Hoje é Dia de Livro


27/06/2023


Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI

Breve voo literário sobre transgressões que provocam novas possibilidades

Futebol de cego

Para o público familiarizado com a produção literária do cantor, compositor e escritor Rogerio Skylab, o clima do novo livro de poesia é de despedida e celebração. Os mais de 70 poemas intercalam diferentes tons de humor que vão do cômico ao mergulho no drama mais abissal quando o autor pensa que a vida acabou. Em The dead, Skylab escreve “Lutei, desisti, abandonei, duvidei, esqueci, me encontrei:/ não sou ninguém/ e não tenho escolha”. Mas a vida continua para além da fatalidade poética no percurso de Futebol de cego, como em “Uma bofinho”: “Eu quero uma bofinho/ cuja dubiedade provoque pânico/ e vista de longe pareça homem. // Uma bofinho que me traia/ e me roube de vez em quando. // Pra quem lave, passe e cozinhe. / E, além disso, me coma”. Nesse trabalho, mais do que em qualquer outro, Skylab, recorrente aos pares opostos que provocam a dubiedade como forma estética de encarar o mundo. Editora Kotter.

Juventude e Contracultura

Por que a ideia de juventude dos anos 1950, 1960 e 1970 ainda é discutida em livros, memórias, filmes e salas de aula, depois de décadas da explosão dos movimentos culturais protagonizados por essas gerações? O professor titular de História do Brasil na Universidade de São Paulo, Marcos Napolitano, se debruça sobre a redefinição do significado de ser jovem traduzido na contracultura que produziu comportamentos plurais e contraditórios em que rebeldia e consumo interagiram para criar um mundo novo, baseado em uma utopia radical de liberdade política e existencial que não esteve livre de desilusões, fracassos e imposturas. Porém, nos legou conquistas e abriu caminhos para a vida em sociedade. Editora Contexto.

A literatura contemporânea de autoria feminina – Trajetórias e transgressões

Onze autoras assinam o debate sobre a produção recente de escritoras, dentro e fora do Brasil, na perspectiva de compreender o papel e o ‘deslugar’ ocupado por mulheres no universo literário atual. Os artigos tratam a relação entre memória, história e ficção de autoria feminina, a literatura como espaço decolonial de inserção e transformação de subjetividades esquecidas e subalternizadas, com destaque para escritoras que abordam os constituintes identitários e a diversidade das experiências. O trabalho organizado pelas professoras universitárias Maria Zilda Ferreira Cury, Sandra Goulart Almeida e Cimara Valim de Melo, também se ocupa das performances sociopolíticas empreendidas por escritoras contemporâneas, a representação de mulheres migrantes e os deslocamentos transnacionais pela literatura, sejam individuais ou coletivos. A produção de autoria feminina deste século, em prosa e poesia, seus movimentos de (de/re) territorialização e transgressão, bem como seus discursos e lugares de fala são perseguidos na tentativa de elucidar aspectos do fazer literário que perduram e transgridem a tradição em seus múltiplos processos de escritura e resistência. Editora Zouk.