Atletas nas coberturas


30/03/2006


Outro ponto polêmico no jornalismo esportivo é a participação de atletas nas coberturas. Mariana Becker analisa o surgimento de atletas como comentaristas ou ainda como “repórteres especiais”, especialmente em eventos internacionais:
— O atleta tem informações valiosas de quem foi criado no meio, mas é preciso mais do que isso. É preciso treinar a escrita, a maneira de se expressar, o olhar. O jornalista sabe que tem certas obrigações morais e técnicas na feitura de uma reportagem. Já o atleta funciona bem como comentarista, colunista, e muitos são brilhantes, como o Sócrates.

Glenda:bungee jump

Glenda Kozlowski, no entanto, acredita que alguns atletas podem desempenhar um bom papel como jornalistas:
— Até porque os atletas entendem mesmo do esporte, sabem traduzir o que o técnico pediu, o que acontece em determinado momento.

Para ela, difícil na profissão é a estabilidade, a longevidade:
— Isso a gente só consegue com anos e anos de trabalho e dedicação. São muitas horas numa ilha de edição, muitos feriados longe da família, muitos aniversários na redação, muita chuva na rua, muito calor na arena e por aí vai.

Marluci Martins, do Dia, é defensora do diploma de Jornalismo e afirma que é preciso se preparar:
— Gosto de ver ex-jogadores ou ex-árbitros comentando jogos, mas o candidato ao posto de jornalista deve ter alguns conhecimentos básicos. O Robson Caetano, por exemplo, fez faculdade de Jornalismo, assim como a Glenda Kozlowski. Cito-os porque os entrevistei inúmeras vezes quando eram atletas de alto nível.

Heleni Felippe, do Estadão, é firme em sua opinião:
— O conhecimento em si no esporte não significa que o atleta tenha outras habilidades, como ser sucinto, saber falar ao vivo, ter bom português, desenvoltura etc. Para escrever também é preciso habilidades específicas, que um atleta pode ou não ter.

Carla, da Rádio Globo-SP

Carla Matera, que faz rádio, também é incisiva:
— Em determinados eventos, vale um atleta participar de uma transmissão, até mesmo para falar de suas experiências, mas não como profissional de comunicação.

Amanda Romanelli, do Estadão, considera importante a participação de atletas como comentaristas nas Olimpíadas, para deixar o público mais perto das regras de certos esportes:
— Também é interessante porque às vezes permite um resgate histórico de campanhas brasileiras em competições, por meio de testemunhais. O trabalho jornalístico, no entanto, vai além disso.

Deborah Lannes, do JS, concorda:
— Atleta pode ter grande conhecimento, vivência, o que contribui, mas não tem

Glenda, do JT

necessariamente visão jornalística. Nada impede, porém, que um atleta faça curso de Jornalismo e participe de coberturas em competições, o que muitos já fazem, e muito bem.

Glenda Carqueijo, do JT, vê mais aspectos positivos que negativos na participação de atletas em coberturas esportivas:
— Quando se domina um assunto, fica mais fácil falar dele, especialmente em esportes mais complexos, como a ginástica artística, que requer um olhar mais técnico para entender cada pontinho perdido em uma acrobacia ou simplesmente para dizer se a atleta está indo bem ou não na apresentação.