Depoimentos de quem conheceu a História


14/10/2006


Dom Paulo Evaristo Arns, Cardeal-arcebispo emérito de São Paulo

“Fiquei impressionado quando fui convidado para fazer parte da ABI. Eu era jovem, tinha acabado de fazer Doutorado na Sorbonne e havia lançado um livro sobre Comunicação. Visitei várias vezes a sede da instituição como colaborador e, principalmente durante a ditadura militar, constatei sua postura a favor da imprensa e da democracia. Valeu a pena apoiar a Associação em todos os aspectos circunstanciais.” 

 

João Marcos Carvalho, jornalista e historiador

“Feliz é a categoria que pode contar com uma entidade cujo histórico de lutas se confunde com a própria história das liberdades democráticas. Nesses 97 anos, não há um único episódio importante envolvendo os altos interesses nacionais ou a defesa de jornalistas ou jornais de que a ABI não tenha participado com ardor e coragem.

De Gustavo Lacerda a Maurício Azêdo, foram escritas páginas marcadas pelo devotamento às causas justas, numa seqüência de episódios memoráveis que estão marcados para sempre na memória de nossa gente.

Em uma república pontilhada por ditaduras, golpes, contragolpes e quarteladas, onde a truculência, a censura, o empastelamento, a arbitrariedade, o exílio e o assassinato de opositores se transformaram em política de estado, a ABI tem sido a grande trincheira a abrigar os combatentes pela liberdade. E esta trincheira deve continuar ativa e resistindo enquanto houver ameaças aos direitos humanos, à soberania, à autodeterminação, às nossas riquezas naturais, à manifestação do pensamento, à liberdade de imprensa e aos direitos constitucionais.

Tenho orgulho de fazer parte de uma instituição que tem honrado a sociedade brasileira através de seu engajamento nas lutas libertárias e cuja contribuição para a manutenção do regime democrático não pode ser questionada. É gratificante saber que, a caminho do primeiro centenário, nossa velha ABI está plenamente consolidada como um dos mais significativos baluartes de defesa da cidadania. Um inquestionável patrimônio moral do povo.” 

Ari Gomes, repórter-fotográfico

“Neste dia em que a ABI comemora 97 anos, devemos nos lembrar de suas grandes lutas pelo nosso País e fazer uma reverência especial, não só à instituição como a todos os grandes jornalistas que por ela passaram. O Brasil inteiro sabe da importância da ABI na luta contra a ditadura, defendendo a liberdade de imprensa mesmo sofrendo atentados e dificuldades financeiras, entre outros problemas. Manter a ABI viva durante todos esses anos é uma vitória da qual todos nós nos orgulhamos. Palco de grandes eventos de nossa imprensa, como a entrevista de Fidel Castro, o discurso de Robert Kennedy e a visita de vários presidentes do Brasil, o prédio da Associação também é um marco no Rio de Janeiro.”


 

Fernando Barbosa Lima, jornalista

“Nesses 97 anos, a ABI, através de todos os seus presidentes e associados, sempre defendeu — mesmo nos momentos mais difíceis — a liberdade de imprensa. Nenhuma nação convive com a dignidade quando não existe liberdade total de pensamento. A luta pela liberdade tem sido uma função notável da ABI.” 
 

Murilo Mello Filho, jornalista

“Há quase um século, em 1908, Gustavo Lacerda e um grupo de colegas fundaram a Associação Brasileira de Imprensa para congregar os jornalistas, dar-lhes assistência e defender os seus direitos. De então para cá, ao longo de todos as suas presidências (entre outras, de Herbert Moses, Barbosa Lima Sobrinho, Prudente de Moraes, neto, Danton Jobim e Fernando Segismundo), a ABI tem sido um modelo de instituição, corajosa, digna, coerente e respeitável. Seu amor à democracia foi suficiente para que ela, em nenhum momento, ensarilhasse as armas no combate aos regimes de força, como aconteceu na luta contra o golpe militar de 31 de março, pela qual pagou ao preço altíssimo das bombas que explodiram e danificaram suas instalações. Mesmo quando as condições nacionais eram as mais adversas, ela nunca silenciou a sua voz de protesto, que aí está gravada para sempre, na gratidão e no reconhecimento dos brasileiros.”  

José Antônio do Nascimento Brito, Presidente do Conselho Editorial do Jornal do Brasil 

O Jornal do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa têm uma forte ligação histórica. A ABI é uma instituição quase centenária que, juntamente com o JB, próximo dos seus 114 anos, tem sido intransigente defensora da liberdade de expressão no Brasil. Porém, como o JB, o papel da ABI transcende, em muito, o meio jornalístico. Ela é, ao longo do último século, uma das instituições fundamentais em defesa do progresso e das grandes causas sociais no País.” 

Audálio Dantas, jornalista

“A sigla ABI e a palavra liberdade sempre estiveram associadas. A defesa da liberdade de informação marcou a história da entidade, e não apenas no sentido retórico, das sempre esperadas notas de protesto, mas na ação, na presença de líderes como Prudente de Moraes, neto e Barbosa Lima Sobrinho, sempre que órgãos de imprensa ou jornalistas foram ameaçados. 

Essa ação e essa presença foram marcantes no episódio do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, sob tortura, em outubro de 1975, numa dependência do Exército, em São Paulo. Então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, sou testemunha do empenho da ABI, da qual recebemos as primeiras palavras de solidariedade e, logo, os reclamos que se juntaram aos nossos de esclarecimento do crime.

Como o Sindicato, a ABI pedia ao comando do Exército em São Paulo a urgente instauração de inquérito para apurar as circunstâncias da morte do jornalista. O sindicato receberia, em seguida, a visita de Prudente de Moraes, neto, fato que contribuiu, sem dúvida, para o fortalecimento da organização dos jornalistas para a denúncia não apenas do assassinato de Herzog, mas de situação de terror que se vivia em São Paulo naqueles dias.É importante registrar aqui, finalmente, que a presença da ABI não se deu apenas no episódio Herzog. Desde que se iniciou a escalada da repressão, com as prisões de jornalistas, recebemos a solidariedade da entidade, que se anifestava, como já disse, não apenas por meio de notas de protesto, mas com a presença de diretores.”