ABI reúne mais de 500
em ato contra Ditadura


04/09/2019


Jornalistas, advogados, políticos, artistas e estudantes participaram do ato inaugural do movimento “Ditadura Nunca Mais”.  Mais de 500 pessoas lotaram o auditório do 9º andar da ABI para ouvir os pronunciamentos das grandes lideranças na luta pelo Estado Democrático Direito como: os ex-ministros (da Justiça), José Carlos Dias e (dos Direitos Humanos) Paulo Tarso Vannuchi.

Coletiva reuniu ex-ministros, juristas e representantes da sociedade civil (Imagens: Arquivo)

O ato foi idealizado pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro depois que a memória do militante político Fernando Santa Cruz foi vilipendiada pelo presidente da República que aí está. Sequestrado, torturado e morto nos anos 70 pelos órgãos de repressão da ditadura militar, o corpo de Fernando jamais foi encontrado por seus familiares. Entre eles, o seu filho Felipe Santa Cruz, hoje presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil.

A tia de Felipe, Dora Santa Cruz, representou a família no ato. Lembrando como o irmão desapareceu, aqui no Rio, num sábado de Carnaval.

Felipe não pode comparecer ao ato. Enviou um vídeo que foi exibido para os presentes. Para ele a luta pela busca daqueles que foram torturados, mortos e continuam desaparecidos jamais irá acabar. Não importando o governo que está no poder. Esta é uma luta de todos os democratas”.

Na sua mensagem, Santa Cruz deixou claro que a luta pela preservação da história do que aconteceu no país a partir de abril de 1964 é uma luta de todos da sociedade brasileira que prezam a democracia, independente de posições políticas e/ou ideológicas. Uma luta a favor da nossa juventude:

“Essa é uma luta de todos os democratas. Não importa o que pensem politicamente a esquerda, a direita. É uma luta da sociedade brasileira. Uma luta histórica.

Uma luta para não deixar que a nossa juventude compreenda que a ditadura foi algo positivo. Não, não foi. Tudo o que nós vivemos de liberdade, de avanço é fruto da democracia e fruto da luta dos que resistira à ditadura militar.

Parabéns a OAB-RJ, parabéns a ABI. Contem com a Ordem (dos Advogados do Brasil) Nacional em todos os momentos dessa luta pela verdade histórica.

Ditadura, nunca mais!

(veja a íntegra da mensagem no vídeo abaixo).

O ex-ministro e ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade José Carlos Dias, criticou os ataques constantes aos direitos humanos cometidos pelo governo de Jair Bolsonaro: “Acreditamos num país que tenha democracia plena. Vivemos um instante de perplexidade em que os direitos humanos continuam a ser violados. O momento exige manifestações como essas, que representam o pensamento do Brasil democrático. É hora de acordarmos e dizermos: basta!”

No mesmo tom manifestou-se o ex-ministro Paulo Vannuchi ao enfatizar que “a sociedade começa a acordar para atrocidades cometidas por este governo. Temos que ir para as ruas para exigir o respeito à Democracia e aos Direitos Humanos”.

Paulo Jerônimo de Sousa, presidente da ABI, lembrou que; “nós jornalistas sabemos muito bem o que é viver numa Ditadura. A censura impera. As conquistas começam a ser desconstruídas, como no caso das comissões as violações aos direitos humanos. A ABI está nesta luta, contem conosco”.

A advogada Rosa Cardoso reafirmou que o evento foi um ato de protesto e denúncia contra os insultos praticados pelo presidente da República, com ações destrutivas em relação aos fatos ocorridos durante a ditadura: “O governo está tentando afogar a memória. É um momento de retrocesso em que um presidente quer destruir um patrimônio nacional, que é o nosso direito à verdade. Esse é um evento para reunir e somar forças. O encontro une a morte de Marighella ao assassinato de Marielle Franco”.

Estudantes de uma escola municipal de Oswaldo Cruz proporcionaram um momento de emoção ao ato. O professor de sociologia Maurício Ricardo Alves Rossi decidiu levar seus alunos para “assistirem ao vivo uma aula de democracia”. A iniciativa foi aclamada de pé pelos presentes.

A moradora do Complexo da Maré, Bruna da Silva, mãe do adolescente Marcos Vinícius, de 14 anos,  morto pela Polícia Civil do Rio, no dia 20 de junho do ano passado, quando se dirigia para a escola, também emocionou a plateia com o seu discurso.

“Perdi meu filho para os policiais matadores. Mas, não perdi a vontade de continua lutando”, bradou Bruna, levando algumas pessoas na mesa às lágrimas.

Igualmente emocionado, o advogado Wadih Damous convocou a sociedade civil para lutar contra a impunidade do passado, que faz com que continuem morrendo vítimas do “estado policial”.

“Esse é um estado policial. É um outro tipo de ditadura em que enfrentamos um fascismo nas ruas. Quem anda com uma camisa vermelha nas ruas sabe sobre o que estou falando. Precisamos dizer que não compactuamos com a barbárie. Não queremos a violência e a intolerância. Esse movimento é uma esperança”.

O advogado Álvaro Quintão destacou que a Comissão Nacional da Verdade tem sido atacada e essa “ditadura” tenta acabar com a liberdade de informação e imprensa: “O presidente quer naturalizar a ditadura e dizer que foi um período de ordem e progresso. Ele desqualifica as comissões e quer criar um estado policial. Estamos aqui para denunciar. Precisamos de união e coragem para enfrentar o que está por vir”.

Vitória Grabois, representante do grupo Tortura Nunca Mais, filha, mãe e mulher de militantes desaparecidos durante a ditadura lembrou da morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em plena democracia. “Precisamos analisar o que está acontecendo na sociedade. Há 40 anos, luto pelas mortes na ditadura e hoje essa violência se volta contra os negros e pobres. Por que a polícia entra nas favelas matando? Por que não temos políticas públicas no Brasil? Peço a união de toda a esquerda brasileira”.

Em nome do coletivo Memória, Justiça e Reparações, Lygia Jobim – filha do embaixador José Jobim morto pela Ditadura – pediu respeito à palavra reparação.

“Essa palavra deve ser tratada com muito respeito. O presidente de mudar o tom de escárnio em suas declarações. A dor de quem perdeu um filho na ditadura é a mesma dos pais da Marielle e da Bruna.

Também participaram do debate as atrizes Zezé Motta e Bete Mendes, a artista plástica Ana de Holanda, entre outros parlamentares como Carlos Minc e Lindbergh Farias, e o ex-deputado Chico Alencar. Dona Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco e Bruna Silva, mãe do menino Marcus Vinícius, assassinado pela Polícia Civil.

No final do evento, a atriz Zezé Motta provocou emoção em muitos ao prestar homenagem a todos as vítimas da ditadura militar e da violência do estado, entoando à capela a canção “Senhora Liberdade”, de  Nei Lopes e Wilson Moreira, contando com a ajuda de um coro que surgiu na plateia (ouça o canto no vídeo abaixo).


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