Conselho homenageia Fernando Barbosa Lima


30/09/2008


nbsp;       Fernando Lima Sobrinho

Em sessão realizada na tarde desta terça-feira, dia 30, o Conselho Deliberativo da ABI prestou homenagem póstuma ao seu Presidente, Fernando Barbosa Lima, e ao jornalista Antonio Roberto Salgado Cunha, o Cunhão, sócio e grande colaborador da Casa. A reunião contou com a participação do Presidente da ABI, Maurício Azêdo, e de seus Conselheiros.

Convidados a se manifestarem sobre Fernando Barbosa Lima, os Conselheiros Villas-Bôas Correa e Tarcísio Holanda recordaram os bons momentos em que tiveram a oportunidade de trabalhar com o homenageado, por eles lembrado como uma das figuras mais criativas e empreendedoras da mídia, principalmente da TV.

Villas-Bôas falou sobre o livro de memórias de Fernando, “Nossas câmeras são seus olhos”, que teve a honra de prefaciar, e dos programas jornalísticos criados pelo colega, que conheceu na casa do pai, Barbosa Lima Sobrinho, onde ia freqüentemente para trocar idéias. Segundo Villas-Bôas, a relação entre os dois se estreitou com um convite especial:
— Considero o Fernando Barbosa Lima uma das mais lúcidas inteligências com quem já trabalhei, inteligência que foi cultivada para exercitar-se naquilo que ele mais gostaria de fazer. O Fernando foi basicamente um homem de televisão. Na verdade, tudo começou quando o Tarcísio, em nome do Fernando, foi me convidar para participar do “Jornal de vanguarda”, que foi o jornal mais revolucionário e inteligente que até hoje já apareceu na TV brasileira.
BR>Segundo Villas-Bôas, o jornalístico, exibido pela antiga Excelsior, foi o primeiro a observar algo até então inédito na TV do Brasil:
— Estava tão evidente que ninguém enxergava: se jornal é para dar notícia, quem dá notícia é o repórter e o locutor apresenta o repórter ou lê aquelas notícias das quais ele não pode ter conhecimento direto. Então, a primeira grande revolução do Fernando na TV foi aproveitar os locutores, entre os quais Cid Moreira e Fernando Garcia, a mais assombrosa memória de televisão que eu conheci.

Em seu depoimento, Villas-Bôas fez questão ainda de ressaltar o dinamismo de Fernando Barbosa Lima, que, “com muita simplicidade, deu uma grande contribuição ao jornalismo”:
— Ele criou mais de cem programas de televisão, quase todos de muito sucesso. Foi um grande amigo que eu reencontrei um pouco antes de ele morrer. E fui surpreendido com a morte dele, de que tomei conhecimento pelos jornais, no dia seguinte. Prestei minha homenagem a ele em um artigo no Jornal do Brasil, e aproveito essa oportunidade para renovar esse depoimento de pura emoção, de pura saudade.

Dinamismo

Tarcísio Holanda contou que conheceu Fernando Barbosa Lima em 1963, na Excelsior, cuja sede ficava na Avenida Venezuela, no Centro do Rio. O canal, que surgiu com novas propostas, tinha Direção Artística de Miguel Gustavo e grandes nomes, como César Ladeira e Edson Silva, que faziam muito sucesso no rádio:
— O Fernando era aquele desenhista brilhante, redator de textos bonitos e curtos, juntamente com o Borjalo, que talvez tenha sido o maior chargista brasileiro, embora com uma visão muito triste da vida. O Borjalo servia aos propósitos do Fernando Barbosa Lima, que era um grande criador em matéria de televisão.

Tarcísio lembrou também o programa “Preto no branco”, na antiga TV Rio, acrescentando que algumas das melhores atrações daquela emissora, nas décadas de 50 e 60, foram produzidos por Fernando:
— Eram programas jornalísticos muito vivos, entre os quais “Encontro com a imprensa”, que era superdinâmico. O Fernando era isso, um belíssimo criador de programas excelentes, tanto para o rádio quanto para a televisão. Era ainda um homem de esquerda que não convivia com pessoas de extrema-direita. Ele tinha uma visão humanística do mundo. Era capaz de descobrir em cada pessoa a capacidade de desempenhar o papel que ele queria. A morte dele me chocou. Eu pensei que ele ia viver cem anos, como o pai dele viveu.

