Os homens seguirão ouvindo a nossa voz


06/12/2022


Por Isa Colli, jornalista e escritora, integrante da Comissão da Mulher e LGBTQIAPN+ da ABI

É sobre mulheres reais, fortes, independentes, que não levam desaforo para casa e não aceitam desrespeito que eu quero falar neste espaço. Mulheres com este perfil, que têm a certeza de que podem ocupar o lugar que quiserem, ganham cada vez mais destaque. A luta, no entanto, é diária e cansativa. É preciso enfrentar todo tipo de barreira e preconceito.

A desigualdade de gênero no mercado de trabalho é uma dessas barreiras. Segundo dados do IBGE, o salário das mulheres é, em média, 22% menor que o dos homens. Esse abismo já foi maior. Pouco a pouco, vamos superando os obstáculos. Mas ainda há muito a avançar. Na política, por exemplo, a representatividade feminina ainda é baixa. Vejam a comparação: 51,8% da população brasileira é formada por mulheres, porém, na eleição de 2 de outubro, tivemos apenas 91 deputadas federais eleitas, 17,7% do total de 513 parlamentares.

Entre elas está Sâmia Bomfim, deputada federal reeleita por São Paulo com mais de 225 mil votos. Em sua página no Instagram, a parlamentar se apresenta como mãe do Hugo, feminista e líder do PSOL no Congresso Nacional. O pai do seu filho é o também deputado federal Glauber Braga, companheiro de vida e de lutas políticas. Sâmia é mulher de fibra e levanta a voz para homens machistas e misóginos. Esta semana, enfrentou um deputado que tentava aprovar na Comissão da Mulher a votação do “Estatuto do Nascituro”, que ataca o direito à interrupção da gravidez até mesmo em casos de estupro ou risco de vida da gestante. O parlamentar deu socos na mesa, gritando: “abortista não tem vez!”.

Sâmia prontamente o intimidou dizendo: “Eu também sei bater três vezes (na mesa). O senhor coloque-se no seu lugar porque é minha hora de falar. Se não consegue ouvir o contraditório, se não suporta ouvir a voz de uma mulher, o que está fazendo na política? Está achando que política é instrumento de exercício de violência? De colocar a força física, a masculinidade sobre os direitos das deputadas falarem. Lamento, sinto muito, não. Os senhores vão ouvir o que nós temos a dizer. Aqui tem deputada eleita com voz, com opinião, que sabe quais são os direitos e que vai falar… os senhores vão seguir ouvindo a nossa voz!”

E que as vozes sejam cada vez mais fortes e potentes como a de Janja Silva, a futura primeira-dama do Brasil. A mulher do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva já mostrou que não será sombra porque tem brilho próprio. A socióloga, especialista em gestão social e sustentabilidade, teve protagonismo na campanha do marido, tem voz ativa na transição e já se sabe que seu papel não será menos importante no futuro governo. Já está incomodando muita gente. Desperta a ira machista, inclusive de mulheres. Janja é livre e dona de sua própria história. Tem visão sobre políticas públicas. Será muito mais do que a mulher do presidente.

Temos que mirar na educação das nossas crianças para que tenhamos mais Sâmias e Janjas ocupando os espaços de poder em todas as esferas.

(*) Esse texto é de responsabilidade exclusiva da sua autora, não representando, necessariamente, a opinião da direção da ABI