Sumiço de jornalista
vira crise diplomática


15/10/2018


Jamal Khashoggi durante evento promovido pelo Middle East Monitor em Londres, no dia 29 de setembro — Foto: Middle East Monitor/Handout via REUTERS

Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico ao governo de Riad, está desaparecido desde o dia 2 de outubro, depois que entrou no consulado de seu país em Istambul.

Além de o caso estar repercutindo na Turquia e na Arábia Saudita, outros países se manifestaram, entre eles os Estados Unidos.

Veja o que se sabe até agora sobre o caso:

Quem é Jamal Khashoggi?

Khashoggi sempre foi próximo da elite e dos príncipes sauditas, mas era um jornalista crítico do regime. Ele vem de uma família conhecida no país. Seu avô era o médico do rei Abdulaziz Al Saud, que fundou o reino.

Nos anos 90, trabalhou como correspondente internacional cobrindo países como o Afeganistão, Algéria, Sudão e países do Oriente Médio. Durante esse tempo, entrevistou diversas vezes o terrorista Osama bin Laden. Nos últimos anos trabalhava como comentarista político e aparecia em canais árabes e internacional.

Em 2017 ele decidiu mudar para os Estados Unidos, temendo por sua segurança, depois que o príncipe Mohammed bin Salman começou a combater dissidentes sauditas. Ele tinha cidadania americana e colaborava para o jornal “The Washington Post”.

O que aconteceu com ele?

No dia 2 de outubro, Khashoggi foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, para pegar um documento para se casar com a sua noiva turca, enquanto ela ficou esperando na porta. Uma imagem de câmera de segurança mostra ele entrando no prédio do consulado.

A polícia turca diz que não há registro da saída dele e autoridades turcas dizem que suspeitam que ele foi assassinado dentro do consulado. A Arábia Saudita diz que ele saiu do prédio, mas não forneceu evidências.

Como andam as investigações?

Uma delegação da Arábia Saudita foi à Turquia para se reunir com as autoridades locais e discutir o caso. Segundo o presidente americano Donald Trump, investigadores dos EUA também estão envolvidos.

O jornal americano “Washington Post” disse que há provas do que aconteceu com Khashoggi, mas elas ainda não foram divulgadas. Segundo o jornal, 15 sauditas desembarcaram em Istambul no dia 2 de outubro e estavam dentro do consulado quando o jornalista desapareceu. Eles teriam deixado o país em um avião de uma empresa de Riad.

Segurança sai do consulado da Arábia Saudita em Istambul (Reprodução)

O “Wahsington Post” e o “The Sabah”, turco, citam a existência de uma gravação de áudio que mostraria como o jornalista saudita Jamal Khashoggi foi interrogado, agredido e morto no local.

O “The Sabah”, que tem publicado informações vazadas por autoridades de segurança da Turquia, afirma que o arquivo de áudio foi gravado pelo Apple Watch de Khashoggi e foi recuperado pelo seu iPhone, que tinha ficado com a sua namorada fora do consulado, e pela sua conta no iCloud.

O que diz a Turquia?

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan disse que está “preocupado” com o caso e desafiou o regime saudita a provar que o jornalista saiu do consulado. “Se sair um mosquito (do consulado), seus sistemas de câmera vão interceptar”, afirmou aos jornalistas a bordo do voo que o trazia de uma visita a Budapeste.

Jornalista saudita desaparece após entrar no consulado de seu país em Istambul — Foto: Reprodução/JN

O ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, advertiu que as autoridades sauditas se expunham a “sérias consequências” em caso de responsabilidade no desaparecimento, ou possível assassinato do jornalista.

O que dizem os Estados Unidos?

Inicialmente, Trump pediu explicações à Arábia Saudita, aliado tradicional dos Estados Unidos com o qual a administração Trump estreitou ainda mais os vínculos. Nesse fim de semana, Trump subiu o tom e ameaçou infligir “severa punição” se as investigações provarem que o príncipe saudita foi o mandante do suposto crime. Mas disse que preferia evitar sanções econômicas.

O que diz a Arábia Saudita?

A Arábia Saudita classifica a acusação de que o jornalista foi morto no consulado como “infundada” e “mentirosa”. O reino autorizou as buscas no local.

No fim de semana, em uma aparente resposta a Trump, o reino divulgou um comunicado rejeitando qualquer ameaça de sanções e dizendo que vai contra-atacar em caso de medidas hostis.

Segurança sai do consulado da Arábia Saudita em Istambul — Foto: Petros Giannakouris/ AP Photo

Quem mais se manifestou?

O secretário-geral da ONU, António Guterres, exigiu “a verdade” sobre o desaparecimento de Khashoggi A porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos disse que se a morte for confirmada será algo chocante.

A União Europeia cobrou uma investigação completa sobre o caso. Alemanha, Grã-Bretanha e França emitiram um comunicado conjunto pedindo às autoridades sauditas e turcas que instaurem uma “investigação confiável” e dizendo que estão tratando o incidente com “extrema seriedade”.

Fonte: G1