Convidado pela mesa diretora do Conselho para prestar sua homenagem a Fernando Barbosa Lima , o jornalista Arnaldo César Ricci Jacob disse que, além de dar seu depoimento pessoal, falava na qualidade de representante dos 1,2 mil amigos que Fernando deixou nas TVs Educativas do Rio e de São Luís do Maranhão e nas rádios MEC do Rio e de Brasília:
— O Roberto D’Ávilla conta uma história, no livro de memórias do Fernando, que perguntou ao Marcello Mastroianni como era trabalhar com Fellini e Visconti. Ao que Mastroianni respondeu: “Olha, o Fellini trabalha com a gente como nosso amigo e o Visconti, como um grande professor.” Acho que as três passagens que o Fernando Barbosa Lima teve pela TV Educativa do Rio deixou essa sensação, de ter sido um grande amigo e um grande professor das pessoas que trabalham lá.

Jovialidade

Arnaldo César destacou ainda a criação do “Sem censura”, no fim dos anos 70:
— Estávamos em plena censura neste País e o programa está no ar até hoje. É por isso que eu faço questão de registrar o reconhecimento das centenas de amigos que ele deixou na Educativa, que hoje se chama TV Brasil.

Rodolfo Konder pediu a palavra e citou um verso de um poema de Jorge Luis Borges, “A posse do ontem”, que diz: “Somente aquilo que morreu é nosso, só é nosso de fato aquilo que perdemos, meu pai morreu e está sempre ao meu lado.”
— Acho que esse poema — disse Konder — e os depoimentos dados aqui mostram claramente que o Fernando morreu, mas está e estará sempre ao nosso lado.

O Presidente Maurício Azêdo saudou a presença dos Conselheiros Villas-Bôas Correa e Arnaldo César Jacob na reunião e falou que sentia muito a morte de Fernando Barbosa Lima, uma pessoa que até os últimos momentos em vida, apesar da idade (74), tinha uma grande capacidade de criação e a vitalidade de um jovem:
— Foi um choque o passamento do Fernando Barbosa Lima, embora ele já tivesse ultrapassado a casa dos 70 anos, como muitos de nós, eu pessoalmente. O Fernando guardava uma vitalidade e uma capacidade de criação típica de um jovem de 30 ou 40 anos.

Maurício Azêdo destacou os projetos em que o colega estava envolvido, como a produção de videodocumentários que abordam aspectos contemporâneos da vida política brasileira, um deles em homenagem ao também Conselheiro Sérgio Cabral, lançado em 18 de agosto, num ato que lotou ABI e que infelizmente não pôde contar com a presença de seu realizador, que já se encontrava muito doente:
— O Fernando foi um grande realizador de audiovisuais e programas jornalísticos da televisão, como já foi mencionado aqui anteriormente. Era uma criatura suave e, como o Arnaldo César mencionou em relação ao Visconti, era também um professor, mas despojado de qualquer idéia de apresentar uma superioridade sobre os seus companheiros, interlocutores e colegas de trabalho.

Segundo Maurício, Fernando era um homem sábio, “mas não ostentava a sua saberia de forma que pudesse representar uma diminuição da auto-estima dos companheiros com os quais convivia”. O Presidente da ABI destacou também que, nos dois últimos anos, o jornalista teve uma atuação destacada como Presidente da Mesa do Conselho Deliberativo da Casa, ao lado de Lênin Novaes e Zilmar Borges Basílio:
— Desde os primeiros momentos ele revelou uma preocupação de dar ao nosso Conselho uma relevância que fugisse das preocupações miúdas da administração rotineira da Casa e nos proporcionasse o acesso e a possibilidade de discussão de questões da maior importância para a Associação, para a comunidade jornalística e para o País.

 Fausto Wolff

Ao fim da reunião, os Conselheiros Francisco de Paula Freitas e Mário Augusto Jakobskind e o Diretor de Cultura e Lazer da ABI, Jesus Chediak, também se pronunciaram em homenagem a Fernando Barbosa Lima, lembrando suas realizações e os projetos que gostaria de executar na Casa do Jornalista, como a TV ABI. O Conselho Deliberativo se manifestou também para homenagear dois outros saudosos jornalistas: Antonio Roberto Salgado da Cunha e Fausto Wolff.