Biblioteca da ABI ganha jornal da Independência


16/11/2006


José Reinaldo Marques

A historiadora Cybelle de Ipanema, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, doou à Biblioteca Bastos Tigre, da Associação Brasileira de Imprensa, a versão fac-símile dos exemplares do jornal Reverbero Constitucional Fluminense, publicado de 1821 a 1822 para apoiar a Independência do Brasil.

O trabalho foi editado pela Biblioteca Nacional em três volumes: um instrumental, de orientação para pesquisa, e dois com a reprodução dos exemplares do jornal. Trata-se de um documento raro, hoje encontrado apenas na BN, na Biblioteca da ABI e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), todos no Rio de Janeiro.

Para realizar o trabalho, a historiadora contou com a colaboração do marido, o jornalista e também historiador Marcello de Ipanema, falecido em 1993:
— O Reverbero foi o jornal que mais contribuiu com a Independência do Brasil. Reunir os exemplares foi uma obra de paixão, que começou a ser desenvolvida nos anos 50. Resolvemos fazer um estudo sobre o jornal, que funcionou entre 1821 e 1822, estimulando a população a aderir à idéia da Independência.

Os três volumes foram lançados em março do ano passado, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Segundo Cybelle, trata-se de uma importante pesquisa e um instrumento valioso “para a História do Brasil, da imprensa e da Independência, que vai facilitar o acesso dos pesquisadores a uma obra rara”. O maior trabalho, diz ela, foi conseguir que a BN fizesse a edição fac-símile dos dois tomos com exemplares da publicação:
— E o volume instrumental será muito útil aos pesquisadores e interessados na história do Reverbero. Só a parte da indexação, por exemplo, tem 120 páginas e é uma peça importante da obra, porque foi organizada em capítulos topomínicos (de lugar), hemerográficos (jornais citados), onomásticos (nomes de pessoas) e analíticos.

Lançamento

    Trecho de conclamação do Reverbero

A edição nº 1 do Reverbero Constitucional Fluminense foi lançada em 15 de setembro de 1821 — data da comemoração, pela Corte, do primeiro aniversário da adesão de Lisboa à revolução da cidade do Porto — e seus mentores e editores foram Joaquim Gonçalves Ledo e o cônego e jornalista Januário da Cunha Barbosa:
— O lançamento teve um impacto muito grande, porque naquele momento a população já via com boa aceitação os princípios do liberalismo — diz Cybelle.

O jornal chegou a ser impresso em três gráficas diferentes: Moreira e Garcez, Tipografia Nacional e Tipografia de Silva Porto e Cia. Geralmente circulava sem o nome de seus editores e colaboradores — mas apenas porque naquela época não era comum as publicações terem o que chamamos de expediente:
— Descobria-se os responsáveis por informações cruzadas e referências. Uma vez ou outra alguém assinava as matérias — explica a historiadora.

Quando o Reverbero começou a circular, a idéia de liberar a colônia da Corte portuguesa, apesar da oposição, já estava bem adiantada e, de acordo com a autora, seria muito difícil o Príncipe Regente recuar da responsabilidade de concretizar a Independência do País.

Outra informação que consta do trabalho de Cybelle e Marcello de Ipanema é que os jornais da época costumavam ter epígrafes, a maioria em latim ou francês. A de Januário da Cunha Barbosa e Joaquim Gonçalves Ledo para o Reverbero era “Redire sit nefas” (“É um crime voltar atrás”), numa clara alusão à atitude que desejavam de D. Pedro I. Quem não gostou foi José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, que fez reclamação direta ao jornal.