Especial – Na apoteose do samba


22/02/2006


Texto e fotos de Rodrigo Caixeta 

O clima é de tensão nos dias de desfile das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. Minutos antes da primeira apresentação na Marquês de Sapucaí, os jornalistas correm para suas posições, seja para entrar no ar ao vivo em alguma emissora de rádio ou TV, seja para conseguir entrevistar os integrantes de cada grêmio e obter as informações mais importantes que estarão no noticiário do dia seguinte. Os repórteres-fotográficos formam uma verdadeira muralha em torno de alas, carros alegóricos e celebridades que vão desfilar. Tudo isso para mostrar com todos os detalhes como é o maior espetáculo popular da Terra.

Leilane, da TV Globo

Leilane Neubarth é uma das jornalistas mais empolgadas na área da concentração. A repórter da TV Globo costuma chegar cedo e faz diversas matérias e flashes, antes, durante e depois de cada desfile. Com a agitação característica de quem trabalha em televisão, ela anda de um lado para o outro na avenida, em busca de informações que possam ajudar no seu trabalho. Mas não é só o profissionalismo que a leva a cobrir com tanto entusiasmo a Sapucaí. Sua história de amor com a passarela do samba começou com a inauguração do sambódromo, em 1984, quando desfilou pela Mangueira, sua escola predileta:
— Na verdade, eu estava fazendo uma reportagem para falar sobre como uma pessoa se sente ao desfilar numa escola de samba. Houve uma segunda vez em que a televisão foi homenageada num carro alegórico e eu também saí.

Leilane só não fez o desfile no ano em que engravidou e no período em que apresentava o “Bom-dia, Brasil”. Ela diz que bom mesmo é estar na pista e orgulha-se de conhecer pessoas como Jamelão e tia Surita:
— Para mim, é sempre uma emoção diferente. Por mais que eu pense que vai ser a mesma coisa, quando chego aqui e sinto esse frisson, a adrenalina sobe e é muito emocionante. Ao longo desses anos, já vi histórias engraçadas, curiosas, fascinantes e tristes, como a da Porto da Pedra (a repórter faz referência à quebra de um dos carros alegóricos da escola). 

                   Nathaly, do SBT

Sempre diferente

Nathaly Ducoulombier, repórter do SBT, acumula 14 anos de cobertura na Sapucaí. Para ela, é sempre diferente e emocionante, ainda que as escolas sigam os padrões determinados pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa): 
— Quando a bateria passa, esquecemos até que estamos trabalhando; dá vontade de acompanhá-la — diz, empolgada. 

Cobrindo todos os dias de carnaval — das 19h até a última escola —, Nathaly não se deixa abater. E brinca:
— Hoje (domingo) está movimentado. A chuva atrapalha nosso trabalho, porque não conseguimos conversar com as pessoas e, com o papel molhado, a caneta começa a falhar. Mas isso tudo acaba virando pauta.

Como o SBT não tem direito de imagem sobre os desfiles, Nathaly faz matérias de comportamento e também sobre as escolas. O tempo é dedicado às anotações, a conversas com a equipe e atenção na concentração:
— Lembro-me da primeira vez que vim para a avenida, ainda como produtora da CNT. Foi emocionante. Só aqui é possível ver o que realmente acontece.

Fábio, da Rádio Carioca

Riqueza de detalhes

Com a experiência de 20 de anos dedicados ao radiojornalismo, Fábio Tubino, comentarista da Rádio Carioca, diz que a emissora desenvolve um trabalho de cobertura do carnaval durante todo o ano. Desta vez, ele conta que as equipes dos programas “Madrugada guerreira” e “Carioca samba show“ se juntaram para cobrir o desfile e que todo o seu conteúdo é transmitido simultaneamente pelo site Viva Rio:
— Estou na cobertura desde os ensaios técnicos. Há 12 anos faço o carnaval carioca e, a cada ano, temos novas surpresas e muitas emoções.

       Valéria, da Rádio Carioca

Para Fábio, a mecânica do rádio é mais atraente, pois trabalha com a informação imediata e a prestação de serviço:
— O melhor é retratar com riqueza de detalhes o momento na hora em que tudo acontece. Acompanhei muito sensibilizado o desfile da Rocinha, que fez um carnaval bonito e luxuoso, mas foi prejudicada pela desorganização. Vi o esforço para que cada ala pudesse se recompor e transmitir isso acontecendo é muito complicado. No ano passado foi o mesmo com a Portela. Ao mesmo tempo, é muito bom transmitir um desfile coeso como o do Salgueiro.

Quem também se emociona transmitindo ao vivo é Valéria Porto, da Rádio Carioca. Narradora dos desfiles da Sapucaí, ela se orgulha de dizer que é a primeira e única locutora de rádio a fazer cobertura de carnaval no mundo:
— Este é um universo interessante que as mulheres não procuram. Nossa responsabilidade é transmitir a emoção da avenida e, por isso, absorvemos a euforia que é transmitida pelo espectador daqui.

