Nas manchetes, de poemas a nudismo


21/12/2006


Fim de ano é também o início do verão no País, época em que a área cultural costuma esquentar, oferecendo boas oportunidades de matérias para os colegas da área cultural. Pesquisando o que foi publicado no período nos últimos 50 anos, em alguns dos mais importantes jornais brasileiros, é possível acompanhar a evolução das Festas e as mudanças de hábitos da população.

Em 1956, O Globo publicou um caderno especial de Natal de 25 páginas, com fotos, ilustrações e artigos de Alceu Amoroso Lima, Augusto Frederico Schmidt e Anton Chekhov sobre o tema. Na coluna social, sob o título “Senhoras e senhoritas do nosso ‘grand monde’ fazem suas confidências sobre a data máxima da cristandade”, Fernando Augusto anunciava o que socialites como Ilde Garavaglia (“figura das mais populares da sua geração”), Carmem Teresinha e “a espetacular Sra. Tony Mayrink Veiga” haviam programado para a ceia.

O caderno reservou ainda um espaço especial para os chefs e barmen dos principais hotéis e restaurantes do Rio darem receitas de coquetéis especiais para a ocasião, entre eles Vittorio Campagani, do Hotel Glória; Costa, do Copacabana Palace; e Aristides, da antiga boate Sacha’s.

No noticiário principal do jornal, na edição de 14 de dezembro de 1956, Antônio Olinto citava na sua coluna os dois poemas por ele eleitos “os melhores do Natal de nossa literatura” daquele ano: “Mistérios do Natal”, de Augusto Frederico Schmidt, e “Romance da visitação”, de Murilo Mendes.

Na mesma edição, um texto intitulado “Papai Noel em pessoa, na Casa José Silva” falava da visita que o personagem fez às crianças na tradicional loja do Centro do Rio. “Foram momentos de indizível emoção para a petizada que afluiu em considerável número ao 3º pavimento da Rua Miguel Couto, 3, onde o bom velhinho deu os seus interessantes conselhos e fez uma expressiva pregação sobre o sentido do Natal”, dizia a matéria.

O Globo também promoveu um concurso, como se lê na reportagem “Contribui o certame de vitrinas para a maior beleza da cidade”. Pelo edital, o jornal oferecia “setenta mil cruzeiros em prêmios para os dez primeiros colocados”, inscritos no Departamento de Relações Públicas. Já na edição de 24 de dezembro, o editorial na primeira página começava assim: “Não há comemoração mais doce e evocativa do que a grande festa de Natal…”


Pirataria

Na antevéspera do Natal de 1986, uma das manchetes do Jornal do Brasil foi “Passageiros da Central ganham rosas no Natal”. A matéria que falava de uma iniciativa da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU): “Maquinistas, seguranças e agentes de comunicação social da Cia. Brasileira de Trens Urbanos distribuíram ontem (22 de dezembro) 7 mil rosas aos passageiros na Estação Pedro II, dando início às comemorações do Natal.”

Disputando com notícias sobre a eleição da rainha do carnaval carioca, organizada pela Riotur, a movimentação de passageiros na Rodoviária Novo Rio (“Mais de 100 mil chegam à Novo Rio”), o Caderno B dava como principal matéria “Piratas atacam no Natal”, de Márcia Cezimbra, que anunciava: “Fique ligado, Rio de Janeiro, a TVento Levou, emissora pirata, promete invadir o ar do canal 13 com um especial sócio-escrachado no Natal”.

No edição do dia 24, o JB fez suíte do assunto no Caderno Cidade, com o título “TV pirata cumpre promessa e exibe especial de Natal”: “Com imagens e som ‘padrão Globo de qualidade’, a emissora pirata TVento Levou mandou ao ar ontem (23 de dezembro), exatamente às 20h, seu especial de Natal, no canal 13.” 


Serenata

Em 96, O Estado de S. Paulo publicou interessantes reportagens natalinas. Uma delas, “Caixinha está menos generosa este ano”, do dia 23, mostrava a insatisfação de alguns trabalhadores com o atraso e o baixo valor das gorjetas. A reportagem de Márcia Chic dizia: “A tradicional caixinha de boas-festas está atrasada e minguada neste fim de ano. Varredores de rua, carteiros e entregadores de gás, por exemplo, dizem que nos bairros comerciais e residenciais está difícil obter alguns trocados extras.”

A jornalista Gláucia Leal descobriu uma família que prometeu fugir das comemorações tradicionais e adaptar a festa ao próprio estilo de vida. “Busca por Natal diferente tem até nudismo” mostrava a família da bioquímica Marília Figueiredo de Campos, casada e mãe de três adolescentes, que planejou um Natal com um detalhe diferente: “Ela e o marido, as filhas e um grupo de amigos deverão permanecer sem roupa durante a confraternização”, escreveu a repórter do Estadão.

Da sucursal de Brasília, “Serenata é a alegria geral” — sobre uma espécie de concurso de cantores que começava dois meses antes do Natal — foi escrita num estilo poético: “A calma das quase sempre silenciosas madrugadas nas quadras do Plano Piloto é quebrada pelo insistente tilintar de pequenos sinos. (…) Primeiro, são apenas poucos, depois, são dezenas que tocam fortemente. (…) Não tardam ser acesos num banhado de luzes, os apartamentos até então escuros. Nem a surgirem nas janelas, sonolentos e em roupa de dormir, os curiosos arrancados da cama. (…) Lá embaixo, sinos e velas acesas nas mãos e gorros vermelhos de Papai Noel, jovens, muitos jovens, chamam: ‘Acordem, venham cantar com a gente. É a serenata de Natal que está começando’.”