Finanças ao alcance de todos


18/06/2008


José Reinaldo Marques
20/06/2008

Depois de superar a timidez inicial, as editorias de Economia brasileiras se transformaram em uma das especialidades mais importantes da prática jornalística, beneficiadas pela reformulação do modelo econômico e o início do processo de abertura política que ocorreu no País nos anos 80. É o que dizem os próprios profissionais do setor e diversos especialistas no assunto.

No Brasil, o nível de importância alcançado pelas notícias sobre economia, finanças e negócios pode ser medido pela diversificação do noticiário especializado nos veículos da mídia nacional. Nos impressos, além do espaço privilegiado em cadernos específicos nos grandes jornais, o jornalismo econômico tem títulos próprios, como Jornal do Commercio, Valor Econômico, Gazeta Mercantil, Exame, IstoÉ Dinheiro e Forbes, entre outras publicações.

Um dos mais tradicionais jornais é o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, que foi fundado pelo francês Pierre Plancher em 1º de outubro de 1827 e cujas primeiras edições dedicavam-se a assuntos como “preços correntes, notícias marítimas e movimento de importação e exportação”. Procurando sempre se manter atualizado para não perder espaço para a concorrência, ao longo dos seus 180 anos o jornal promoveu algumas reformulações. A principal, segundo Jô Galazi, chefe de Reportagem e editora de Produção, foi a expansão para as praças de São Paulo, Brasília e Minas Gerais.

 Jô Galazi

Na atual paginação, o primeiro caderno trata de temas macro e microeconômicos e dá espaço também para a editoria de País, que abrange a cobertura política. Os artigos estão em Opinião e cada praça conta com uma editoria local para cuidar de temas específicos. No segundo caderno figuram as seções “Seu dinheiro e mercado”, “Empresas”, “Direito & Justiça” e “Tecnologia e indicadores”:
— A última página do suplemento, a cada dia da semana figura uma seção diferente, como “Seu negócio”, “Carreiras” etc. Também uma vez por semana, publicamos um caderno de artes e um de leilões — diz Jô.

Para ela, o que diferencia a dinâmica das editorias de Economia dos jornais especializados é que estes podem usar uma linguagem mais técnica — “com cuidado para não cometer exageros” — e tratar de mais assuntos com profundidade:
— Dispomos de mais espaço e, assim, também podemos dar uma cobertura mais ampla aos diferentes segmentos da economia. Os cadernos dos jornais diários generalistas têm de eleger um ou dois temas por dia, já que não há espaço para tudo. Os temas escolhidos são aprofundados, fartamente ilustrados, além de tratados com uma linguagem compreensível para o leitor comum, não familiarizado com economia.

Gazetilha 

Randolpho Souza, atual chefe de Reportagem do Monitor Mercantil, acompanhou as transições marcantes que ocorreram no jornalismo econômico a partir da década de 60. Com 45 anos de profissão, conta que estreou como repórter no Jornal do Commercio do Rio, onde inicialmente cuidou das áreas estudantil e sindical trabalhista. Em 1964, foi cobrir no Fundão a aula inaugural da antiga Universidade do Brasil (UB), que só não terminou em conflito por interferência do então Presidente João Goulart:
— Existia no ar a desconfiança do que estava para acontecer. O próprio Magnífico Reitor Pedro Calmon teve que se render às ordens de Jango para impedir que “seguranças” retirassem as faixas que defendiam as reformas na área da educação e, em especial, das universidades. A ditadura me levou para a até então desconhecida área da economia que, no Jornal do Commercio, era denominada “gazetilha econômica”. A primeira página do jornal, além de não ter fotos, era praticamente só de noticiário internacional.

Em 65, ocorreram as primeiras reformas do mercado de capitais e dos sistemas financeiro e bancário e o Brasil passou a copiar o modelo dos principais centros mundiais. Alguns órgãos foram modificados, como a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que deu lugar ao Banco Central, com sede no Rio. Criou-se também o Ministério de Planejamento, que passou a substituir o da Fazenda em algumas funções:
— Os titulares das Pastas eram Roberto Campos e Octávio Gouvêia de Bulhões, que passaram a deter o comando da economia e não tinham o menor resquício de liberdade de informação. Ficava complicado repassar para os leitores, de forma clara, o que estava sendo armado para ser o “milagre brasileiro”.

As redações ainda não tinham editoria específica para o setor, mas no Jornal do Commercio já havia profissionais com profundos conhecimentos sobre o tema:
— Tinha o Wallace, que foi um dos primeiros assessores de imprensa do hoje extinto Banco Nacional da Habitação (BNH); o Amaury Mourão e o Altino Augusto, do Banco do Brasil; o Edson Cezar de Carvalho, da Fundação Getúlio Vargas; e o José Vargas, analista de mercado, profissão que só bem mais tarde seria reconhecida no País. Aprendia-se mais do que se apurava. Para complicar, o jargão e os termos técnicos utilizados eram todos em inglês, como ainda acontece. E tudo era na base da troca de informações.

Milagre

 Vera Durão

Bem mais jovem — foi lançado em maio de 2000 —, o Valor Econômico — uma parceria das Organizações Globo com o Grupo Folha — já se consolidando no segmento dos veículos especializados em economia, com tiragem de cerca de 70 mil exemplares. Para a repórter especial da sucursal Rio Vera Durão, o que o diferencia dos demais jornais diários é a prioridade dada a matérias exclusivas e especiais sobre temas da área. Sobre seu trabalho, ela diz:
— Minha cobertura é muito centrada em grandes negócios, como fusões e aquisições. Também cubro macroeconomia. Na sucursal Rio, somos oito repórteres, incluindo a chefe, Heloisa Magalhães. Em São Paulo, o jornal conta com 80 pessoas, incluindo editores. A sucursal de Brasília há 15 repórteres. Também temos correspondentes em alguns estados.

As editorias são seis: Brasil, que cobre macroeconomia, Internacional Finanças, Agro, Empresas e Investimento e S/As, que cuida do mercado de capitais e de questões societárias. Às sextas-feiras, circula com o jornal o caderno cultural “Eu&”.

Uma das propostas editoriais do Valor, segundo Vera, é a interação com o leitor e o cuidado com a transparência da notícia:
— Por meio da seção carta dos leitores, o jornal tem um espaço para artigos. Também recebe consultas de investidores no caderno Investimentos e S/As. O fundamental na prática do jornalismo econômico é a informação correta e transparente. Jornalismo de economia, se não for bem exercido, vira cobertura policial — afirma.

Vera se refere aos jornalistas de economia como “filhos do milagre econômico dos anos 70”, pois o setor começou a se estruturar no regime militar, quando o noticiário político era censurado:
— Hoje, acho que a grande lacuna do segmento é uma cobertura da economia popular, do dia-a-dia das pessoas comuns e não apenas dos negócios das elites. Acho saudável que o jornalismo econômico se expanda e tenha veículos, como o Valor, isentos e não comprometidos, já que vivemos um tempo em que a economia, em muitos casos, toma a frente da política e exerce forte influência sobre ela.

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