Entrevista – Osmar Frazão


23/11/2009


Grande contador de histórias da música e da TV 

Reinaldo Marques

Osmar Frazão

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, 8 em fevereiro de 1936, em pleno carnaval, o ator, radialista e especialista em MPB Osmar Frazão desde criança dizia para a família que queria ser artista.

O sonho se concretizou em 1957, quando, levado por um amigo, ingressou no elenco da antiga TV Tupi, onde conviveu com Paulo Porto, Maurício Scherman, Orlando Drumond, Mário Tupinambá, entre outros.

Nesta entrevista ao ABI Online, Frazão fala dos papéis que interpretou na TV, no teatro, da sua amizade com Almirante, Chico Anysio e do sucesso como jurado do programa de calouros “A grande chance”, comandado por Flávio Cavalcanti, que o chamava de “a enciclopédia da música popular brasileira”.

Atualmente, Frazão comanda o programa “Histórias do Frazão”, que vai ao ar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, aos domingos, das 9h às 11h, e mantém uma página na internet, onde conta histórias curiosas de grandes personagens da música nacional.

ABI Online — Onde e quando você nasceu?
Osmar Frazão — Eu nasci no Rio de Janeiro, na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, no dia 8 de fevereiro de 1936. Era um dia de carnaval e os grandes sucessos na época eram as marchinhas do Lamartine Babo. Mas cresci no Méier, na Rua Castro Alves. Na casa frente morava o Ataulfo Alves.

ABI OnlineQuais são as suas recordações de um vizinho tão ilustre?
Frazão — Eu me lembro do meu pai conversando com Ataulfo, na época de “Saudade da Amélia”, que ele compôs em 1942. Quando nós nos mudamos para Copacabana, quem foi morar na casa em que nós morávamos foi o próprio Ataulfo Alves.

ABI OnlineComo foi esta transição do subúrbio para o bairro mais badalado da Zona Sul?
Frazão — Em Copacabana eu comecei a conviver com outro tipo de gente com que eu estava acostumado no subúrbio. No prédio em que eu fui morar, viviam o cantor Gregório Barros e o cartunista Borjalo. No condomínio em frente, a Miss Brasil Terezinha Morango. No outro quarteirão, a Ângela Maria. Foi nessa época que eu passei a freqüentar a televisão, o bar da TV Tupi onde me reunia com o Orlando Silva, que conheci quando eu era menino, por intermédio de um tio meu que era compositor.

Com Nelson Cavaquinho e Ismael Silva

ABI OnlineFoi nessa época que você decidiu que queria ser artista?
Frazão — Eu desde garoto quis ser artista. Nunca pensei em fazer outra coisa na vida que não fosse no meio artístico. Quando eu estudava no Instituto de Educação, era comum os professores perguntarem aos alunos qual a profissão que iam escolher. A minha resposta era sempre a mesma: eu vou ser artista de rádio.

ABI Online — A família lhe apoiou quando você anunciou que queria ser ator?
Frazão — Eu devo muito aos meus pais por ter chegado até onde cheguei. Eles acreditavam em mim.

ABI Online — Seus pais tinham alguma ligação com a arte?
Frazão — O meu pai tocava piano de ouvido e era um tremendo sapateador. Ele foi o grande incentivador do que eu sou hoje. Quando eu era menino, ficava encantado com ele contando para os amigos histórias da vida de Custódio Mesquita, Noel Rosa, Ary Barroso e do Café Nice (casa noturna no Centro do Rio). Eu ficava boquiaberto. Dizia para mim mesmo que quando eu crescesse ia querer ser igual a ele.

Frazão ao lado de Albino Pinheiro e Sergio Cabral

ABI Online — Foi a televisão que lhe projetou para a carreira artística e de produtor musical, mas você também é muito identificado com o rádio.
Frazão — Por que as pessoas me vêem muito como um homem de rádio eu não sei. Eu comecei em televisão em 1957, levado pelo amigo Jair Pereira Duarte, que era operador da TV Tupi. No dia em que entrei pela primeira vez nos estúdios ele me disse: “Agora se vira!”

