Jorge Antonio Barros – Uma nova abordagem no jornalismo policial


31/01/2008


Igor Waltz
15/02/2008
 

O cotidiano violento das cidades leva as pessoas a reagir de várias maneiras. Há os que levam a vida fingindo que nada está acontecendo; outros preferem trancar-se em casa ou em condomínios; e há aqueles que querem ser ouvidos, protestando e mandando seu recado às autoridades e à população. Não é à toa que um post do blog “Repórter de crime”, de Jorge Antonio Barros, recebeu mais de 300 comentários.

O jornalista, que é subeditor do Globo, na editoria Rio, escreve o blog desde 2005. Hoje o “Repórter de crime” integra a página de Ancelmo Gois no Globo Online, onde está sempre entre os títulos mais acessados. Segundo o jornalista, idéia de se criar um blog que discutisse a temática da falta de segurança do Rio de Janeiro veio da necessidade de uma abordagem diferente da questão.
— O projeto “Repórter de crime” foi uma iniciativa individual, pois eu acreditava que faltava um blog sobre a violência e a falta de segurança no Rio de Janeiro que tratasse o tema do ponto de vista jornalístico — diz Barros. — Cubro essa área há 26 anos e, na web, falo do assunto de forma mais intimista. Além disso, claro, o blog é uma forma de mobilizar os cidadãos para discutir o assunto, e não apenas os especialistas.

Carreira

Jorge Antonio Barros ainda era estudante quando se tornou sócio da ABI:
— Foi onde tive contato com grandes profissionais, de quem era fã declarado de grandes nomes da Repol (reportagem policial), como Albeniza Garcia, Bartolomeu Brito e Arlindo Ernesto, e de outras editorias, como Fritz Utzeri, Israel Tabak e Ricardo Kotscho.

A carreira começou em julho de 1981, com um estágio no JB. Na época, não havia os agora comuns programas de treinamento de editoras e jornais. Ele bateu na porta do editor-chefe, e deu sorte. Contratado em 1982, até 88 Barros foi um dos responsáveis pela cobertura policial do JB, fazendo escuta pelo rádio para saber dos acontecimentos da cidade. Depois transferiu-se para O Dia, ficando até 1991 na sucursal de São Paulo. Após rápida passagem pela Vinde, uma das primeiras revistas evangélicas de conteúdo informativo, assumiu em 98 o cargo de editor-adjunto do Globo, na editoria Rio.

Foi com temas de Cidade que ele venceu duas vezes do Prêmio Esso de Jornalismo: em 1988, com uma reportagem sobre a Rocinha, onde viveu algum tempo para fazer a matéria; e em 94, durante uma onda de seqüestros, com uma investigação sobre policiais que estariam lucrando com a chamada indústria da segurança particular. Também foi escolhido melhor jornalista pelo AfroReggae e recebeu o Prêmio Castelo Branco em 1992, por ter denunciado que o adido militar da Embaixada brasileira em Londres teria sido um torturador durante a ditadura.

Segundo Barros, a reportagem criminal já esteve a reboque das ações da polícia, mas isto estaria mudando:
— A editoria não pode ficar atrelada à polícia e aos registros oficiais dos acontecimentos como fontes únicas ou principais de informação. É preciso buscar conhecer o outro lado. A preocupação com a qualidade da matéria é uma coisa relativamente recente. Tanto que o primeiro grande prêmio para uma cobertura de crime veio em 1977, com a matéria produzida por Valério Meinel para a Veja sobre o assassinato de Cláudia Lessin.

Exigência

O aumento da preocupação com a qualidade, diz ele, veio com a exigência do público e a profissionalização nas redações:
— Durante muitos anos, a mídia sensacionalista contribuiu muito para a criminalidade. Hoje vivemos um período melhor. Todos os veículos, sejam de caráter mais popular ou não, estão buscando dar credibilidade à cobertura da violência, abrindo mão do sensacionalismo. Há uma preocupação, antes rara, em respeitar e não afastar o leitor. Isto também se deve um pouco ao crescimento da indústria do dano, dos processos.

Para os jovens que têm interesse em trabalhar na Repol, Barros recomenda:
— É preciso conhecer bem as leis, o código penal. É importante também entender o funcionamento da policia, da Justiça, dos trâmites de um processo. E, acima de tudo, ler bastante, sobre todos os assuntos, para melhorar o próprio texto. A reportagem policial não é nada mais do que uma boa história.

É sua intimidade com o assunto, aliada à interatividade, que faz do blog do jornalista um sucesso:
— Como se trata de um assunto pesado, procuro uma linguagem meio intimista, meio hard news. Afinal, trata-se de um veículo de informação e de opinião. Aliás, predominantemente opinião, pois minha grande dificuldade é não poder “furar” a editoria em que eu trabalho. Tento fazer um acompanhamento crítico, retratar o panorama da situação. E a participação do público é fascinante. É claro acontecem alguns percalços; há pessoas que me ofendem sem me conhecer, só porque não concordam com algum posicionamento. Em compensação, vivo momentos fantásticos, como quando promovi um chat sobre “Tropa de elite”, reunindo dois ex-integrantes do Bope, um desgostoso da imagem passada na tela, o outro — roteirista do filme — a favor. Foi o primeiro chat jornalístico em vídeo e teve mais de 3 mil acessos e mais de 300 perguntas dos internautas.

Diálogo

A idéia de “Repórter de crime” é criar um diálogo civilizado, independentemente das divergências:
— Procuro defender os direitos humanos sem defender os bandidos ou deixar de criticar o Movimento de Defesa dos Direitos Humanos quando necessário, além de dar voz à sociedade.

Com a ajuda dos leitores foram criados os “Mapas do crime”, com as áreas de risco, que registram alto índice de assaltos:
— Conseguimos mapear os pontos perigosos de mais de 16 bairros da cidade. Também compareci a uma coletiva do Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, levando apenas perguntas encaminhadas pelos leitores. Foi nessa entrevista que ele declarou que o pior inimigo do Rio é o fuzil.

Para Barros, a violência não diminuirá se a sociedade não se mobilizar:
— Primeiramente, a polícia tem que se convencer de que os crimes cometidos por policiais têm que ser tratados como quaisquer outros. É preciso uma limpeza rápida e efetiva na polícia e, também, valorizar seus profissionais, melhorando salários e condições de trabalho. A sociedade, por sua vez, não pode mais fechar os olhos para pequenos delitos. É preciso entender que as drogas são um problema. Os cidadãos devem cuidar de seu bairro, de seu quarteirão, de sua esquina, pois segurança não é um problema só da polícia. A omissão ocorre devido ao medo. Além disso, é preciso resolver problemas de longo prazo, como o desnível social e educacional. A baixa escolaridade faz com que o tráfico do Rio seja um dos mais violentos do mundo, pois os jovens não aprendem na escola a conviver em sociedade.