No testemunho, o lado bom do fotojornalismo


14/06/2007


José Reinaldo Marques
15/06/2007

Zeca Caldeira começou a carreira profissional em 1999, como assistente de Luiz Garrido e Sérgio Pagano, e hoje orgulha-se de ter no currículo o Prêmio New Holland de Fotojornalismo. Carioca, 32 anos de idade, há seis ele se mudou para São Paulo para participar do Curso Abril de Fotografia. Acabou ficando e trabalhando como freelancer para a Editora Três, entre outras, além de fazer exposições como a individual de outubro de 2006, no Museu da Imagem e do Som (MIS-SP). Diz ele:
— Ainda acho até hoje que foi a fotografia que fez por mim minha escolha profissional, quando eu já tinha 26 anos e fiz uma viagem com uma namorada, ela sim fotógrafa, bem como alguns amigos que nos acompanharam. Fomos a Milho Verde, no interior de Minas, para a Festa do Rosário. Fiz ali minhas primeiras fotos, com uma Nikon FM2 emprestada.

Pouco tempo depois, uma amiga desistiu da vaga de assistente no estúdio Casa da Foto, no Rio, e ele se ofereceu para o posto:
— Deixei o escritório de engenharia onde trabalhava e virei assistente do Luiz Garrido. Daí, não houve mais volta.

Antes, porém, Caldeira tentou seguir outras carreiras. Cursou, sem concluir, Economia, Direito, Jornalismo e Filosofia e trabalhou com computação gráfica, engenharia e vendas:
— Mesmo hoje já me sinto muito mais próximo das artes plásticas do que do fotojornalismo — confessa — e vejo isso como uma vantagem. No mundo atual, é fundamental ter uma certa capacidade mutante, de se adaptar sempre e não se apegar ao passado. Além disso, infelizmente o mercado para fotojornalistas não é agradável. Considero o repórter-fotográfico um sujeito em extinção. A pauperização das redações é, de forma geral, evidente. Os empregos na área escasseiam, os salários diminuem e a mediocridade editorial impera. Vivemos o domínio dos “bonecos”.

Caldeira acredita que boa parte dos grandes fotojornalistas brasileiros está fora das redações:
— Eles estão por aí buscando tratar temas no longo prazo, fazendo ensaios que, eventualmente, são publicados em revistas como reportagens especiais. Este mecanismo é ótimo para as revistas — que se livram de parte considerável dos custos — e permite ao fotógrafo inscrever seu trabalho em concursos e prêmios que exijam publicação.

Linguagem própria

Atualmente, Caldeira participa também da Casa da Lapa, projeto que reúne cenógrafos, designers, videomakers, fotógrafos, DJs e músicos:
— Sou de uma geração que busca encontrar uma linguagem própria, condizente com seu tempo, e que não se satisfaz mais com as grandes referências, por mais que as respeite e admire, porque elas não são capazes de dar conta de nossas necessidades. Mesmo assim, confesso que o fotojornalismo me dá a sensação de que faço parte de coisas importantes, ao ser testemunha de algo significativo. É bom ligar a TV, ler o jornal ou a revista, e saber que estive lá, no momento daquela notícia, e que poderei contar o que se passou para os que não estiveram. 

Se tivesse que escolher uma reportagem entre as muitas que fez, ele ficaria com a que lhe rendeu o Prêmio New Holland de Fotojornalismo:
— Não pelo prêmio, mas pelas condições de trabalho que encontrei no interior da Bahia. É inacreditável imaginar que famílias possam viver sob tais condições, quanto mais trabalhar e tirar seu sustento de paisagem tão inóspita. Também tive essa sensação no Piauí, onde famílias criam abelhas em plena caatinga para produzir mel. É impressionante a capacidade humana de se adaptar e de tornar o praticamente inabitável em lar, e ainda fazer deste seu meio de sustento. 
 
 

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