ABI Online — E qual foi a sua reação?
Frazão — Eu era ainda um garoto, mas logo me envolvi com os artistas da emissora. Foi um orgulho imenso conhecer Paulo Porto, Maurício Scherman, Orlando Drumond, Mário Tupinambá, entre outros. Com eles eu comecei fazendo pequenos papéis na televisão.

ABI Online — Você já tinha tido alguma experiência anterior no campo artístico, quando ingressou na televisão?
Frazão — Somente como amador, a partir de uma experiência que eu e outros garotos tivemos em 1955, quando lançamos um show chamado “Prata da casa”.
Era um espetáculo todo feito de improviso. O texto nós decorávamos das peças do Walter Pinto, que assistíamos no teatro Recreio, cujo elenco era formado por coristas e vedetes muito bonitas.

ABI Online — Além de você quem mais participava do espetáculo?
Frazão — Meu irmão Jair Frazão, Pascoal Perrota, que também era violinista, e o Raul Diniz, que depois foi ser locutor da Rádio Nacional. O Jorge Benjor, que nessa época era conhecido como Babulina, cantava lá também. Esse grupo que se apresentava no Minerva era muito bom.

ABI Online — Então do teatro amador você foi direto para a televisão?
Frazão — Eu era tão determinado a seguir a carreira artística que abandonei um emprego, que o meu pai me arranjou, assim que eu completei os meus estudos. Em seguida, ingressei na TV Tupi, para fazer programas humorísticos, como “Ali Babá e os 40 garçons”, “A,e,i,o…Urca” e “Rua do Ririri”. Eu participei de todos os programas humorísticos da Tupi, na época.

ABI Online — Esses programas tinham muita audiência?
Frazão — A audiência do programa “Ali Babá” era tanta que, em 1959, cantando uma marcha do Max Nunes com o J. Maia, o Mário Tupinambá ganhou um concurso de carnaval por causa da popularidade do seu personagem, que era um deputado baiano. Nessa época eu também fiz amizade com vários compositores, entre os quais Clecius Caldas, Armando Cavalcanti, Ari Barroso e Lamartine Babo.

ABI Online — A sua ida para a TV Tupi foi a realização do seu sonho de se tornar um artista?
Frazão — Sim foi o início de tudo. Fiquei orgulhoso de ter conhecido também artistas com o talento do Daniel Filho, Lourdes e Rodolfo Mayer e Ioná Magalhães. Eu sabia que um dia ia chegar a minha vez, e as oportunidades foram aparecendo. Além de fazer parte do elenco artístico, eu trabalhei também como assistente de direção e produção.

ABI Online — Você se transformou em um profissional de TV polivalente?
Frazão — Eu queria aprender tudo, tinha loucura por aquilo que eu estava vivendo e aprendendo. Chegava na Tupi às dez da manhã e só saía à meia-noite, quando o canal encerrava as suas transmissões, com uma música chamada “Acalanto”, do Dorival Caymmi.

Com Sergio Cabral

ABI Online — Quanto tempo você trabalhou na Tupi?
Frazão — Trabalhei na Tupi de 1957 a 1964, depois fui para a TV Rio levado pelo Mário Tupinambá, que era compadre do Chico Anysio e também  um grande humorista.

ABI Online — Você já tinha tido algum contato com o Chico Anysio anteriormente?
Frazão — Eu o conheci na rádio Mayrink Veiga, emissora para a qual o Mário Tupinambá produzia scripts. E foi nesse período do meu ingresso na TV Rio que começaram a acontecer coisas interessantes para minha carreira.

