Sensibilidade sobre os movimentos humanos


11/12/2006


Claudio Carneiro
15/12/2006

O início da atividade profissional de Rose Peres como repórter-fotográfica no jornal O Rio Branco foi um pouco diferente do de seus colegas de profissão. Afinal, ela voltava de uma licença-maternidade. Na época, em 1988, ainda não tinha seu próprio equipamento e sentia dificuldades no laboratório — num mundo ainda não digitalizado, o profissional fotografava, revelava o filme e ainda o copiava em PB. No primeiro dia, um grande desafio: cobrir um acidente de carro com vítimas. As fotos internas, no hospital, foram feitas sem flash. Apesar de todos os percalços iniciais, Rose permaneceu no jornal por 11 anos.

A dupla jornada, de mãe e jornalista, às vezes atrapalhava. Na noite da morte de Chico Mendes, por exemplo, em dezembro de 88, ela havia trocado o plantão com um colega, porque não tinha com quem deixar o filho. Mas a repercussão do assassinato, nos dias que se seguiram, foi muito intensa, com manifestações de ativistas de todo o Brasil e do mundo:
— Acompanhei isto de perto. A prisão dos principais integrantes do Esquadrão da Morte também foi marcante, porque representou o fim de uma época de crimes constantes no Acre. Nessas coberturas, tivemos a oportunidade de conhecer colegas de todos os lugares e trocar muita informação.

Hoje, aos 37 anos e 18 de profissão, Rose Peres ainda não sabe o que é vida mansa:
— Estou há sete anos no jornal A Gazeta do Acre. Trabalho sozinha na fotorreportagem, me dividindo para cobrir tanto as reportagens do cotidiano quanto as especiais.

O fato de ser mulher nunca chegou a atrapalhar, mesmo ela tendo sido a primeira repórter-fotográfica do estado, num segmento dominado por homens:
— O que dificultou no início foi o fato de eu ser muito nova — 18 anos —quando comecei. Por ser baixa, tive que subir em muitos muros e ombros de colegas de trabalho, ou fazer fotos por entre as pernas de outros. Nós, mulheres, somos capazes de cobrir tranqüilamente qualquer assunto e nos encaixamos muito bem nesta atividade. Já vi várias colegas cobrindo áreas tipicamente masculinas, como esporte e polícia.

Como sempre atuou na Geral, fazendo o que aparecesse pela frente — para depois entrar em Esportes, Política ou Polícia, por exemplo —, Rose tem fotos com temas muito diversificados. Sua preferência, porém, são as matérias de cotidiano.
— Eu amo fotografia. Fotografar é uma magia e, principalmente em foto-jornalismo, é preciso mesmo ter sensibilidade, estar no lugar certo na hora certa. Gosto de ver e de fazer fotos que falam por si mesmas. Quando isso acontece, acho que é a melhor fotografia a ser feita.

Para Rose, não é qualquer pessoa que tem capacidade de fazer uma fotografia jornalística:
— É preciso entender o que está acontecendo e estar bem informado e disposto a ir atrás da imagem para que ela tenha a sua função dentro da notícia. Esta é uma área muito legal, uma profissão encantadora, apesar de ser um trabalho duro. Não se iludam, não é uma carreira fácil. Não é para qualquer um.

Segundo ela, é preciso ter a capacidade de captar aquele momento exato que vai representar toda a notícia, uma situação, um evento, um fato. O repórter usa as palavras e o fotógrafo, as imagens.
— Numa cobertura, fazemos várias fotos, mas sabemos quando a gente fez “a foto”. É como se alguém dissesse a palavra chave, aquela que a gente quer ouvir.

A fotógrafa confessa que não gosta de cobrir Política e prefere as manifestações públicas, as invasões de terra, os confrontos na periferia, enfim, os movimentos humanos. Outro tema de sua preferência são as crianças, sempre presentes em seus trabalhos mais expressivos. Perfeitamente adaptada às facilidades da fotografia digital, Rose Peres comemora a facilidade e a qualidade obtida com os novos recursos. Mas tem um porém:
— Os que tiveram a oportunidade de revelar seus próprios trabalhos conhecem muito bem a magia de ver seu trabalho surgindo no papel, sob aquela luz avermelhada. 

Clique nas imagens para ampliá-las: 

“Esta é uma das minhas fotos…”

“A criança trabalha na produção…”

“No Acre, é comum ver índios…”

“Eu ia 
passando 
por acaso…”

“Um dia, 
de manhã cedinho…”

“Neste dia estava duro encontrar…”

“Para conseguir 
esta foto…”

“Passei 
o dia num acampamento…”

“Certo dia, passando pelo Poço…”

“No inverno, o rio Acre enche…”

“Havia repórteres-fotográficos…”

“Este trabalho
foi bem interessante…”