Talento que passa de geração para geração


29/03/2007


Marcia Martins
30/03/2007

Das favelas do Rio às pedras preciosas. Do atraca-atraca com os colegas de profissão na busca da melhor foto à calmaria de um estúdio. Hoje, Marcos Vianna se dedica mais às fotos publicitárias, mas durante sete anos foi repórter-fotográfico do Jornal do Brasil, no Rio. O contato com a fotografia, que atravessou gerações, começou com o bisavô, que descobriu o hobby no século XIX. No caso de Marcos, os primeiros cliques vieram quando ainda cursava Publicidade na UFRJ:
— Comecei a fotografar shows de música, em locais como o Parque da Catacumba, e vendia minhas fotos diretamente para os músicos — conta.

Depois de passear pela música, Marcos Vianna entrou no mundo da moda: trabalhando em uma agência de modelos, fazia books e coberturas de desfiles. Paralelamente, clicou algumas fotos para o jornal italiano La Repubblica para reportagens sobre o Rio de Janeiro. Depois, esteve à frente de uma produtora e trabalhou com os fotógrafos Márcia Ramalho e Milton Montenegro, no Rio, e com Ella Durst, em São Paulo. Quando foi para o JB, fez todos os tipos de cobertura, até se tornar exclusivo dos suplementos, entre eles a revista Domingo e o Caderno B.

Ex-professor de Fotografia da Universidade Estácio de Sá e do Ateliê da Imagem, Marcos acredita que, para se conseguir uma boa foto, é preciso estar sempre atento e bem informado, além, é claro, de ter intimidade com o equipamento utilizado:
— O clique certeiro é uma conjunção desses fatores, do imponderável e da emoção do fotógrafo, que deve estar sob controle, mas nunca subjugada.

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A busca do melhor ângulo já colocou Marcos em vários apuros. Por exemplo, num incêndio no morro Dona Marta, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, traficantes armados ajudaram o repórter-fotográfico a subir em uma laje. Mesmo com o apoio inusitado, ao descer, ele caiu e teve que ser atendido pelos bombeiros. Apesar do susto, a foto rendeu uma bela primeira página no dia seguinte.

Outra situação difícil foi quando teve que fotografar o sambista Ivo Meirelles para uma matéria sobre os diferentes apertos de mãos das turmas cariocas para a Domingo. O ambiente escolhido pelo próprio fotógrafo foi a Mangueira, e o sambista acabou levando Marcos para o famoso “buraco quente”, local de venda de drogas no morro.
— Quando me preparei para fotografar, um bandido com uma metralhadora se aproximou, interessado no funcionamento da minha câmera. Comecei a ficar nervoso e, para não dar na vista, abri um grande rebatedor — um light disc — e pedi ao homem que o segurasse, na tentativa de ficar mais calmo. Mas não teve jeito. Não consegui fazer uma boa foto e tive que voltar no dia seguinte. Desta vez, porém, escolhi um outro local, de onde se podia ter a favela como fundo e aí sim consegui fotografar o tal cumprimento.

Marcos Vianna tem poucas exposições no currículo, mas orgulha-se de ter participado de uma para a campanha da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Também não costuma participar de concursos de fotografia, mas, num dos poucos em que se inscreveu, ganhou o Prêmio Flumitur (extinta Empresa de Turismo do Governo do Estado do Rio). Atualmente, tem se dedicado mais a fotos publicitárias e ensaios pessoais, utilizando as câmeras digitais para garantir praticidade, sem deixar de lado a qualidade:
— Não tenho nenhuma saudade do cheiro do fixador F5 corroendo meus pulmões. Com as máquinas analógicas, tinha medo de que o filme não rodasse ou acabasse na hora mais importante. Guardo com carinho algumas câmeras antigas, mas é só.

Infelizmente, diz Marcos, o espaço para o bom fotojornalismo está cada vez menor e o futuro que observa é “o do jornalista com uma câmera digital automática na mão, fazendo simples registros para ilustrar suas matérias”:
— Para se diferenciar nesse mercado, é preciso manter-se informado, ler muito, observar de perto o trabalho dos colegas e dos mestres. E fazer ioga, para não estragar a coluna com o peso dos equipamentos e nem ter distúrbios nervosos — brinca. 
 


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