ABI Online — Que tipo de coisas?
Frazão — No meu primeiro dia de trabalho na TV Rio pediram-me para ir à casa do novo diretor do programa, que era o Manoel Carlos e na época estava casado com a Cidinha Campos. Ele ficou surpreso quando eu lhe disse que ia estrear naquele dia na TV Rio como assistente de direção, porque, além de achar que eu já pertencia ao quadro da emissora, ele também faria a sua estréia no mesmo canal dirigindo o programa do Chico Anysio.

ABI Online — Quais são as suas recordações da TV Rio, Canal 13, que nessa época era comandada pelo Walter Clark?
Frazão — O Walter Clark quis dar uma sacudida na programação. Mandou chamar o João Roberto Kelly, que estava na TV Excelsior, e junto com ele vieram o diretor de TV Luiz Haroldo, Mário Meira Guimarães (grande roteirista de teatro de revista), J. Rui, Antônio Maria e Sérgio Porto. Essa equipe ficou encarregada da produção do programa chamado “Praça Onze”.

ABI Online — Você citou o João Roberto Kelly. Qual foi a contribuição dele para a emissora?
Frazão — Com a chegada do Kelly ocorreram as modificações na programação da TV Rio. Ele montou aqueles musicais maravilhosos, inclusive o próprio “Praça Onze”, cuja música é uma composição dele com letra do Chico Anysio. Foi nesse programa que eu deslanchei como ator, sob a direção do Luiz Haroldo.

ABI Online — O programa era bom e a música “Praça Onze” também fez um tremendo sucesso.
Frazão — Essa composição já tinha sido apresentada ao público no teatro São Jorge, numa peça chamada “Por que me ufano de bananal”, de autoria do Jararaca e do Geisa Bôscoli, que em 1962 revelou Marina Miranda e Dilma Cunha.

ABI Online — Você assistiu ao espetáculo?
Frazão — Eu conheço essa história porque nessa época eu estava ainda na TV Tupi e participava também do “Teatrinho infantil Kibon”, que depois ganhou o nome do “Teatrinho Troll”, sob a direção do Fábio Sabag.

ABI Online — Quem eram os outros integrantes do elenco?
Frazão — Os outros integrantes do elenco eram a Norma Blum, Zilka Salaberry, Roberto di Cleto, Oscar Filipe e o Paulo Padilha. Era o que havia de melhor do teatro infantil.

Nadia Maria, Orlando Silva e Osmar Frazão

ABI Online — E o que você acha do teatro infantil?
Frazão — O teatro infantil é de uma responsabilidade incrível, porque te obriga a um grande exercício interpretativo para prender a atenção da criançada. E a gente não pode fazer coisa séria no texto infantil, assim como também não se pode ser infantil numa coisa séria. Esse foi um dos maiores empreendimentos artísticos de que eu já participei.

ABI Online — Você participou de outras produções voltadas para o público infantil?
Frazão — Depois na Tupi eu trabalhei na peça “As aventuras do inferno verde”, que tinha ao meu lado o Carlos Copa e a Norma Blum. E também atuei no programa “As aventuras do saci pererê”, na Tupi, que naquela época tinha programas infantis formidáveis teatralizados.

ABI Online — O que você acha da qualidade dos programas infantis dos anos 60, em comparação com os que são produzidos atualmente?
Frazão — Os mais antigos eram incomparavelmente superiores. Porque tinham textos que permitiam aos atores interpretarem os seus personagens com mais conteúdo. Vivíamos também um outro período, não existia a TV em cores e nem a internet para disputar a atenção das crianças.

ABI Online — Você conviveu com o Fernando Barbosa Lima e o Boni na TV Rio?
Frazão — Eu presenciei a chegada do Boni na TV Rio. Lembro que ele ficou sentado no auditório assistindo aos movimentos no palco. Depois, o Walter Clark deu a mão a ele, que se juntou com o João Roberto Kelly e se tornou um grande diretor de televisão.

