ABI recebe policiais antifascismo


29/11/2019


Os policiais Alexandre Dell cole, Michel Misse, Pedro Paulo Tche , Hildebrando Saraiva, Páris Borges e Denilson Campos

Cláudia Sanches

No momento em que o Estado democrático está cada vez mais ameaçado, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) foi palco, na quinta e sexta-feira (28 e 29/11) , do II Congresso Nacional Policiais Antifascismo que reuniu dezenas de agentes de segurança de diversos estados.

Surgido em 2016 nas redes sociais, o Movimento Policiais Antifascismo (MPAF) tem como meta formar profissionais de segurança conscientes do papel da segurança pública e dialogar com a sociedade. Atualmente o grupo já conta com mais de 300 adeptos no Brasil, com lideranças no Nordeste, Sul e estados do Sudeste.

O Delegado da Polícia Civil, coordenador do grupo, Orlando Zaccone, explica que o objetivo do congresso foi discutir um novo projeto de segurança pública, em que o policial precisa se reconhecer como trabalhador. O desafio é debater novas formas de organização para o movimento no atual cenário político.

“O movimento é formado por policiais civis, militares e rodoviários, efetivo dos bombeiros, agentes penitenciários e todos os trabalhadores do sistema de segurança. O policial é desconstruído como um trabalhador. Precisamos desconstruir o estigma do policial como vilão ou como herói, visão que depende, atualmente, da ideologia ou da classe social. A Polícia Militar, por exemplo, não tem direito à greve, a manifestar seu pensamento e a se sindicalizar. A Polícia Civil, por decisão recente do STF, também não tem mais direito à greve”.

Estiveram presentes no congresso também outros setores da sociedade civil, como vítimas da violência urbana e representantes de ONGs como Maria Dalva Corrêa da Silva, da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência) e Nildo Ouriques, do  Instituto de Estudos Latino-Americano/Revolução Brasileira, além da Confederação Brasileira de Policiais.

Durante o congresso, os agentes de segurança debateram temas como o papel da polícia no controle social; a desmilitarização da segurança pública; programas de reestruturação da carreira do policial e do sistema de segurança pública; o modelo bélico e intolerante do governo atual; e a liberação das drogas.

No painel, “O fim do inquérito policial e desmilitarização da segurança pública na perspectiva de carreira única”, os debatedores criticaram o sistema de segurança, que tem mais de 200 anos e é mantido “para servir ao judiciário, à Procuradoria Geral da República e às elites”.

O policial militar Alexandre Del Colle, do Paraná,  falou sobre o papel da polícia através da história do Brasil, de conter e reprimir os conflitos sociais. Ele citou movimentos como o de Antônio Conselheiro, reprimido violentamente pela polícia da época, que era similar ao trabalho do “capitão-do-mato” do Brasil-colônia.

Coordenador do Movimento dos Policiais Antifacistas, Orlando Zaccone

A policial Páris Barbosa, do Sindicato dos Peritos do Rio de janeiro, questionou a estrutura que mantém o modelo atual e os privilégios de alguns setores a quem ele interessa.  “A quem essa polícia serve? A grupos privilegiados que ficaram fora da reforma da previdência como os militares e políticos”.

O policial civil Denilson Campos da Bahia, finalizou um dos debates ocorridos alertando para a estrutura fascista do sistema que deve ser desmontado. Comentou ainda questões que devem ser contidas a curto prazo, como o homicídio e o extermínio, que ele chamou de “criminalização da pobreza”. Ele cobra ainda posições dos chamados partidos de esquerda:

“A esquerda tem que ter soluções de curto prazo. O desafio é de nos debruçarmos nessas discussões. Fazermos mesas de debates, estudos para que a polícia possa alterar o papel que foi dado à instituição, historicamente, de controle social e possa, assim, cumprir o papel de manutenção da segurança.

“Essa matança vai na conta do policial, mas não se fala no que está por trás – um sistema de segurança voltado para proteger as elites e matar moradores da periferia e negros”.

Segundo o inspetor da Polícia Civil, Hildebrando Saraiva, no Congresso, mesas-redondas estavam programadas para debaterem temas como o impacto da reforma da previdência sobre os trabalhadores policiais e a construção da luta antifascismo. Para Saraiva, a articulação com a sociedade foi a grande vitória do 2º Congresso de Policiais Antifacistas:

“Nos aproximamos mais da academia, conseguimos uma pluralidade, já que há policiais civis, militares, rodoviários e a presença também representantes das universidades. O objetivo é desconstruir a ideia de que somente trabalhadores policiais podem discutir segurança pública. Queremos consolidar o caráter  nacional do movimento”.