Carlos Galhardo homenageado na ABI


06/08/2010


O Auditório Oscar Guanabarino, localizado no 9º andar do edifício-sede da ABI, foi palco para a homenagem aos 25 anos de morte do cantor Carlos Galhardo. O evento foi organizado por Norma Hauer, autora do livro Carlos Galhardo — uma voz que é um poema(1988), e grande pesquisadora da música popular brasileira.
 
—Galhardo partiu em 25 de julho de 1985, há 25 anos. Estamos aqui hoje para reverenciar sua memória relembrando um pouco de seu imenso repertório, constituído de valsas, canções e todos os ritmos que fazem parte de nosso cancioneiro, disse Norma na abertura.

Foram convidados para a homenagem os cantores Jairo Aguiar, Therezinha Senna, Léo Vaz, Milton Dantas, Oswaldo Souza, Sílvio Roberto, Célia de Souza, Edson Grey, Vera Lúcia, Castiliano e D’Lourdes. No repertório, dezenas de canções, entre as quais, “Eu sonhei que tu estavas tão linda”, de José Maria de Abreu e Francisco Matoso; “Maringá”, de Joubert de Carvalho; “Bodas de Prata”, de Roberto Martins e Mário Rossi, e “Fascinação”, de Marchetti e Armando Louzada.
—Na primeira gravação de “Fascinação” a letra é de Armando Louzada. Anos depois, Nat King Cole gravou uma outra letra, explicou Norma.

O jornalista e sócio da ABI, Carlos Rocha, Diretor-responsável do jornal Correio Comunitário, prestigiou o show ao lado de dezenas de fãs de Carlos Galhardo.
—Fiquei feliz quando Norma me convidou para ajudá-la na apresentação desta homenagem ao Carlos Galhardo. Ele é um dos grandes nomes da música, assim como Cartola. Atualmente estou escrevendo o livro “Mestre Cartola — o canto sem idade”, juntamente com a jornalista Maria Luíza Cabedo de Melo.
O evento teve início com a exibição do programa “Memórias”, veiculado na década de 1970, na TV Educativa, dedicado a Carlos Galhardo, que foi entrevistado por personalidades da música, como Lúcio Alves, Luis Cláudio, Nássara e Mister Eco.
 
—Sua voz está nos discos que ele gravou, mas a sua memória está na lembrança de todos que o admiram. E é esta lembrança que queremos trazer aos que aqui se encontram, ressaltou Norma.
 
Conhecido como o Rei da Valsa, Carlos Galhardo foi um dos principais cantores da Era do Rádio, ao lado de Francisco Alves, Orlando Silva, Vicente Celestino e Sílvio Caldas. 

—Ele foi intitulado o Rei da Valsa pelo apresentador de TV Blota Júnior, mas a sua primeira gravação foram os frevos “Você não gosta de mim”, e o “Teu cabelo não nega”, dos Irmãos Valença, em 1933. Ao longo da carreira ele cantou muitos frevos e sambas. 

O primeiro grande sucesso da trajetória de Carlos Galhardo foi “Boas Festas”, gravada em 1933. Um ano depois, o cantor conquistou o primeiro sucesso com a música de carnaval “Carolina”. Em 1935, estreou como cantor romântico com a valsa “Cortina de veludo”, de Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago. A primeira valsa de sucesso de Carlos Galhardo foi “Apenas tu”, de Roberto Martina, gravada em 1936. A valsa carnavalesca “Nós queremos uma valsa” também ficou muito famosa, assim como a música de carnaval “Alalaô”, de Nássara.

O interesse de Norma pela vida e obra de Carlos Galhardo começou ainda na juventude:
—Eu gostava muito de ouvir música, mas nunca ligava o nome ao cantor. Porém, em 1939, “O último beijo”, gravada por Carlos Galhardo chamou a minha atenção. Além de escrever a biografia, lançada aqui na ABI, promovi três eventos em homenagens a ele, também aqui na Associação, onde pretendo futuramente fazer uma celebração ao compositor Orestes Barbosa, autor da famosa “Chão de estrelas”. 

Para Norma, o grande legado do artista foi a dedicação ao cancioneiro nacional:
—Ele fez muito pela música brasileira, especialmente entre os anos 1930 e 1960, no rádio e também na TV, onde além de cantar, foi apresentador de um programa só dele na Continental. Contudo, a TV acabou com os artistas do rádio. Nesta fase, Carlos Galhardo passou a fazer shows por todo o Brasil, principalmente no interior, e também Portugal, em 1952. Passou a vida cantando. Morreu no dia 25 de julho de 1985, e tinha na agenda uma apresentação marcada para o dia 27, na Funarte. Morreu cantando.

A biógrafa sublinha ainda a contribuição de Galhardo para a defesa da classe:
—Ele lutou pelos direitos dos artistas. Naquela época, apenas os compositores tinham alguma garantia. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Administração e Proteção de Direitos Intelectuais(Socinpro), em 1962, cujo objetivo é administrar e proteger obras artísticas de músicos, intérpretes, compositores, autores, editores e produtores. A partir daí, o artista passou a receber o direito pela execução, antes era só na venda. Com o trabalho nesta entidade, Galhardo acabou se afastando um pouco da música. Por tudo o que representou permanecerá na lembrança de todos nós que podemos ouvi-lo através dos discos que ainda estão aí.