ABI Online — Quem foi o responsável pelo crescimento da TV Rio?
Frazão — A TV Rio cresceu com o Walter Clark, que soube formar uma equipe importante, com nomes como Fernando Barbosa Lima, que era o maior talento da nossa televisão. Ele era bom em tudo. A vida do Fernando Barbosa Lima na televisão é um capítulo à parte, todos sabem disso.

ABI Online — Consta que na TV Rio você viveu um dilema: teve que escolher entre atuar como assistente de direção ou na função de ator.
Frazão — Depois de ter participado daquelas jornadas todas na Tupi eu fui para a TV Rio, como eu já disse, trabalhar com o Chico Anysio. Um dia o Boni se reuniu conosco e falou: “Frazão você tem que optar. Ou fica como assistente de direção, ou trabalha como ator”.

ABI Online — E qual foi a sua decisão?
Frazão — A segunda opção para mim era a melhor. O meu negócio era ser ator. Entrei para um quadro chamado “Café bola branca”, onde eu contracenei com Antônio Carlos, um comediante maravilhoso, pai da Glória Pires; Rui Cavalcante, do teatro de revista; e o Ankito, que foi um dos maiores ídolos do nosso cinema.

ABI Online — O Chico Anysio tinha muita confiança no seu trabalho?
Frazão — Ele me deu carta branca para eu conduzir a produção do seu programa. Uma vez eu fui falar com ele se podia escalar um ator. Ele olhou para mim e disse: “Olha Frazão, se eu tiver que dar opinião eu não preciso ter você coordenando o programa. Você não tem que me perguntar nada. Quem tem que escalar o elenco é você”. Para mim isso foi sensacional. Eu então levei para a TV Rio o Pituca, a Marilu Bueno e o Herval Rossano.

ABI Online — Além da televisão você atuou em teatro, e no final dos anos 60 recebeu vários elogios da crítica pela sua participação na peça “A garçonière do meu marido”, do Silveira Sampaio.
Frazão — O sucesso na TV Rio foi que me levou para o teatro. O meu personagem na peça era um garçom irreverente e cínico. E pelo meu desempenho fui apontado para ser uma das revelações de teatro em 1965. Recebi um elogio pessoal do Millôr Fernandes e da viúva do Silveira Sampaio. Ela me disse que o Luiz Delfino, que interpretara o mesmo personagem nos anos 50, não o fizera tão bem quanto eu. O que para mim valeu muito.

Osmar Frazão, Emilinha Borba e João Roberto Kelly

ABI Online — Depois disso você continuou fazendo teatro?
Frazão — Depois eu participei de outra peça do Silveira Sampaio, cujo título era “Trilogia do herói grotesco”, e recebi um grande elogio do Fausto Wolff, que era crítico teatral do jornal O Dia. Nunca mais esqueci da frase que ele escreveu em sua coluna: “Osmar Frazão nasceu para interpretar as peças de Silveira Sampaio”. Partindo de um homem que conhecia teatro como ninguém, foi uma das grandes alegrias que eu tive na vida e no teatro.

ABI Online — Você teve outras?
Frazão — A outra alegria teatral que eu tive foi com o Walter Pinto. Eu fazia um show no teatro Carlos Gomes com o Silva Filho. Quando acabou o espetáculo ele mandou me chamar e disse: “Olha menino quando você souber que eu vou montar uma peça no teatro Recreio me procura porque você tem uma vaga certa”. Acabou não acontecendo, mas são coisas que a gente não esquece.

ABI Online — Em relação aos programas humorísticos, você acha que a televisão levou vantagem sobre o rádio?
Frazão — No final dos anos 60, a produção de programas humorísticos no rádio entrou em decadência, principalmente por causa do surgimento da televisão, que quando entrou no ar levou, do elenco da Rádio Tupi e da Mayrink Veiga, os grandes humoristas e roteiristas, como Chico Anysio, Mário Tupinambá; e maestros como o Radamés Gnatalli, Guio de Morais.

