Como o fato vira matéria jornalística


03/09/2007


Claudio Carneiro
01/12/2006


Não é por obra do acaso que um programa jornalístico vai ao ar todos os dias. O espectador liga a TV em determinado horário e assiste a um “show” de notícias ou a uma entrevista, sem se dar conta de tudo o que foi feito para que aquele “produto” fosse veiculado. O espectador comum, ou mesmo o estudante de Comunicação, não tem noção de todo um processo que envolve a discussão de pautas e a produção de conteúdo jornalístico, nos mais variados formatos: seja um telejornal, uma entrevista ou um programa de variedades.

Comparar a redação a uma fábrica talvez seja a melhor forma de demonstrar o processo industrial que começa com o tratamento da matéria-prima — a informação — ainda bruta, e seu tratamento até a obtenção de um produto acabado, embalado e pronto para consumo — a notícia.

Produzir significa executar idéias e pensar todo o processo de criação de um programa jornalístico. É um processo de extenso trabalho que começa com a apuração, a pauta, a discussão do tratamento que a notícia terá no processo industrial, a execução da pauta, apuração, telefonemas — uma boa agenda é o melhor amigo do produtor — pesquisa, externas, pré-produção, a confecção do espelho do jornal, a entrevista (bem como sua marcação), captação de imagens, iluminação, fitas, o tempo de cada uma das matérias, participações ao vivo etc.

Dia-a-dia 

               Amanda Pinheiro

Apresentadora do “Sala de notícias” — que está na grade de programação do Canal Futura desde a estréia da emissora, em 97, e em breve ganhará novo formato —, Amanda Pinheiro diz que o objetivo do programa sempre foi contextualizar notícias e levantar a discussão dos principais temas da atualidade. Para dar forma ao que vai ao ar de segunda a sexta, às 12h30 — com reprises às 17h30 e 21h30 —, as reuniões de pauta são semanais, sempre às quartas-feiras.
— Nesses encontros, discutimos todos os aspectos dos temas escolhidos. Toda a equipe sugere pautas. Procuramos priorizar temas que tenham a ver com o dia-a-dia da população em geral e abordar os assuntos sob a perspectiva de quem nos assiste. Isso significa convidar para as conversas não só os chamados “especialistas” (normalmente, acadêmicos), mas pessoas que possam contribuir para o debate com relatos de experiência, vivência sobre o assunto discutido.

Na produção, segundo Amanda, todos participam, pondo “a mão na massa”, apurando e coordenando a finalização dos VTs nas ilhas de edição. O programa conta ainda com apoio das equipes de pesquisa e dos arquivos de imagem do Futura e da Rede Globo. Ela destaca que a preocupação com os conteúdos formativos e informativos é constante, pelo fato de o canal ter como objetivo não só entreter, mas também incentivar as pessoas a pensar.
— Queremos que o que produzimos faça sentido para as pessoas. O lema do nosso jornalismo é informar para transformar. Modestamente, o que pretendemos é contribuir para o entendimento, deixando aberto um espaço de debate de idéias a pessoas que tenham como contribuir. Assim como todos os programas da grade, o “Sala de notícias” é uma ferramenta pedagógica: depois de veiculado, transforma-se em material didático. Cada um de nós que trabalha no Futura é parte dessa incrível engrenagem do conhecimento. Sob essa lógica, orientamos nossa reunião de pauta.

Jorge Espírito Santo

Correndo atrás

Diretor de programas como “Caldeirão do Huck”, de videoclipes e curtas-metragens, o diretor artístico e de conteúdo do canal GNT, Jorge Espírito Santo, procura ser didático ao apontar funções e responsabilidades:
— O pauteiro é o responsável por sugerir os assuntos que podem virar matéria. Cabe ao apurador correr atrás das informações e sacar se o assunto rende matéria. Estando tudo certo, o produtor vai imaginar a matéria, marcar com os entrevistados e a equipe técnica etc. O editor de texto vai pegar as informações apuradas e escrever a matéria. Cabe ao editor de vídeo cobrir o texto com as imagens. Daí então, o editor responsável ou o diretor aprovam o material para ir ao ar. Mas TV é um trabalho de equipe. Não há outra forma de se fazer a coisa. São muitas pessoas trabalhando juntas para que alguém ponha a cara no vídeo. Quanto mais integrada é essa equipe, melhor é o resultado final, ou seja, o programa.

