Corpo de Stuart Angel pode ter sido enterrado na Base Aérea de Santa Cruz


Por Cláudia Souza*

10/06/2014


A apresentação da CNV sobre o caso Stuart Angel foi coordenada pelo secretário-executivo da CNV, André Saboia, à esquerda Foto: Marcelo Oliveira / ASCOM - CNV

Apresentação da CNV sobre o caso Stuart Angel  (Foto: Marcelo Oliveira / ASCOM – CNV)

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) realizou nesta segunda-feira, dia 9, uma audiência pública no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, onde foi apresentado um relatoria preliminar sobre o assassinato do estudante de economia e professor Stuart Edgar Angel, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), preso torturado e morto em maio de 1971.

De acordo com o documento divulgado pela CNV, o corpo de Stuart Angel pode ter sido ter sido enterrado na Base Aérea de Santa Cruz. Dossiês das Forças Armadas dão conta de que a morte ocorreu em uma prisão clandestina na Base Aérea do Galeão, praticada por agentes do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), que buscavam informações sobre Carlos Lamarca. Não há versão oficial sobre o paradeiro do corpo de Stuart Angel.

A Base Aérea de Santa Cruz como o possível local do enterro de Stuart Angel foi apontado no depoimento do capitão reformado da Aeronáutica Álvaro Moreira de Oliveira Filho, que ouviu a história do colega José do Nascimento Cabral, já morto, que era controlador de voo e servia em Santa Cruz.

De acordo com Álvaro Moreira, Cabral relatou ter visto da Torre de Controle uma movimentação noturna incomum, com a interdição da pista de pouso a pedido do brigadeiro João Paulo Moreira Burnier, comandante da base na época, e um corpo sendo enterrado na cabeceira. Os militares que serviam no local disseram que se tratava de Stuart Angel.

O secretário executivo da CNV, André Sabóia, disse que a comissão pretende fazer investigações in loco, mas seria importante a colaboração da Aeronáutica para encontrar o corpo.

— Tecnicamente é possível, mas nós precisamos da colaboração intensa da Aeronáutica para ter informações mais precisas sobre esse fato, porque há comandantes da Base Aérea do Galeão e da de Santa Cruz, à época vivos. Nós temos esses nomes, a Aeronáutica nos informou. Essas pessoas, além de outros militares e civis que serviram nesses locais, poderão dar informações mais precisas para essas buscas, utilizando as tecnologias mais modernas de radar de solo, entre outras técnicas.

A CNV informou que pretende fazer um pedido formal de informações técnicas sobre o caso. O coordenador da comissão, Pedro Dallari ressaltou que a versão oficial afirma que Stuart é considerado desaparecido, mas dois documentos das Forças Armadas confirmam a morte do estudante.

— Temos comprovação de que Stuart foi morto. Em um documento de 14 de setembro de 1971 e outro de 1975 ele é dado como morto. Informes das Forças Armadas dão conta de que a morte ocorreu na Base Aérea do Galeão. As informações anteriores falavam que o corpo teria sido jogado no mar ou enterrado em um cemitério clandestino, agora temos essa informação de Santa Cruz. Nós vemos que o padrão de ocultação de cadáver se mantém, como no caso de Rubens Paiva, que teria sido levado para o Alto da Boa Vista. Os corpos são levados para locais ermos.

Verdade

Presente na audiência, a jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart, considerou a informação um alento, depois de tantos anos de busca pela verdade.

— Enfim tenho uma informação que me parece objetiva a respeito do paradeiro dos restos mortais do meu irmão. Espero que o ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim, e o comandante da Aeronáutica tenham o mesmo espírito colaborativo, porque um país sem história não é um país digno, não é uma pátria. A dignidade só vem através da verdade. Temos que dar aos nossos heróis, aos nossos mártires, a honra da sua verdadeira história.

A mãe de Stuart, a estilista Zuzu Angel, morreu em um acidente de carro em abril de 1976, depois de fazer uma campanha internacional para encontrar o filho desaparecido. A denúncia causou constrangimento ao governo brasileiro, à época. Em 1998, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos reconheceu que a morte dela foi um atentado político.

A viúva de Stuart, Sonia Maria Lopes de Moraes, seguiu para o exílio na França em 1970, após ser presa e perseguida por atuar no movimento estudantil. Voltou ao Brasil após a prisão de Stuart e se mudou para o Chile, retornando ao Brasil em 1973, quando foi presa com o companheiro de organização Antonio Bicalo Lana em São Vicente, litoral de São Paulo. Os dois foram torturados, mortos e enterrados no Cemitério de Perus, em São Paulo, ela com nome falso.

*Com informações da Comissão Nacional da Verdade(CNV)