ABI Online — Qual foi o programa humorístico que fazia sucesso no rádio que a televisão se apropriou?
Frazão — De início a televisão levou para o seu ambiente o programa “Balança mas não cai”, com o Max Nunes e o Paulo Gracindo, no qual se destacou muito o saudoso Brandão Filho, que inclusive mais tarde fez um tremendo sucesso na Rede Globo.

ABI Online — Você chegou a trabalhar para a Rede Globo?
Frazão — Eu cheguei a participar de oito capítulos da novela “O primeiro amor”, contracenando com Tonia Carrero e Sérgio Cardoso. Depois em “Selva de pedra”, com a Regina Duarte, interpretando um delegado cheio de banca. Mas nada disso me atraiu, porque eu me sentia muito longe de me aproximar daqueles artistas que a TV Globo estava dando atenção.

ABI Online — Por quê?
Frazão — Porque eu sentia que ia começar tudo novamente, e daqui que chegasse a ser notado ia demorar muito. E eu sou muito agitado.

ABI Online — Mesmo assim você participou do programa “Balança mais não cai”, quando este passou a ser produzido pela emissora da família Marinho.
Frazão — Eu participava de um quadro, onde eu representava um contínuo fanho de uma repartição pública, ao qual o Max Nunes deu o nome de Estefanho. E também participei da “Escolinha do professor Raimundo”. Mas não era um personagem de destaque, talvez me faltasse um pouco de talento para fazer graça perto do Chico Anysio.

ABI Online — Mas teve talento para se transformar em um dos mais respeitados pesquisadores da música popular brasileira.
Frazão — Se hoje eu sou um modesto conhecedor da música popular brasileira é porque eu queria ser igual ao Almirante e estudava muito o assunto. Eu o admirava e ficava encantado ao ouvi-lo contar histórias do folclore brasileiro, da música, da amizade dele com o Noel Rosa. Aquilo tudo para mim era um mundo maravilhoso.

ABI Online — Você chegou a fazer amizade com o Almirante?
Frazão — Em 1960, eu cantei na TV Tupi no programa “Era uma vez no carnaval”, apresentado pelo Almirante. Indicado por ele, juntamente com o Arthur Farias, eu participei desse programa acompanhado por Pixinguinha, João da Baiana, Donga, Alfredinho e Waldemar Melo.

ABI Online — Você disse que se inspirou muito no Almirante. Por quê?
Frazão — O Almirante foi um espelho para mim.
Eu freqüentava a casa dele na Tijuca, onde eu aprendi a cantar algumas músicas do início do século, que eu interpretava no programa junto com o Pixinguinha e a turma da Velha Guarda. O que eu não conhecia de música ele passou a me ensinar.

Roberto Marinho e Osmar Frazão

ABI Online — Qual é a recordação mais importante que você tem do tempo em que conviveu com o Almirante?
Frazão — Guardo uma dedicatória em um livro dele que diz o seguinte:“Ao amigo Osmar Frazão, que vem sendo um papa da música popular brasileira”. Ele acreditava que eu ia ter um grande conhecimento sobre a nossa MPB.

ABI Online — Foi esse conhecimento que o levou a ser jurado de programa de calouros na televisão?
Frazão — Eu fui convidado para ser jurado na TV Tupi do programa do Mauro Montalvão, que fora locutor esportivo. Eu ganhei essa chance porque comecei a mostrar um certo conhecimento sobre música popular.

ABI Online — Que tipo de conhecimento?
Frazão — No bar da emissora eu conversava muito com meus companheiros sobre músicas antigas, sobre a vida do cantor Orlando Silva, entre outros. Por causa disso, em 1964, o Hilton Abi-Rihan me convidou para fazer um programa de música na Rádio Continental, cujo nome era “Mil novecentos e antigamente”.