Para estruturar uma matéria, é importante saber buscar nos fatos sua relevância e conseqüência para as pessoas. Para Jorge Espírito Santo, a escolha de pauta depende do tipo de programa que se está produzindo.
— Programas ditos de variedade têm liberdade um pouco maior na escolha da pauta, em comparação a programas jornalísticos.

                      Anna Carolina Devay

Ofertas de emprego, formação profissional, empreendedorismo, o mercado e as novas profissões são os temas principais do programa “Carreira e sucesso”, exibido aos sábados, às 10h30, na TV Record. Com duas reuniões de pauta semanais — às segundas e quintas — e uma equipe enxuta — coordenadora, produtor, estagiária e apresentadora — o programa, segundo sua coordenadora e editora, Anna Carolina Devay, tem como público-alvo os jovens em busca do primeiro emprego, os desempregados e aqueles que querem ganhar dinheiro por conta própria.
— Nossa apuração busca as assessorias de imprensa das empresas empregadoras e até o Ministério Público quando as questões trabalhistas ou de regulamentação de determinada profissão estão em pauta.

O programa faz ainda a suíte de assuntos que renderam bons empregos ou boas matérias:
— Certa vez, fizemos uma matéria acompanhando um candidato a emprego. Ele perambulou por diversas lojas em busca de trabalho extra na época do Natal. No desenrolar da matéria, um consultor de Recursos Humanos dava dicas sobre o que é certo e o que é errado na busca por um emprego, na entrevista, na dinâmica, enfim, no passo a passo. No final da matéria, o candidato conseguiu o emprego numa loja de um shopping center e foi efetivado. O programa cumpriu seu papel jornalístico e social.

nbsp;Mayra Cunha

Diversificação

Com uma programação que vai de programas culturais e documentários à transmissão ao vivo de suas sessões — um de seus principais objetivos —, a TV Senado tem audiência qualificada entre as emissoras por assinatura. Como o canal (8, na Net) não tem sucursais ou representações em outros estados, o Distrito Federal torna-se território preferencial para a produção de seus programas.

Diariamente, a emissora distribui suas equipes e cobre as comissões permanentes da Casa, as comissões parlamentares de inquérito, comissões especiais e comissões mistas, compostas de senadores e deputados, com imagens disponibilizadas também para as emissoras comerciais, em tempo real, via satélite. Quando não são exibidas ao vivo, as reuniões das comissões são gravadas e veiculadas nos intervalos da programação no mesmo dia ou nos dias seguintes.

A grade contempla “produtos” como “Espaço cultural” — que mostra espetáculos, exposições e entrevistas com músicos e artistas convidados —, o “EcoSenado” — que discute, principalmente, o meio ambiente e é gravado em externas pelo País — e “Conversa de músico” — voltado para a música instrumental e apresentado por Dora Rocha e pelo maestro e pianista André Tribuzy, que entrevistam os convidados e explicam como funcionam os instrumentos que eles tocam. O palco das gravações de “Conversa de músico” são os salões do Palácio do Itamaraty, em externa que privilegia a arquitetura do prédio e as obras de arte que decoram a instituição.

Uma das responsáveis pela produção de programas culturais da emissora, Mayra Cunha ressalta, no entanto, que as pautas variam muito.
— A grade da TV Senado é bem diversificada. No caso do jornalismo, as pautas factuais são encaminhadas para a produção do núcleo, que as avalia e tenta encaixar os temas no “Jornal do Senado”, que vai ao ar em duas edições diárias.

O diferencial de pauta dos programas da TV Senado, em relação às demais emissoras, reside no interesse único pela informação — com a exibição das discussões das CPIs, por exemplo — sem a preocupação com o crescimento de audiência que move as demais. Ainda assim, a exibição das sessões da Casa em torno das recentes discussões nacionais gerou grande interesse do público espectador. 

       
A força de uma 
equipe multifuncional

       

 
No ‘Jornal visual’, da 
TVE, pautas específicas