.
— Em dúvida entre a Engenharia e a Fotografia, decidi arriscar uma temporada no Rio. Três meses depois, voltei a BH como frila da revista, sendo escalado sempre para as melhores matérias. Fotografei também para pequenas empresas e clientes particulares.

Furo de reportagem

Em 71, Roberto concluiu o curso de Engenharia na Universidade Federal de Minas Gerais. Três anos depois, trabalhando como engenheiro no Rio Grande Sul, passou a fotografar apenas para bancos de imagens, ramo que ganhava força nos Estados Unidos. Em 77, retornou ao Rio, ainda conciliando as duas carreiras, e ganhou destaque por estar no lugar certo, na hora certa:
— De passagem por Juiz de Fora, estava circulando pela cidade de carro quando o motorista chamou minha atenção para um automóvel belíssimo ao nosso lado. Imediatamente saquei a câmera, mas quem estava ao volante do carrão percebeu e acelerou. Não deu tempo nem de eu regular o equipamento.
“Vem outro igual aí atrás”, avisou o motorista. Aí, mandei brasa enquanto passava não apenas um, mas vários veículos idênticos. Enviei o material para o Nehemias Vassão, que era da Quatro Rodas, e ele me disse que eu tinha conseguido um furo de reportagem mundial, pois se tratava de um modelo novo da Mercedes-Benz que estava sendo testado secretamente no Brasil. Os alemães tinham escolhido a longínqua Juiz de Fora para garantir o sigilo. Entretanto, minhas fotos ganharam o mundo.

Mercado exigente

Ainda na década de 70, surgiu o interesse pela Fine Art Photography:
— Este conceito garantiu a integração da fotografia no ramo de aquisição e comercialização de imagem, atendendo ao exigente mercado internacional de arte. Tive o privilégio de ser um dos fundadores no Brasil do pioneiro grupo denominado Art-Sette, que produz imagens artísticas de temas variados, empregando papel de algodão de longa durabilidade e impressão e jato de tinta pigmentada. Nosso objetivo é valorizar os profissionais e viabilizar melhores condições de divulgação, exposição e venda dos trabalhos.

Os contatos com bancos de imagens internacionais, iniciados em 75, expandiram-se no início dos anos 90, quando o fotógrafo fundou a agência In-Image Nation e fechou contrato com o maior banco de imagens do Japão. Na mesma época, foi convidado para fazer a campanha da Fuji para o lançamento do Velvia, filme próprio para slides dos mais conceituados no mercado. A visibilidade mundial ganhou respaldo com a conquista de dezenas de premiações:
— Os profissionais brasileiros sempre se destacaram em concursos internacionais, mesmo enfrentando sérias dificuldades no Brasil, em função das elevadas taxas alfandegárias que incorrem sobre os equipamentos fotográficos.

Prazer e liberdade

Roberto comemora as recentes premiações nos Spider Awards e nos concursos da associação cultural L’Idea di Clèves e da Black & White Magazine:
— Fiquei feliz com o resultado. Hoje em dia meu trabalho está muito mais livre. Sinto prazer em fotografar determinados assuntos e em me dedicar a projetos específicos, sem a estressante cobrança de prazos ou a imposição de critérios cerceadores da criatividade. Estou iniciando um estudo, seguindo o estilo da pintura utilizado na Costa Oeste dos Estados Unidos em meados da década de 70, que é caracterizado por texturas e objetos com cores saturadas, dispostos em aspectos gráficos.

Para quem quer seguir a profissão, ele recomenda dedicação, respeito e atenção aos avanços tecnológicos.
— A atividade ganha fôlego com a revolução digital, que oferece as melhores ferramentas para a expressão da arte e do olhar. É possível afirmar, sem sombra de dúvida, que este é o instrumento ideal do artista moderno. Quem sentir paixão pela fotografia sempre encontrará momentos da mais pura satisfação profissional. Afinal, é difícil apontar outra carreira em que o sujeito executa no trabalho as mesmas atividades dos dias de folga, não é mesmo? 


       &bbsp;                                Clique nas imagens para ampliá-las: