“É preciso mudar o nosso sistema transportador”


17/07/2013


 

“É preciso mudar o nosso sistema transportador

Reflexões suscitadas pela proposta de implantação do trem-bala

Por Bernardino Capell Ferreira 

Extraindo-se da visão política e econômica em torno do trem-bala o interesse da sociedade que tanto aplaude como discorda da sua implantação, aproveito o encontro que tive ontem, dia 6 de julho, em um almoço na residência de um amigo, ex alto-funcionário da Rede Ferroviária Federal, empresa extinta por ato impensado do Governo quando da Presidência de Fernando Henrique Cardoso. Estavam presentes inúmeros funcionários da Refesa, entre os quais engenheiros, administradores, técnicos de várias procedências e funcionários das então Regionais de todo o Brasil.

Abro aqui um parêntese para citar o movimento jovem que vem sendo feito em todo o País, na busca de algo que possa traduzir, verdadeiramente, que o descontentamento popular tem que ser acatado pelo Governo, antes que ações populares, até então traduzidas, em sua maioria, como pacíficas, se agravem ante o silêncio governamental. Afinal, o que quer o povo como básicas necessidades se reflete na aplicação de recursos que se destinem à saúde, à educação, à segurança pública com eficiência garantida, isso em primeiro plano, afora outros bens relacionados com fatores ligados à aplicação da justiça, quando da prática de crimes previstos em lei. Os jovens das ruas estão capacitados a discorrer sobre o assunto.

Apresentados estes intróitos, voltemos os nossos olhos para o caso Rede Ferroviária Federal S.A.

Ao considerar a extinção dessa empresa, sem que, para tanto, fossem analisados profundamente os futuros efeitos dessa criminosa negligência, deparamos hoje com uma série de dificuldades em nosso sistema transportador, com reflexos contrários às nossas finanças e economia.

Existe um grave problema denominado evolução, o qual se acha ligado a uma série de fatores concernentes à boa administração, em razão de novas tendências culturais e tecnológicas que vão surgindo cada vez mais, obrigando os órgãos de planejamento e execução que surgem a cada instante a uma constante revisão de dados, o que não se observa constantemente.

E nesses projetos que surgem a cada instante estão implícitas operações comerciais e industriais, nos quais a sociedade procura encontrar razão para sua evolução financeira. E nessas atividades incluem-se a necessidade da existência de um sistema transportador dos bens produzidos, enviados da forma mais conveniente para o comércio consumidor dos mesmos.

No Brasil, esse colosso de país com área total de 8.515.767,49 quilômetros quadrados, observa-se uma deficiência total do sistema transportador, quer rodoviário, como marítimo e pluvial, sendo o ferroviário, este último, a razão da nossa matéria principal.

Pertencendo, como fui, aos quadros da Rede Ferroviária Federal, como contratado “técnico coordenador do transporte dos derivados de petróleo” por ferrovia, tivemos oportunidade de efetuar, ao que nos parece, um bom serviço, amplamente absorvido por todas as Administrações Regionais existentes na época, em todo o Brasil, estrutura essa que havia sido montada pela Rede em razão de recomendação expressa da Presidência da República à Refesa, razão pela qual, estando eu servindo ao Conselho Nacional de Petróleo, tão logo aposentado, fui absorvido pela Rede Ferroviária para ali exercer os cargos já acima explícitos, no que se refere à implantação do sistema ferroviário de petróleo e derivados naquela empresa.

E como prova evidente dessa evolução transportadora que surgia, podemos afiançar, como já havíamos feito em várias oportunidades que surgiram, que, a começar pela Petrobrás Distribuidora, Esso, Shell, Atlantic, Texaco, etc., todas, sem exceções, procuraram colocar-se dispostas, como o fizeram, a ajudar o surgimento de uma distribuição de derivados por via férrea em todo o País (áreas servidas por ferrovia). Em algumas delas foi necessário o emprego de muitos valores aplicados por essas distribuidoras na feitura de armazenamentos, desvios ferroviários, equipamentos de alto custo, etc., o que foi perfeitamente disseminado pela própria Rede Ferroviária e pelo Conselho Nacional de Petróleo.

Daí nos fica a razão de dizermos que vale a pena ouvir e ovacionar essa mocidade estudantil que saiu e continua a sair pelas nossas ruas em todo o País, para não só dizer o que pensa, como o que deve ser feito pelas autoridades que se dizem constituídas.

Vamos ouvi-los, fazendo coro às suas expressões incontidas, prestigiando-os pelas demonstrações de força que lhes move o patriotismo sem ranço ou inclusões de outros interesses tão nossos conhecidos.

Que possamos aproveitar este sangue novo que surge para levarmos avante, nesta oportunidade, não só a idéia como a realidade nas modificações constitucionais que devem ser efetuadas em benefício da sociedade brasileira, sem que necessário seja quaisquer novas idéias políticas surgidas entre goles de oportunismo ao som de fanfarras pré-concebidas.

Quanto ao plebiscito, artimanha já desmistificada, os últimos informes que temos é que a proposta da Presidente Dilma foi recusada pelos parlamentares em primeira discussão, o que parece estar levando-a a contracenar com o Congresso por outras formas, a fim de que não perca a oportunidade de aplicar reformas que possam facilitar seus desígnios de continuidade no cargo presidencial, em razão da referida proposta e de possível referendo popular.”

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Bernardino Capell, sócio da ABI, é jornalista, economista e membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil.