Sentinelas da Tupi em ação


04/01/2007


José Reinaldo Marques

No dia 2 de setembro de 1945, as tropas aliadas derrotaram o exército nazista de Adolf Hitler, pondo fim à Segunda Guerra Mundial. O fato já vinha sendo esperado e diversos veículos jornalísticos do mundo inteiro disputavam o direito de dar a notícia em primeira mão. No Rio de Janeiro, as grandes emissoras de rádio também tinham suas equipes empenhadas no grande furo, mas foi o pessoal da Rádio Tupi — fundada em 25 de setembro de 1935 — que teve o privilégio de noticiar primeiro que a guerra havia acabado.

O episódio frustrou Heron Domingues — do “Repórter Esso”, da Rádio Nacional — que fazia parte de um grupo criado especialmente para acompanhar o noticiário internacional produzido pelas agências. Famoso por ser “o primeiro a dar as últimas”, ele soube do desfecho da guerra pela Rádio Tupi. Dizem que não queria se ausentar da redação, mas cedeu aos apelos de alguns colegas e resolveu ir para casa. Foi então que a tão esperada notícia chegou pelo telex da Nacional. Mas já era tarde. O pessoal da Tupi foi mais rápido. 

                    José Reinaldo Marques

                                               Roberto Feres

Quem conta a história é Roberto Feres, gerente de Jornalismo da Rádio Tupi que há 30 anos trabalha na emissora fundada por Assis Chateaubriand. Se a história é totalmente verdadeira, ele não sabe:
— Mas faz parte das lendas do jornalismo radiofônico. Dizem também que, quando a notícia chegou à redação, a equipe deles estava em um bar, tomando café. O certo é que nós, da Tupi, estávamos mais atentos (risos).

Roberto Peres comanda o grupo responsável pela produção do famoso “Sentinelas da Tupi”. Segundo ele, o programa é um desdobramento do primeiro informativo da emissora, que era anunciado com a seguinte chamada: “Quando o galo canta, o cacique informa.” No início dos anos 60, “O cacique informa” ganhou o nome atual.

Sem parar

O Jornalismo da Tupi funciona ininterruptamente, apoiado no trabalho de equipes de profissionais que se dividem em cinco turnos. Segundo Feres, a dinâmica da edição acontece a partir da atuação dos repórteres que cobrem a cidade e dos três correspondentes de Brasília:
— Antigamente, o material era produzido em cima das informações que eram repassadas pelos setoristas. Atualmente, temos também convênios com veículos de outros estados. A notícia colhida na rua é passada ao apurador, que a repassa ao redator, cuja função é dar tratamento às matérias. Em seguida, a nota é submetida ao editor, que é quem realmente monta o jornal.

 Redação da Rádio Tupi

Para ele, um dos segredos de sucesso do programa, desde a sua estréia, é ter jornalistas experientes:
— Até hoje contamos com uma equipe de alto gabarito. Mas vale lembrar o time que já passou por aqui, formado por gente que passou pelas redações de O Jornal, Jornal do Commercio e O Cruzeiro, como Mário Rodrigues, Paulo Galante, Zózimo Gastão (irmão do colunista Zózimo Barroso do Amaral), José Carlos Cataldi, Nilton Jaques, Paulo Monteiro e Ari Severino. 

Quando os programas jornalísticos estrearam na Tupi, eram transmitidos a cada hora. Pouco depois, por causa das concorrentes, o noticiário passou a ser apresentado cinco minutos mais cedo, precedido pela vinheta “Tupi na frente da informação”:
— Essa tradição teve início há muitos anos. O nosso noticiário acontece aos 55 minutos da hora, porque a Rádio Globo apresentava o programa “O Globo no ar” na hora cheia. Seria ruim fazer um jornal paralelo, até porque muitos ouvintes são radiomaníacos e ouvem os dois. Por isso entramos sempre um pouco antes.

Feres conta que, quando ingressou na rádio, encontrou uma equipe de 103 pessoas, entre noticiaristas, editores, redatores e repórteres que trabalhavam como setoristas em hospitais, delegacias, sedes dos Governos Federal, estadual e municipal, Alerj e Câmara Municipal. Além disso, a Tupi contava com o serviço de agências como a France Presse e a Reuters. Atualmente, são cerca de 30 profissionais: o gerente de Jornalismo, a coordenadora de Reportagem, 14 repórteres (11 no Rio e três em Brasília), quatro redatores-editores, cinco locutores-noticiaristas e cinco estagiários.

Benefícios

                                         Ana Guimarães

A informatização da Tupi, há dez anos, trouxe benefícios para o trabalho, embora Feres ache que tenha gerado “uma certa preguiça”:
— Uma das melhores coisas é o teleprompter, tela em que o locutor lê as notícias que o editor passa diretamente do seu computador. A internet também globalizou a informação. Mas um departamento de Jornalismo não pode depender dela pra tudo. Por exemplo: no caso das notícias de Cidade, o apurador não pode ficar dependente da web; tem que apurar tudo de fato, desconfiar, fuçar… Do contrário, o noticiário o risco de ficar repleto de “barrigas”.

A editora Ana Guimarães, do turno da tarde, cuida do “Sentinela da Tupi” e do “Tupi Notícias”, que vai ao ar aos 25 minutos de cada hora:
— O “Tupi Notícias” é um jornal menor e mais dinâmico, enquanto o “Sentinelas” é bem maior, tem entradas dos repórteres diretamente da rua e de Brasília e o material da turma que cobre esportes. É um trabalho de equipe.

Cumpridas as etapas de apuração, reportagem e edição, o noticiarista recebe no estúdio o material que transmitirá aos ouvintes. Esta a função de Paulo Vasconcellos, há dez anos uma das principais vozes do Jornalismo da emissora e para quem manter o público bem informado é a maior gratificação:
— Nosso noticiário é muito amplo, com notas sobre o Brasil e o mundo, mas com um foco mais direcionado à população do Rio — diz ele. — Recebemos o produto final na cabine e lemos as notícias com o apoio do teleprompter instalado no computador, embora tenhamos também à mão uma cópia impressa. Isso nos dá mais segurança, porque nunca sabemos quando haverá uma pane elétrica, como já ocorreu algumas vezes, a última, comigo, num domingo há quatro anos.

 Paulo Vasconcellos

Padrão

Antes, lembra Paulo, o noticiário era apenas feito em papel:
— Eu peguei justamente o momento de transição os dois sistemas. Trabalhar com o computador facilitou o trabalho do noticiarista em vários aspectos, especialmente porque o texto fica mais limpo, devido à melhor padronização das letras, e porque o sistema informatizado é muito mais rápido do que a máquina de escrever.

Outro benefício apontado pelo locutor é o processo de correção quase instantâneo do noticiário:
— O computador foi mesmo um ganho. Além de tudo isso, nos permite gerar notícias de última hora, mesmo com o jornal praticamente fechado, fazendo com que sejamos ainda mais fiéis aos princípios do veículo que operamos, pois o rádio é um dos meios de comunicação mais velozes que existe.