Jornalismo é protagonista em “Guerra Civil”


19/04/2024


Por Salomão de Castro, conselheiro da ABI

Fotos: Divulgação/A24

Após grande expectativa, chegou aos cinemas de todo o Brasil, nesta quinta-feira (18/04), o filme Guerra Civil, dirigido pelo britânico Alex Garland (indicado ao Oscar de melhor roteiro original pela ficção científica Ex Machina). Em um ano com eleições presidenciais nos Estados Unidos, o filme tem trama intrigante, em que o jornalismo tem papel central.

Com abordagem bastante objetiva desde o início, o filme mostra divisão nos Estados Unidos, havendo como antagonistas os apoiadores do presidente (Nick Offerman) os defensores de uma república independente, a ser liderada por Califórnia e Texas. A premissa chama atenção de imediato, pois, tradicionalmente, os dois estados têm preferências ideológicas distintas. O crítico Pablo Villaça chegou a apontar que no Brasil, seria o equivalente à união de Ceará e Santa Catarina (estados que desde 2006, por exemplo, votam de forma distinta na eleição presidencial).

Num cenário distópico e inóspito, quatro jornalistas fazem um longo trajeto em busca de entrevistar o presidente estadunidense, percorrendo pontos distintos de uma Nação arrasada. O trio é formado pela fotojornalista Lee Smith (Kirsten Dunst), o jornalista Joel (Wagner Moura), da Agência Reuters, e o veterano Sammy (Stephen McKinley Henderson), do The New York Times. A eles se soma Jessie (Cailee Spaeny), fotojornalista iniciante que tem Lee como referência. O quarteto, então, segue para a atribulada pauta, acumulando conflitos internos e externos durante a jornada.

Com orçamento de U$ 50 milhões, Guerra Civil marca o ingresso do estúdio A24 no contexto de superproduções. Até então, o estúdio esteve à frente de sucessos que se consagraram em premiações, como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (grande vencedor do Oscar em 2023), bem como Zona de Interesse e Vidas Passadas, que concorreram ao Oscar de melhor filme deste ano.

Elenco é destaque

Embora a premissa indique uma trama com conteúdo político, Guerra Civil privilegia a ação e as relações que se desenvolvem entre os jornalistas num cenário em que o pior pode acontecer a qualquer momento enquanto se encaminham para a pauta. A ação, no entanto, é intercalada por sequências também silenciosas, mas em que o risco extremo está sempre presente.

No elenco, o destaque é Kirsten Dunst. A atriz brilha desde Entrevista com o Vampiro, a adaptação do romance de Anne Rice feita pelo cineasta Neil Jordan em 1994, quando se destacou diante dos protagonistas Tom Cruise e Brad Pitt, chegando a concorrer ao Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante. Sua consagração se deu com Ataque dos Cães, da diretora Jane Campion, quando concorreu ao Oscar na mesma categoria. A ela se soma Cailee Spaeny, do recente Priscilla, de Sofia Coppola. Na dinâmica entre mentora e aprendiz, nem sempre as coisas saem como o esperado. O relacionamento entre as personagens é magnético e envolvente.

Já o brasileiro Wagner Moura e Stephen McKinley Henderson têm desempenhos corretos e encontram momentos distintos em que seus personagens podem se destacar.

No entanto, em Guerra Civil, desde já, uma sequência é antológica, quanto os protagonistas estão diante de um miliciano ultranacionalista vivido por Jesse Plemons. Já indicado ao Oscar por Ataque dos Cães e com presença elogiada em títulos como Judas e o Messias Negro e Assassinos da Lua das Flores, Plemons personifica a intolerância e nos faz lembrar que ela está mais perto do que pensamos.