Jorge Roberto Martins – Escrevendo por música


27/05/2008


Rodolpho Terra
30/05/2008
 

 Solange Noronha

A música sempre acompanhou Jorge Roberto Martins. Isto graças ao pai, o compositor Roberto Martins, com quem aprendeu a tocar piano aos 9 anos de idade. Hoje, porém, o apresentador do programa de “Sala de música”, na Rádio MEC, e produtor do evento mensal da Academia Brasileira de Letras “Música popular na ABL” brinca que não é pianista, mas apenas um “pianeiro”.

Se a música veio do berço, já o contato com o jornalismo foi uma eventualidade em sua vida:
― Realmente, aconteceu por acaso, mas hoje penso que não conseguiria viver sem escrever todas as minhas bobagens. Honra-me muito ser jornalista e conhecer os colegas. Na realidade, ainda sou um estagiário, vivo aprendendo.

Segundo Jorge Roberto, o “acidente” que deu origem à sua carreira jornalística aconteceu na década de 60, quando, como funcionário concursado, ele foi trabalhar no Palácio Guanabara como datilógrafo na Assessoria de Imprensa do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Além de ser um bom escrevente, Jorge era uma pessoa bem informada sobre literatura e, é claro, música e começou a ser aconselhado por pessoas como os assessores do Governador Francisco Negrão de Lima a tomar um rumo profissional mais próximo das coisas de que gostava de falar. Enquanto isso, ia batendo na máquina de escrever os releases produzidos na redação e se instruindo sobre técnicas jornalísticas, como lide e sublide.

Carreira

             Afonso Machado e Jorge Roberto

Logo foi estagiar no Jornal do Commercio e, em 1970, sentiu-se em casa ao entrar no setor de música clássica da Rádio Jornal do Brasil. Logo, a convite de Leo Montenegro, finalmente estreou a própria coluna sobre música, no Correio de Jacarepaguá. Depois, por indicação de Roberto Moura, foi trabalhar no segundo caderno do antigo Diário de Notícias. Para atuar no jornal, foi exigido de Jorge o registro profissional e, por conta de uma brecha na legislação, ele seguiu carreira oficialmente como repórter-fotográfico.

Ainda nos anos 70, já casado, começou a cursar Direito na antiga Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Uerj:
― Naquela época, muitos jornalistas eram advogados. Alguns também escolhiam Letras, pois não havia ainda faculdade de Comunicação Social. Mas tranquei a matrícula depois de quatro anos

Com o fechamento do Diário de Notícias e do Correio de Jacarepaguá, Jorge fez trabalhos para entidades como a Embratur e a Riotur. Em seguida, passou pelas redações da Bloch Editores, da IstoÉ, do Dia e da revista Tendência e foi assessor do recém-falecido Paulo Alberto Monteiro de Barros, ou Artur da Távola, de meados dos anos 90 até 2001, quando teve a oportunidade de criar um programa na Rádio MEC.

Perfis

Na MEC AM e FM, hoje Jorge produz e apresenta o “Sala de música”. E acredita que um programa de rádio não se baseia na simples escolha do repertório e da ordem em que as gravações entrarão no ar:
― Isto porque programar não é apenas aquele “vocês acabaram de ouvir…” ou “vamos ouvir…”. Além das músicas, eu falo sobre os arranjos, traço perfis de músicos e conto alguma história que envolva o tema que esteja abordando. O objetivo é ser o mais informativo possível também.

De acordo com o jornalista, a produção do texto para rádio é trabalhosa pelo fato de lidar com duas linguagens diferentes, a escrita e a falada:
― Isso é até engraçado, pois escrevo como jornalista e, na hora de falar ao microfone, acabo no improviso, vou no feeling. Não há como outra pessoa interpretar corretamente o que escrevo. Como ela vai saber onde há a entonação de uma ironia ou um questionamento, por exemplo? Busco também a naturalidade no discurso. A emissora e o programa são segmentados, eu sei, mas qualquer ouvinte pode entender o vocabulário utilizado. Procuro ser sempre claro, mas não popularesco. É como se eu estivesse numa entrevista ou num bar, conversando com a pessoa.

     Sérgio Cabral, João Portinari, Jorge e Afonso

Outro hábito de Jorge Roberto é não reler muito o que escreve:
— Não sei se isso é uma mania ruim ou uma saudável insatisfação, mas toda vez que olho um texto eu o altero quase por completo. Então, prefiro que outra pessoa faça a edição e a revisão.

Fora do trabalho, ele tem também um costume peculiar: toda vez que chega em casa, não importa de onde venha, toca um trecho de melodia ao piano.
― Da mesma forma, quando saio com a família, por mais atrasado que esteja, sempre executo algumas notas. Só então saio de casa. 

 Solange Noronha

Eventos 

Atualmente, o jornalista produz também o projeto “Música popular na Academia Brasileira de Letras”, uma série de shows gratuitos que acontecem mensalmente até dezembro deste ano. Além disso, cuidou — “com muita honra” — da parte textual da exposição “Retrato musical — Mello Menezes”, no Centro Municipal de Referência da Música Carioca. E escreveu, com Afonso Machado — bandolinista do grupo Galo Preto —, o livro “Na cadência do choro”, que traça um panorama das origens do choro e dos compositores pioneiros do gênero, como Pixinguinha, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga — e, de quebra, tem na capa reprodução de uma obra de Portinari, autorizada pelo filho do artista, João Cândido. 

Quando se fala em gênero musical, Jorge logo avisa que gosta de todos, desde que tocados com qualidade:
― É evidente que alguns estilos me atraem mais, bem como uma determinada forma de tocar, uma certa sintonia. Por exemplo, não sou muito fã do jazz progressivo, prefiro aquele ritmo mais tradicional, mais sofisticado.

Sobre o repertório atual da maioria das rádios brasileiras, ele confessa que não agrada aos seus ouvidos:
— É muito repetitivo, para fins comerciais. Não oferece escolha para o ouvinte: impõe determinadas músicas.