Sônia Araripe – Em defesa do meio ambiente


23/10/2008


Aline Sá
24/10/2008

O desenvolvimento da sustentabilidade que as empresas e pessoas buscam nos dias de hoje é assunto fundamental na vida da jornalista Sônia Araripe, cuja experiência inclui passagens pelas redações de veículos renomados, como Jornal do Brasil, Estado de S. Paulo e Jornal do Commercio. Sua trajetória profissional também a gratificou com condecorações como a do Prêmio White Martins, decorrente da descoberta — juntamente com os jornalistas Coriolano Gatto e Cristina Calmon — do plano de boicote fomentado pelo Grupo Naji Nahas que resultou na quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em 1989.

A paixão de Sônia pelo jornalismo vem da infância: desde pequena tinha a leitura e a escrita como hábitos prazerosos. E ela atribui parte deste gosto à estrutura familiar:
— Sou filha de uma professora e de um aviador e cresci numa casa cercada de livros, jornais e ótimas histórias. Escrevia jornais fictícios, cartas, textos, contos… O jornalismo surgiu naturalmente.

Sem estereótipos 

A carreira começou em um jornal de bairro e teve seqüência no Jornal do Commercio, que lhe abriu as portas para a editoria de Economia. Daí em diante, as mudanças foram constantes, mas nem assim Sônia acredita no conceito — que considera exagerado — de que o profissional de comunicação deve ser “detentor de toda informação, ser uma enciclopédia ambulante”, por mais que ele freqüente ambientes variados e escreva sobre diferentes assuntos.

Para ela, o bom jornalista também não deve alimentar certos estereótipos que cercam a imprensa — como os de ela ser sensacionalista e manipuladora — e sua verve não deve vir de simples inspiração, mas da busca ávida e incessante pelo conhecimento:
— Para aprender a escrever de forma simples e compreensível, só existe este caminho. Se alguém quer ser jornalista e não gosta de ler, aí é melhor escolher outra profissão. Tem que ler tudo, tudo mesmo. Minha área era economia e eu lia até a seção de esportes. Não sou especialista, mas tenho uma noção geral. Outra característica importante: a gente precisa gostar de pessoas. E de conversar, de ouvir “causos”, de ir aos lugares… E de investigar e saber ouvir. Vejo hoje um jornalismo muitas vezes superficial, do tipo “control C e control V”, copia e cola. O mundo é muito maior — e muito mais interessante — do que apenas olhar fotos e notas na rede de computadores.

Dedicação

Seu engajamento na defesa do meio ambiente e sua dedicação ao jornalismo socioambiental intensificou-se há dois anos, quando trabalhou como assessora de imprensa para a Vale:
— Fiquei mais próxima das pautas voltadas para o tema. Viajei muito e conheci vários projetos de preservação, vi um país em movimento. Então, fiz pós-graduação em Comunicação e curso de especialização em Jornalismo Ambiental. E percebi que precisava voltar a escrever, voltar para o outro lado do “balcão”. Pedi demissão da Vale e comecei a buscar um caminho. Assim surgiu a Plurale, que criei com o amigo de toda uma vida Carlos Franco, também mestre e companheiro de caminhada. Como o nome indica, ela busca um debate plural e amplo. E já nasceu como revista e site (http://www.plurale.com.br/) ao mesmo tempo. Queremos, os dois e a equipe envolvida no projeto, contar o que acontece neste Brasil em transformação para melhor, falar de pessoas, empresas e organizações que estão fazendo diferença. Então, é um jornalismo socioambiental e, paralelamente, um jornalismo para quem gosta de bons casos ou “causos”, como se diz em Minas.

Para alcançar o objetivo de conscientizar o leitor, a Plurale (impressa em papel reciclado, obviamente) busca não só ter em sua equipe profissionais renomados e experientes, mas também fazer entrevistas com gente que tem um trabalho reconhecido na área e mostrar fatos cotidianos relacionados à preservação do meio ambiente:
— Nossas matérias visam a despertar no leitor a percepção de que ele pode contribuir com um assunto simples, em que não há nada de mirabolante. Convivemos no dia-a-dia com temas socioambientais e as pautas vão surgindo daí. Algumas nos são sugeridas, mas sempre buscamos um olhar nosso, da Plurale. O site é mais factual, com aproveitamento do bom conteúdo dos nossos muitos parceiros. 

Sônia faz questão de destacar também o trabalho da equipe, formada por Isabel Capaverde, Nicia Ribas, Marcelo Pinto, Sergio Lutz, Geraldo Samor, Mucio Bezerra, Marcelo Begosso e Renata Mondelo, entre outros, além dos correspondentes no exterior, como Ivna Maluly (Bruxelas), Valéria Maciel (Oslo) e Yumi Ikeda (Tóquio). E, em entrevista à newsletter do Itaú, falou da igualmente importante contribuição dos leitores: 
“Somos muito procurados para pautas. O assédio é constante. A grande imprensa, na verdade, não tem espaço; tem um caderno, uma coluna, uma edição especial, mas não é o suficiente. A mídia especializada é o principal canal para desaguar esses assuntos. Vivi muito tempo no universo de exclusividade, das grandes empresas jornalísticas. Com a Plurale, abriu-se uma janela que acho espetacular, uma janela para a verdadeira democratização da informação. Vejo nessas parcerias entre empresas de comunicação que cobrem a área de sustentabilidade algo muito maior. Nós fizemos recentemente, por exemplo, uma entrevista com o Dr. Israel Klabin que foi publicada em 22 sites. Isso é extraordinário, porque a informação não pertence a mim ou à revista. Mas se você se considera dono exclusivo daquele conhecimento, daquele saber, daquele assunto, aquilo não cresce, não frutifica. O que vemos é o contrário, a comunicação conseguindo chegar a todos.”

Casos desafiadores

Ainda sobre a sugestão de pautas, a jornalista diz que se orienta para a escolha das que envolvem a ação da sociedade ou de pessoas simples, muitas vezes estimuladas por investimentos de empresas, com resultados satisfatórios:
— Apenas queria dar um recado aos nossos colegas que “vendem” as pautas: acho que há assuntos excelentes que as empresas não estão conseguindo levar ao conhecimento da imprensa. Histórias fantásticas, fáceis de serem contadas, como a de jovens em situação de risco que agora participam de um projeto em que são capacitados para fazer jogos para computadores. Um dos meninos nos disse: “Puxa, achava que seria gari como meu pai, mas agora não. Quero trabalhar com informática.” A produção dessa matéria só foi possível graças à indicação da assessora de imprensa. Trazer esses casos à tona é um desafio para as empresas.

Otimista, Sônia Araripe acredita que, gradativamente, os brasileiros estão se mobilizando para recuperar e revitalizar o meio ambiente que os abriga e que é possível haver convivência harmoniosa entre os seres humanos:
— O Brasil está mudando. Para melhor. O consumidor vai à luta e briga por seus direitos, ONGs estão defendendo os que não têm tanta voz… A maioria dos governantes, nas três esferas — federal, estadual e municipal — sabe que precisa se ocupar com as causas socioambientais e não apenas pensar em votos. Há trabalhos sérios e consistentes no País e há lugares em que ele já é mais justo, solidário, e mais preocupado com as questões ambientais. Começa na escola. E está chegando a todos.