Milton Saldanha – No ritmo da notícia


25/01/2007


Rodrigo Caixeta 
02/02/2007

                            Rodrigo Caixeta

Milton Saldanha é um exemplo de profissional que encontrou um nicho jornalístico específico e foi bem-sucedido em sua iniciativa. Em 1994, criou o Dance, jornal voltado para o público adepto da dança de salão e que, até aquele momento, não dispunha de fonte de informação sobre o seu hobby. A idéia surgiu quando o jornalista começou a freqüentar uma academia de dança em São Paulo e observou, a partir do comentário de amigos, que não existia uma publicação sobre os eventos afins:
— Não tinha nada sobre dança de salão no mercado paulistano. Meus colegas sempre me perguntavam pela programação de fim de semana, porque estavam cansados de ir aos mesmos lugares. Como jornalista está sempre ligado, tive a sacada de produzir um informativo. 

Milton, porém, recusa o rótulo de imprensa alternativa e diz que apenas encontrou uma forma alternativa de fazer jornalismo. Prestes a se aposentar, ele não queria mais ser empregado e também não queria — ou podia — parar de trabalhar:
— Eu morreria, se parasse. Tive um estalo muito feliz de fazer um jornal de dança. É um microjornal, em que trabalho na minha casa, não tenho escritório nem funcionários. Faço-o de cabo a rabo. A publicação é gratuita e tem tiragem de 10 mil exemplares, devidamente comprovados. 

Milton condena o que batizou de “estelionato editorial” e, para atestar o volume de impressão, convida mensalmente um anunciante para conferi-la. O prestígio e a credibilidade de seu veículo são tão grandes que, em 2006, foi criada uma edição especialmente produzida para Campinas — até então, o jornal circulava apenas na capital paulista e na região do ABC:
— O Dance tem um índice de leitores grande, porque é para um público dirigido. São os bailes, as escolas de dança, os eventos de dança, os festivais… Tenho depoimento de leitores que dizem ler o jornal mais de uma vez. Faço um periódico bem-feito, porque trago uma bagagem grande de experiência. 

Na escola

Jornalista de carreira, formado nas redações, Milton, ainda criança, era repórter do jornal mural de sua escola e, posteriormente, criou o jornal de sua rua. Na mídia convencional — em que estreou em 1963, em sua cidade natal, a gaúcha Santa Maria — passou por cargos diversos, como chefe de Reportagem na TV Globo de São Paulo, chefe da sucursal do Estadão no ABC paulista, assessor de imprensa da Ford e editor do Jornal do Economista. Passou também por rádio — teve um programa de variedades na Rádio Triunfo, de Porto Alegre — e ajudou a criar a revista Motor Três, semelhante à Quatro Rodas. Só não foi correspondente no exterior, o que sempre aspirou fazer:
— Naquele tempo era um sonho, hoje não. As pessoas tendem a achar que é o paraíso, mas é pedreira. Na internet não deu tempo de trabalhar: quando ela chegou, eu já era aposentado. Tenho o meu jornal na web (www.jornaldance.com.br), mas ele não é produzido com uma linguagem do veículo, trata-se apenas da reprodução da versão impressa. 
 

                  Rubem Mauro e Milton

O colunista do ABI Online Rubem Mauro Machado, irmão de Milton e colaborador freqüente do Dance, diz que normalmente publicações como esta têm vida breve e surpreende-se com a longevidade do periódico, que completa 13 anos em 2007. Milton, por sua vez, pensava que os assuntos poderiam esgotar, mas conta que o seu problema hoje é a falta de espaço:
— Tenho dezenas de idéias que poderia usar, mas não cabem na edição. Precisaria de 40 páginas. Fazemos um jornal politizado, isso faz a diferença. Se fosse só de pilulazinhas, colunismo e coisas assim, ele iria para o lixo. Mas tem um enfoque crítico, um lado social engajado, o que dá uma força visceral e o deixa forte, sem a leveza das “abobrinhas”.

O Dance, segundo Milton, já teve várias edições especiais, entre as quais ele destaca a dedicada a Cuba, em que descreve, em 20 páginas, a dança local, além de aspectos turísticos e políticos:
— Foi uma viagem a convite da empresa oficial de turismo de Cuba. Fizemos perfis, fotos, mostramos o interior do país e há uma parte em que eu conto a história do bloqueio econômico norte-americano. Fez um sucesso fantástico. 

Cruzeiro

Há alguns anos, o jornal de Milton faz a cobertura do “Dançando a bordo”:
— É o maior evento de dança de salão do Brasil. Acontece num cruzeiro e reúne 3.500 passageiros dançarinos para uma semana com 80 aulas de dança, 12 professores, uma equipe de personal dancers e cinco bailes simultâneos por noite. Isso agregou muito prestígio ao jornal. Faço uma edição especial que circula no navio e em terra. O próximo evento será em fevereiro, no Costa Fortuna, em águas brasileiras. Na edição de 2008, a viagem será para Buenos Aires.

Rubem Mauro complementa:
— O jornal já cobriu muitos eventos no exterior, como um campeonato mundial de tango, uma das coisas mais fantásticas que já vi. Fizemos ainda edições de Buenos Aires, da Bienal de Lyon, do ABC, de festivais em Curitiba, Recife e Joinville.

Milton dá a receita do sucesso:
— Qualquer jornalista que faça um jornal segmentado e bem-feito terá êxito em sua atividade. É importante que ele aprecie e domine o assunto. O cara que descobre um segmento terá anunciante, leitor… O meu exemplo é resultado de uma paixão. Danço desde os 14 anos, sou do tempo do hi-fi e das reuniõezinhas dançantes caseiras.