Encontro da arte com a violência urbana


25/10/2007


José Reinaldo Marques 
26/10/2007

Mestre na arte de registrar a violência urbana, Severino Silva, do Dia, não deixa de lado a plasticidade, que pôde ser vista neste mês na série Encontros, promovida pela Associação dos Repórteres-Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo (Arfoc-SP) para falar dos conflitos nas favelas do Rio e sua cobertura jornalística.

Aos 44 anos de idade e 18 de profissão, Severino trabalhou na construção civil, foi balconista, entregador de loja e contínuo do Globo, até conseguir sua primeira oportunidade na fotografia:
— Consegui um estágio, mas não tinha dinheiro para comprar uma câmera. Nas primeiras férias, aconselhado pelos fotógrafos do jornal, peguei todo o dinheiro e comprei uma Nikkormat, que pegava lentes Nikon. Também os enchia de perguntas sobre tudo o que eu pesquisava em livrarias; eles me ajudaram muito. Depois do Globo, passei pelo Fluminense, O Povo e A Notícia, até me fixar no Dia.

Nascido em Pirpirituba, na Paraíba, Severino sempre gostou desenhar. Aos 10 anos, mudou-se para o Rio, onde habituou-se a apreciar as fotos dos jornais expostas nas bancas:
— Achava muito legal. Onde eu nasci, não tinha luz elétrica. Ao som do sopro do vento, olhava para a luz da lua e das estrelas e tentava reproduzir esse ambiente nos meus desenhos. O céu parecia um jardim, mas ficava revoltado porque a minha nuvem parecia um bicho. Então, me indagava: será que só eu estou vendo essas coisas? Acabei sendo escalado por minha mãe para fotografar as reuniões de família com uma Kodak. Era um carrasco: cortava a cabeça de todo mundo. Fazia as “vítimas” e ficava chateado. A turma ainda brincava comigo. Era muito chato: eu desenhava mal e fotografava pior ainda.

Com o tempo, se aperfeiçoou e ganhou destaque profissional:
— Um frila para o Jornal de Bairros, sobre estacionamento irregular no Centro, rendeu minha primeira foto publicada. Para mim, foi um prêmio. Depois, já como estagiário do Globo, consegui a primeira capa com uma matéria de praia e outra logo depois. Foi um incentivo e tanto.

Prêmios

Daí em diante, começou a colecionar prêmios em fotografia: o Nikon (1992), com “Marinheiro no asfalto”; o Interpress (1994), com “Abandono sem dó”, sobre um feto jogado no Rio Faria Timbó (RJ); a Medalha de Bronze no Líbero Badaró (1997), com “O último beijo da mãe”, de uma senhora lavando o corpo do filho morto, vítima do tráfico.

Acostumado à dura realidade urbana, Severino não foge das pautas de Cidade e da reportagem policial:
— Gosto desse trabalho e procuro sempre fazer o melhor, nem que seja uma matéria simples sobre um buraco na rua. O mais difícil e gratificante é conseguir uma boa foto com um tema que aparentemente não rende.

Como projeto pessoal, Severino faz muitas fotos de moradores de rua. Mas, “para não ficar com o olhar viciado”, mesmo de folga sai com a máquina em busca de imagens variadas. Em meio às preocupações sociais, o repórter-fotográfico ainda tem um sonho a realizar:
— Antes de partir deste mundo, pretendo fotografar o Nordeste, uma região linda, com belezas e tristezas, com lugares completamente sem assistência em plena era da modernização. Há crianças que, quando completam 15 anos de idade, os pais levam para conhecer a cidade como presente. Os manguezais estão secando e o gado morrendo de sede, por causa da ganância dos homens. Por isso, pretendo fotografar essa terra onde nem tudo é belo ou é feio. 


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