Aumentam riscos para jornalistas na América Latina


03/05/2017


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O comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein (Foto: Reprodução)

Assassinatos e ataques a jornalistas e ativistas de direitos humanos vêm aumentando na América Latina, desenhando um panorama sombrio na região, segundo dados das Organização das Nações Unidas (ONU), publicados no início desta semana. Hoje, dia 3 de maio, quando se comemora o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, criado pela ONU, a Associação Brasileira de Imprensa lamenta essa triste realidade dos jornalistas e comunicadores.

Em entrevista coletiva, segundo a EFE, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, falou claramente dos casos de México, Brasil, Colômbia, Venezuela e Honduras.

Do Brasil, Zeid denunciou o aumento dos ataques contra ativistas vinculados à luta pela terra e seus recursos, particularmente nos estados do Pará e do Mato Grosso. “O governo deve fazer mais para lutar contra a impunidade que parece existir de crimes violentos contra os que defendem os direitos humanos”, afirmou.

Sobre o caso da Venezuela, Zeid enfatizou que o caminho escolhido pelo governo – o de “reprimir as vozes dissidentes” -, não resolverá a agitação que reina há um mês nas ruas.

Sobre o México, o alto comissário disse que os assassinatos de jornalistas e defensores dos direitos humanos continuam acontecendo e que “somente 6% dos homicídios são solucionados, o que evidencia uma brecha de impunidade enorme que deve ser resolvida.

Segue o artigo do jornalista Vilson Antonio Romero sobre Liberdade de Imprensa publicado nesta quarta-feira, 3, no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre:

#imprensalivre

Vilson Antonio Romero (*)

Entre 180 países, o Brasil está na 103ª posição no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) que registrou, nos últimos cinco anos, 21 assassinatos de jornalistas, configurando o Brasil como o segundo país mais mortífero para a profissão na América Latina, atrás apenas do México, onde, no ano passado, houve 10 mortes criminosas de jornalistas.

Estas ocorrências revoltantes servem de reflexão neste 3 de maio, Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, criado em 1993 pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), alertando para a impunidade nos crimes e ataques contra jornalistas e para a obediência aos fundamentos da liberdade de expressão.

Fundamentos estes do artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e de expressão, este direito inclui a liberdade de ter opiniões sem interferência e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Além de permanecer numa situação considerada grave, o Brasil não sinaliza, através de medidas institucionais ou governamentais, com nenhuma providência que minimize as agruras enfrentadas na busca da boa e imparcial informação.
Os profissionais que investigam temas sensíveis, nas latrinas da má política ou nas profundezas do crime organizado, logo viram alvos, são perseguidos, constrangidos, ameaçados ou assassinados.

No Congresso, não anda o projeto que federaliza os crimes contra jornalistas nem se consolida a proposta do Conselho de Comunicação Social (CCS) de um Observatório da Violência contra Comunicadores, vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.

Enquanto isto, padecem a comunicação social e seus profissionais que seguem vulneráveis, num ambiente sabidamente hostil e violento. Urge, além de consolidarmos nossa democracia, também solidificar este pilar fundamental da cidadania: a liberdade de imprensa.
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(*) jornalista, diretor de Direitos Sociais e Imprensa Livre da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)