Letícia Kfuri


08/03/2007


“Considero-me plenamente satisfeita com minha profissão. Em quase 20 anos tive oportunidade de trabalhar em rádio, jornal, revista e TV e, mais do que isso, tive a chance de aprender muito mais sobre o ser humano e sobre a nossa sociedade, do que creio que qualquer outra profissão me daria possibilidade de aprender. 

O jornalismo é uma experiência humana muito rica. É uma profissão que estimula o sentido crítico, a inquietação diante do mundo que nos rodeia. Ser jornalista é, entre outras coisas, sentir-se um pouco responsável pelo curso da sociedade em que vivemos. É uma chance de interferir positivamente nesta sociedade. Não na militância partidária, mas ajudando a formar opinião, oferecendo informação correta para que as pessoas tenham condições de exercer plenamente sua cidadania, orientando — e denunciando —, quando necessário. Esta é também uma carreira que abre portas para os ‘bastidores’ da nossa sociedade, pouco conhecidos pela maioria, uma espécie de privilégio que ao longo da carreira ensina muito. Passar a madrugada em uma favela, esperando o tiroteio terminar para voltar para casa, não é o mesmo que assistir pela TV às imagens editadas. Acompanhar no plenário os debates sobre um impeachment ou um novo pacote econômico não é o mesmo que ler a notícia pronta no jornal. É enriquecedor, é instigante. Mas é preciso gostar de aprender. É preciso saber aprender com tudo isso. E, finalmente, esta é uma carreira que exige um aprendizado constante sobre aquilo que se escreve. No caso de profissionais de rádio e TV que, muitas vezes cobrem várias editorias, a exigência tem um espectro muito mais amplo, o que me parece igualmente estimulante. Já no aspecto financeiro, é uma profissão que, para a maioria, permite viver como classe média. O único jornalista realmente rico, do qual consigo lembrar, é o falecido Dr. Roberto Marinho. 

A partir da década de 80 percebe-se uma ‘feminização’ do jornalismo. Desde então, o número de mulheres ingressando nas universidades é maior do que o de homens. Recentemente, a Agência Brasil publicou reportagem informando que o salário das latino-americanas corresponde a 40% da remuneração dos homens. No mercado de jornalismo no Brasil não é diferente. A própria Fenaj mostrava em 2004 que as mulheres recebiam 78,77% do salário dos homens, talvez este seja o motivo de tantas jornalistas nas redações. Não acredito que isso tenha mudado. Pode até haver motivos mais nobres, mas creio que senão o único, este é um dos principais. 

As mulheres estão em todas as redações, marcando presença e mostrando seu talento. Curiosamente no jornalismo, o reconhecimento do profissional não está associado apenas ao domínio do conhecimento e ao talento profissional, mas também muito à sua exposição na mídia. Os famosos, conhecidos e reconhecidos são aqueles que aparecem nos telejornais, ou nos programas de rádio e, sem dúvida, as mulheres estão em grande número nestes dois veículos.”

Letícia Kfuri — jornalista da Gazeta Brazilian News (Fort Lauderdale-Flórida)