 Ernani, da Rádio Itatiaia

Companheirismo e integração
 
Ernani Alves, da Rádio Itatiaia de Minas Gerais, conta que a transmissão ao vivo da emissora pega os 20 minutos iniciais de cada escola e os dez finais. Extrovertido e falante como a maioria dos profissionais de rádio, ele diz que a adrenalina maior é no início do desfile e que a tensão vai baixando em seguida: 
— Nossa preocupação é a extensão do sambódromo e os fatos que acontecem isoladamente. Quatro repórteres ficam espalhados pela avenida, fazendo entrevistas, correndo atrás dos fatos e é aí que se percebe o companheirismo dos colegas, porque há uma integração entre os jornalistas, que estão sempre trocando informações. Acabei de ceder uma sonora de dois governadores para um colega de outra emissora.

A narração via rádio, segundo Ernani, deve oferecer ao ouvinte a visualização do espetáculo:
— Em nossa cobertura, costumamos dar nossas notas para as escolas, até mesmo para dar uma dinamizada.

Cobrindo carnaval há seis anos, Ernani, que desta vez também fez reportagens para a TV do Portal Terra, analisa:
— Depois de um certo tempo de experiência, conseguimos avaliar as escolas de forma técnica. No início, a emoção toma conta, até porque temos nossas escolas queridas, mas depois isso muda. Hoje eu torço apenas para a melhor, não tenho mais predileção.

Mauro, da Rádio Livre

Mauro Sant’ana, repórter da Rádio Livre, cobre carnaval desde 2004, interagindo com os foliões no Terreirão do Samba, na Cinelândia e na Lapa. Este ano, foi pautado para cobrir as escolas:
— É um espetáculo grandioso, que exige muita concentração do profissional. Procuro buscar informações para embasar minhas matérias, fico na pista e posso ir para onde quiser. Não estou setorizado como alguns colegas, posso ir dos camarotes às arquibancadas. Mas é preciso ter cara-de-pau para chegar nos locais e buscar pautas.

Assim como Fábio Tubino, Mauro comoveu-se com o drama da Rocinha. Depois, entusiasmou-se com o Salgueiro:
— Cobri as escolhas de sambas-enredo, a eleição das madrinhas de bateria… Então, já estou no clima das escolas, me envolvo muito mais, porque é um trabalho longo, que não se restringe aos dias de desfile. E é bom ver o sucesso das escolas na avenida. 

Adrenalina

Hérica Marmo, repórter do Extra, tem oito anos de experiência nesse tipo de cobertura e foi pautada para os desfiles do grupo especial: 
— Não sinto a mesma emoção da estréia, mas é a maior adrenalina, não dá tempo de apreciar como o espectador. Tenho que observar tudo o que está acontecendo e passar em tempo real para a redação. Saindo daqui, vou para a redação para escrever a matéria que sai no dia seguinte.

 Vivianne, Denise e Hérica, do Extra 

Vivianne Cohen, sua colega de redação, avalia com entusiasmo a cobertura na Sapucaí:
— É legal porque nos dá a oportunidade de aprender muita coisa. No Extra, temos o costume de dividir a tarefa entre os colegas, cada um faz três ou quatro escolas por dia, para não ficar cansativo. É sempre uma correria, porque temos que apurar as informações antes de a escola entrar na avenida. Fico na concentração, mas há outra equipe na dispersão.

Denise Ribeiro, também do Extra e a mais experiente do trio — 15 anos de Sapucaí —, não larga o rádio através do qual troca informações com a redação, observa os acontecimentos ao redor e mantém o espírito de alegria da festa. Sorridente, diz:
— Não me deixo abalar pelo nervosismo, a não ser pelo fechamento do jornal, pois é preciso cumprir o cronograma. Quando o desfile transcorre normalmente, é bem mais fácil, mas tudo varia de acordo com os acontecimentos da noite. Com a setorização, o trabalho ficou facilitado.

Para Denise, repórteres sem experiência na avenida devem se munir de um mínimo de conhecimento de carnaval:
— E a cada ano é uma surpresa, cai uma chuvarada, carros se quebram… Nem sempre o desfile é perfeito como o esperado e temos que entrar em cena para apurar o que gerou os imprevistos.

Fábio, do site Galeria do Samba

Fábio Silva, repórter do site Galeria do Samba, considera os desfiles um trabalho gratificante para os jornalistas:
— Você está participando do maior espetáculo da Terra e ainda desempenha a sua função. E falar de carnaval é muito bom. Há sempre uma adrenalina diferente quando você chega para trabalhar.

Em quatro anos, Fábio já testemunhou muitas histórias engraçadas de colegas:
— No ano passado, por exemplo, uma repórter ia entrar ao vivo, entrevistando o diretor de harmonia de uma escola. Devido ao barulho da bateria, ele não entendeu a pergunta e começou a cantar o samba-enredo. Nem é preciso explicar a cara que a repórter fez. 

Veículos se organizam

Atrás das celebridades

Em busca do
 melhor ângulo

A primeira vez
 na avenida