ABI Online — Além de jurado você também chegou a dirigir o programa do Montalvão.
Frazão — De jurado eu passei a ser o diretor musical do programa. O júri era formado por Aurimar Rocha, Adalgisa Colombo, Vera Gimenez, o jornalista Mister Eco, Tati Bueno (casada com Vinícius de Moraes). Ali eu comecei a me destacar, por causa das informações que eu detinha sobre as músicas, ano de gravação e seus intérpretes.

ABI Online — E como foi que você chegou ao programa do Flávio Cavalcanti?
Frazão — Eu fui indicado ao Flávio Cavalcanti pelo diretor do programa, que era o Arthur Faria, para substituir o Sérgio Bittencourt, que estava de mudança para São Paulo. No dia em que nós nos conhecemos aconteceu um fato curioso.

ABI Online — Qual foi?
Frazão — O Flávio quis me testar, pegou o livro “Panorama da música popular”, do Ary Vasconcellos, abriu a publicação, virou-se para mim e disse: “Vamos falar do Erivelto Martins”. Eu comentei que o capítulo sobre o Erivelto estava na página 115. Ele foi conferir e em seguida afirmou: “Este homem é uma enciclopédia da música brasileira”.

ABI Online — Além de você quem eram os outros jurados do programa comandado pelo Flávio Cavalcanti?
Frazão — O programa se chamava “A grande chance”. O júri era formado por mim, Humberto Reis, Erlon Chaves, Arthur Farias, Carlos Renato, José Messias, Cláudio Mascarenhas e a Cidinha Campos, que entrou no lugar da Márcia de Windsor.

ABI Online — Como foi a sua estréia?
Frazão — Por sorte minha o primeiro calouro a se apresentar cantou “Carinhoso”, do Pixinguinha, com quem eu já havia trabalhado. Quando chegou a minha vez de fazer um comentário, eu aproveitei para contar a história da música.

ABI Online — E qual foi o seu comentário?
Frazão — Eu disse ao jovem candidato a cantor que ele cantava bem, e que a música tinha sido lançada no Theatro Municipal, numa peça chamada “Parada de maravilhas”, em 1936, cantada pela atriz famosa Heloísa Helena. Lembrei também que foi gravada pelo Orlando Silva, no dia 28 de maio, de 1937. Quando eu falei também qual era o número de registro da gravação — disco Vitor, número 34.181 — ficou todo mundo espantado. A partir daí eu não parei mais.

ABI Online — Como foi que você desenvolveu essa capacidade para guardar tantos detalhes?
Frazão — Por que eu tenho facilidade para memorizar tanta informação eu não sei. O que eu posso dizer é que esta minha capacidade me ajudou muito na carreira e na relação com o Flávio Cavalcanti. Eu passei a ser tratado por ele de maneira especial. Inclusive nos programas que ele passou a fazer em São Paulo, o meu nome aparecia como produtor.

ABI Online — Então foi a partir do programa “A grande chance” que você passou a ser realmente reconhecido pelo grande público?
Frazão — Eu e Flávio ficamos bons amigos. Como eu já disse foi ele quem me lançou como “a enciclopédia da música brasileira”. A minha carreira só foi impulsionada depois que eu passei a ser jurado do programa “A grande chance”.

Osmar Frazão, Emilinha e Adelaide Chiozzo

ABI Online — Com um reconhecimento bem maior do que anteriormente no teatro.
Frazão — O curioso é que depois de tantos anos eu fiquei conhecido como uma personalidade da música e não do teatro, que foi a minha porta de entrada para o meio artístico.

ABI Online — Amigos seus contam que as pessoas chegavam a te parar na rua para testar os seus conhecimentos. É verdade?
Frazão — Teve uma vez que aconteceu uma história engraçada. Eu participava de uma roda de conversa, quando um dos presentes começou a falar sobre uma determinada música. Só que o que ele dizia estava errado. Eu então lhe chamei a atenção. Ele não gostou e reclamou: “Não me venha com essa. Vai querer dar uma de Osmar Frazão pra cima de mim?”. Todos riram quando eu me dirigi a ele e disse: “Você está falando com o próprio”.

ABI Online — Você acha que no seu caso pesou o poder da televisão?
Frazão — Eu não tenho a menor dúvida, pois a televisão é um veículo fabuloso. Hoje está um pouco diferente porque o rádio aumentou a sua audiência. Não estamos mais nos anos 70, quando o rádio se retraiu por causa da ditadura militar. Atualmente ele tomou outro rumo. Hoje em dia, muita gente importante no rádio, como o Antonio Carlos, teve uma passagem pela TV.

ABI Online — Você teve também uma coluna sobre música na Tribuna da Imprensa.
Frazão — Eu tinha uma página inteira na Tribuna, chamada “Histórias da música popular brasileira”. Mas não durou muito, porque eu comecei a me envolver com outras coisas, a produzir shows. Nessa época, cheguei a dirigir um espetáculo para a Leny Everson e outro com os vencedores de “A grande chance”. Com isso, me faltava tempo para escrever a coluna.

ABI Online — Como foi voltar à Rádio Nacional depois de tantos anos?
Frazão — Na Rádio Nacional eu produzi os programas “Naquele tempo”, “Parada de todos os carnavais” e “Parada de todos os tempos”, no qual eu contava histórias da MPB e da cidade do Rio de Janeiro. A idéia foi do Cristiano Menezes. Inclusive eu vou lançar um livro intitulado “Histórias do Frazão”. Ele e o Aldir Blanc foram convidados para escrever o prefácio.

ABI Online — Esse vai ser o seu segundo livro?
Frazão — No tempo em que eu trabalhava na Riotur eu escrevi um livro, cujo título é “Cem anos de Copacabana”, em parceria com a Lindita. Coube a mim, falar sobre a parte carnavalesca do bairro, que era contagiante já desde o início do século passado. Os bailes do Copacabana Palace e outros que eram realizados nas residências, conhecidos como Puf. Foi um período gracioso de Copacabana, mas também de toda cidade do Rio de Janeiro.

ABI Online — Da televisão você foi para o rádio com o qual atualmente você também está na internet. Como você está lidando com esta experiência?
Frazão — Quem me levou para a internet foi o jornalista Dagoberto Souto Maior. Um dia ele me telefonou, se apresentando como meu admirador e falando nesse projeto. A idéia dele era que eu contasse as histórias em livro. O livro já está com quase 150 páginas com histórias deliciosas, que eu não gostaria de destacar agora, mas garanto que quando o livro sair todos vão gostar. E foi o Dagoberto quem me trouxe esta luz.

ABI Online — Algumas destas histórias você vem contando no blog “Diário do Frazão” (http://www.historiasdoosmarfrazao.com.br)
Frazão — No blog, eu faço crônicas sobre música popular brasileira, que são ilustradas com o meu acervo de mais de 500 fotos autografadas de artistas de rádio. Isso facilita o entendimento do internauta, que já ouviu falar, por exemplo, de Oduvaldo Cozzi, o homem que batizou Orlando Silva de o cantor das multidões, mas nunca viu uma imagem dele. Eu comecei em janeiro do ano passado, um ano depois a minha página já atingiu cerca de seis mil visitas.

ABI Online — E ainda lhe sobra tempo para produzir programas de rádio?
Fazão — Eu faço três programas radiofônicos, todos na Rádio Nacional. Um deles é o “Histórias do Frazão”, que nas manhãs de domingo, das 9h às 11h, é o programa de o de maior audiência na emissora. Na mesma Nacional eu participo do programa “Alô Rio” (2ª a 6ª, de 9h às 9h30), com o Hilton Abi-Rihan, onde eu conto 22 histórias por mês. E tem também o “Sintonia total”.